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junho 10, 2023

Drogas na Alemanha Nazi

“Blitzed: Drugs in Nazi Germany” (2015) chamou-me a atenção por ser um assunto muito pouco discutido, apesar da poderosa indústria química alemã. No início do século XIX, a Merck criava a Morfina a partir do ópio e no final desse século a Bayer criava não só a Aspirina mas também a Heroína que iria promover "para as dores de cabeça” assim como na forma de xarope "para a tosse das crianças”, recomendando-a mesmo para as “cólicas dos bebés", tendo conseguido manter a droga legal na Alemanha até aos anos 1950. Ainda na Primeira Grande Guerra, o nobel da Química, Fritz Haber, dedicava-se ao desenvolvimento de armas químicas, ganhando o rótulo de "pai da guerra química", acabando por impactar fortemente a Segunda Grande Guerra, uma vez que os processos químicos por si criados viriam a dar origem ao Zyklon B, o veneno que seria aspergido pelos chuveiros das câmaras de gás de Auschwitz. 

maio 27, 2023

Alexander von Humboldt [1769 - 1859]

Começo por dizer que se conhecia o nome Humboldt era apenas porque ao longo da minha vida o tenho encontrado um pouco por todo o lado — de cidades a rios, serras, baías, cascatas, uma região na Lua, mais de 300 plantas e mais de 100 animais carregam ainda hoje o seu nome. Mas não fazia grande ideia sobre quem era ou o porquê dessa sua quase omnipresença, em sintonia com a grande maioria da sociedade no século XXI, apesar de em 14 de setembro 1869, na marca dos 100 anos do nascimento de Alexander von Humboldt, se terem realizado festejos por toda a Europa, Américas, África e Austrália. Houve discursos, paradas e procissões em seu nome de Melbourne a Buenos Aires, de Moscovo a Alexandria, com milhares de pessoas nas ruas de São Francisco a Nova Iorque a acenar bandeiras e cartazes com a cara de Humboldt. 

maio 14, 2023

Sobre a Treta

"On Bullshit" (Sobre a Treta) é um pequeno livro de Harry G. Frankfurt de 2005 baseado num ensaio de 1986. Em 1986 o presidente dos EUA era Ronald Reagan, em 2005 era George W. Bush, eu ouvi falar do livro pela primeira vez em 2018, quando Trump era presidente dos EUA. Este enquadramento serve para perceber que o livro se foca no estudo da comunicação pública, nomeadamente de figuras com autoridade, apesar de não serem mencionadas no livro.

maio 13, 2023

Alucinando com Michel Foucault

"Hallucinating Foucault" (1996) é um romance de homenagem à obra de Michel Foucault. Patricia Duncker inventa um escritor de romances francês chamado Paul Michel e defini-o como espelho do verdadeiro Foucault. Se Foucault queria escrever romances e não escreveu, Paul Michel escreve-os e dedica-os a Foucault. Se Foucault teorizou sobre os processos de loucura e encarceramento, Paul Michel passa ele mesmo por esses processos. Se Foucault começou a sua carreira em Clermont Ferrand, é aí que Paul Michel termina a sua, internado depois de ter enlouquecido com a morte de Foucault. Se Foucault teorizou sobre a função do autor, Paul Michel centra-se na relevância do leitor. O livro leva-nos pela mão de um jovem doutorando que estuda a obra de Paul Michel e tenta compreender a pessoa por detrás da obra, apesar de defender que não lhe interessa a pessoa, o autor, apenas a obra. 

maio 12, 2023

As Visionárias: Rand, Weil, Beauvoir e Arendt

Wolfram Eilenberger, filósofo alemão, surgiu recentemente na cena internacional como divulgador de filosofia com o livro "O Tempo dos Mágicos" (2018), dedicado a Walter Benjamin, Martin Heidegger, Ernst Cassirer e Ludwig Wittgenstein, focado no friso temporal 1919-1929. Para dar continuidade à fórmula de sucesso, avançou para o intervalo 1933-1943, mas desta vez escolheu quatro mulheres — Ayn Rand, Simone Weil,  Simone de Beauvoir e Hannah Arendt —, intitulando o livro como "O Fogo da Liberdade" (2020). Eilenberger faz lembrar Sarah Bakewell, pelo modo como cruza bem história, filosofia e arte, contudo, falta-lhe alguma capacidade de síntese e visão holística, ficando-se por um tom mais jornalístico, de descrição cronológica de eventos. 

maio 10, 2023

O descarrilar de um romance filosófico

Vi o filme quando saiu, mas já não recordava nada além do Jeremy Irons passeando pelas ruas de Lisboa. Entretanto encontrei o livro numa lista de livros relacionados com romances filosóficos, e relendo a premissa fui a correr adquiri-lo. As primeiras 100 páginas foram ouro, com uma viagem por entre poesia, melancolia e existencialismo, do centro da Europa para a costa oeste portuguesa. Mas a partir do meio iniciou-se um declínio, atingindo o total estrambelhamento perto do final. Não se aproveita nada no fim da leitura. São demasiados erros narrativos a que se juntam ainda problemas morais que tornam os personagens insustentáveis. Ainda fui rever o filme, e nota-se que houve um esforço dos guionistas para resolver alguns problemas, mas não sendo o meio adequado ao tipo de premissa, fica também bastante aquém da experiência esperada.

abril 30, 2023

A Mente Sonora

Esperava mais de "Of Sound Mind: How Our Brain Constructs a Meaningful Sonic World" (2021), de um livro escrito por uma neurocientista especializada no processamento auditivo, Nina Kraus. Esperava aprofundar mais os modos como ouvimos, como damos sentido ao som e como este nos afeta. Kraus dá conta destes pontos, mas fá-lo de uma forma bastante superficial. O tom escolhido para a divulgação de ciência acaba sendo algo infatilizado, com demasiadas vezes a dar conta de suposições, repescando ideias do passado que entretanto a ciência demonstrou não estarem tão corretas como pensávamos. A ciência faz-se de constantes incertezas, mas no caso de temas tão amplamente estudados esperamos que se siga o conhecimento atual, e não aquele que tem mais alcance poético. Ainda assim, vale a leitura rápida pela primeira parte, já a segunda parte, fragmentada nos impactos em múltiplas áreas distintas, poderá interessar a quem trabalhe em cada uma dessas áreas.

abril 25, 2023

Humanamente Possível (2023)

Sarah Bakewell é reconhecida por dois belíssimos livros, um sobre Montaigne (2010) e outro sobre a corrente do Existencialismo (2016), neste seu último livro — "Humanly Possible: Seven Hundred Years of Humanist Freethinking, Inquiry, and Hope" (2023) — foi à procura da definição de Humanismo. Partindo do estilo que a caracteriza — a fusão fluída de biografia, arte, história e filosofia — atravessa 700 anos de ideias para dar conta das origens, evolução e relevância do Humanismo, um termo apenas cunhado no século XIX, e para o qual ainda hoje temos dificuldade em encontrar uma definição que sirva a todos. Para o efeito, convoca as vidas e ideias de Petrarca, Boccaccio, Da Vinci, Erasmus, Montaigne, Voltaire, Spinoza, David Hume, Thomas Paine, Frederick Douglass, Robert G. Ingersoll, John Stuart Mill, Harriet Taylor, Bertrand Russell, Zora Neale Hurston, Thomas Mann e Vasily Grossman.

abril 22, 2023

O Retrato do Casamento (2022)

O livro abre com a seguinte nota histórica: "Em 1560, com quinze anos, Lucrezia de' Medici, deixou Florença para iniciar a sua vida de casada com Alfonso II d'Este, duque de Ferrara. Menos de um ano depois estaria morta. A causa oficial de morte foi "febre pútrida", mas houve rumores de que teria sido assassinada pelo marido." E fecha com uma nota da autora, em que aprendo uma nova palavra "uxoricídio" (do latim uxor, esposa + cídio, matar; "assassínio da mulher pelo próprio cônjuge"), apresentada a propósito do rumor do uxoricídio da irmã de Lucrezia, Isabella em 1575, e ainda da cunhada Dianora, pelas mãos do irmão Pietro de' Medici, que tendo-o admitido nada lhe aconteceu.

abril 10, 2023

"Pachinko", emigração e humildade

"Pachinko" é maravilhoso pela forma como nos enreda na saga de uma família de emigrantes coreanos que migra para o Japão no início do século XX, levando-nos a experienciar os efeitos profundos dessa decisão sobre múltiplas gerações posteriores. É uma lição de História sobre o modo intolerável como o Japão tratou os seus vizinhos no século passado, com Min Jin Lee a dar conta do mais profundo racismo japonês, algo de que já aqui tinha dado conta na relação com os vizinhos chineses. "Pachinko" não é um grito ativista, como “The Rape of Nanking” (1997), é uma novela de ficção histórica, dá-nos a conhecer pessoas "reais" repletas de medos e desejos. Mas através da imensidão de personagens apresentadas consegue transportar-nos para cada uma das décadas desse século, consegue acima de tudo dar conta de um modo de estar que aparenta ser próprio da emigração coreana, mas que aproximo tremendamente da emigração portuguesa ocorrida nesse mesmo século para a Europa. É um modo baseado numa enorme humildade e simultaneamente numa vontade de trabalhar e aprender para oferecer às gerações seguintes mais do que aquilo a que tiveram acesso. Pessoas com muito pouco, mas dotadas de enorme resiliência, capazes de aguentar a humilhação, a infâmia, e ainda assim continuar a remar para que os seus, a sua família, possa encontrar um porto seguro. Quando chegamos ao fim da odisseia de Sunja, a protagonista, é impossível não sentir o peso das decisões que cada geração foi forjando, mas também do acaso que contribuiu para a transformação de cada uma das personagens, ecoando um sentimento de orgânico, de vida vivida, plena de significado. 

Seria fácil para Lee usar e abusar da tragédia, algo que abunda, mas nunca o faz. Por vezes, somos surpreendidos com um murro no estômago, mas Lee desvia dali o foco. Cabe ao leitor dar significado ao que está a ler, e não ser subjugado pelo sentimentalismo imediato. Por isso, não se esperem acusações gratuitas contra o Japão e japoneses, mas elas estão lá. Ler, compreender e interpretar fará com que sintam um nó bem fundo com todo o normativo xenófobo e divisor de classes que contribui para a destruição interior de cada ser humano. Ainda assim, os personagens dotados de uma resiliência avassaladora, inspiram-nos e continuam a fazer-nos acreditar nesse humano, mesmo quando a alguns essa resiliência falta... Mas é de realismo que Lee nos fala, algo que se torna claro quando chegamos aos agradecimentos finais e percebemos que o livro esteve quase 30 anos em desenvolvimento, tendo sido suportado não apenas por pesquisa literária, mas também por muito trabalho de campo.

abril 07, 2023

Guerra do Peloponeso, 431 a.C. a 404 a.C.

"História da Guerra do Peloponeso" foi escrito no século V a.C por Tucídides, sendo por isso mesmo um registo histórico de incomensurável valor, mas é também um marco da História enquanto disciplina académica. Neste último sentido, fez-me compreender que apesar de na última década me ter dedicado a ler mais e mais História, na verdade continuo longe da mesma, em termos académicos. Interessam-me as histórias sobre a História, não me interessam tanto os relatos descritivos, mesmo que mais fidedignos ou verdadeiros. Não me move chegar “à verdade”, move-me mais a ideia de que aquilo que se conta é baseado numa realidade. Desde logo, porque mesmo num livro tão descritivo, tão emocionalmente neutro e objetivo, é possível denotar viés a ponto de hoje alguns historiadores o classificarem mesmo como apenas literatura. Claro que falo de um ponto de vista externo, não leio estas obras para documentar a minha investigação, se assim fosse falaria de modo distinto. Como leio apenas pelo prazer de ler, esse é maior quando a História usa o melhor da arte narrativa para chegar a nós, mesmo colocando em causa parte da sua factualidade que aceito bem quando é feito por via da especulação, mas não tanto quando pela mera invenção.

abril 02, 2023

Os Europeus e a cultura cosmopolita do século XIX

A experiência de "The Europeans" (2019) de Orlando Figes funciona como uma grande viagem cultural através de toda a Europa — da Rússia a Portugal — ao longo de todo o século XIX. Figes escolheu para companheiros de viagem: o ícone literário Ivan Turgenev, a renomeada cantora de ópera Pauline Viardot, e o seu marido Louis Viardot, crítico e historiador de arte. Três inseparáveis companheiros que percorreram toda a Europa durante as suas vidas, pondo em contacto as mais diversas culturas, dando assim suporte ao subtítulo: "Three Lives and the Making of a Cosmopolitan Culture". O registo apresenta uma simbiose perfeita entre a exposição de factos e o contar de histórias que poderiam quase ser ficcionais, quase checkovianas, mantendo-nos enredados ao longo das mais de 500 páginas. Figes faz-nos sentir nostalgia daquilo que não vivemos, nomeadamente quando dá conta do nascimento de correntes, de movimentos e renovados interesses da sociedade pela cultura e arte florescentes num tão diverso continente suportadas pela evolução tecnológica desse século, em particular os caminhos de ferro, o telégrafo, a imprensa, a fotografia, assim como a criação do copyright e do canône literário.

Lessico famigliare (1963)

Depois de uma certa desilusão com Elsa Morante, com "A História" (1974), agora foi a vez de Natalia Ginzburg, com "Léxico Familiar" (1963). Ambas autoras italianas recuperadas no início deste século XXI por força do êxito estrondoso de Elena Ferrante. Morante e Ginzburg são contemporâneas, viveram tempos muito diferentes dos de hoje, por isso dificilmente podem ser colocadas ao lado de Ferrante, mas se não bastasse, estão elas próprias nas antípodas uma da outra. Se Morante usa e abusa do sentimentalismo, Ginzburg usa e abusa do desapegamento. No entanto, a comparação com Ferrante é inevitável e resultado, para ambas, é pouco favorável.

abril 01, 2023

um problema de comunicação

Os livros "The Chaos Machine: The Inside Story of How Social Media Rewired Our Minds and Our World" (2022) e "Otherlands: A Journey Through Earth's Extinct Worlds" (2022) não têm qualquer relação entre si, mas se os juntei neste texto foi porque de formas opostas ambos quebraram uma regra básica da comunicação humana, a definição da audência para quem queriam falar. O primeiro pretende falar sobre um fenómeno novo, mas apresenta informação que qualquer pessoa minimamente interessada no tema já possui. O segundo pretende apresentar uma nova perspectiva sobre uma realidade distante da atualidade, mas não contextualiza a realidade distante, deixando o assunto à mercê apenas de quem estuda o tema.

março 26, 2023

O não-consciente de Cormac McCarthy

"Stella Maris" é o segundo volume da obra que Cormac McCarthy lançou em 2022, 16 anos depois do seu último livro, agora com 89 anos. Se no primeiro volume, "O Passageiro", nos introduziu a um mundo denso e complexo de ações humanas para as quais não parecia possuir uma ideia concreta a transmitir, "Stella Maris" é todo o contrário, quase vazio de ação, completamente focado naquilo que tem para dizer, ainda que o faça por meio de alguém em quem não podemos confiar totalmente, pelo diagnóstico de loucura a que está votada. É uma viagem científica realizada por meio de um vertiginoso diálogo entre um terapeuta e uma paciente, 20 anos, que desistiu de fazer o seu doutoramento em matemática para se auto-internar no hospital pisquiátrico Stella Maris.

março 19, 2023

"Eu, Cláudio" (1934)

"Eu, Cláudio" é de 1934, por isso se tiverem interesse em começar a ler sobre Roma Antiga e os seus Imperadores, podem começar por aqui. Na verdade, muito do que aqui está encontra-se espalhado por uma míriade de objetos culturais que criaram o imaginário do século XX sobre aquela época — desde as quezílias familiares aos assassinatos de imperadores, passando pela total insanidade de Calígula. Tendo lido muitas outras obras antes, soube-me a pouco, e por isso recomendo ainda mais que comecem por aqui. Ainda que se sinta alguma superficialidade, vale a pena a leitura pela acessibilidade da visão geral daqueles tempos, mesmo que o tom esteja demasiado impregnado pelo século XX. Por outro lado, enquanto romance deixa a desejar, já que investe muito mais na descrição do que na narração ou dramatização. Se quiserem algo mais imersivo, aconselho antes “Augustus” (1972) de John Williams, e para algo mais psicológico, "Memórias de Adriano" (1951). Mas se quiserem mergulhar diretamente na mente de um imperador então  nada melhor do que ler "Meditações" (180) de Marcus Aurelius.

março 05, 2023

Re-interpretando a História, segundo as nossas agendas

Não vou tecer elogios ao livro, "The Dawn of Everything: A New History of Humanity" (2021) porque tenta claramente ser mais do que aquilo que é, apesar de inexplicavelmente ter uma enorme quantidade de pessoas a tecer louvores, nomeadamente a crítica jornalística e autores de best-sellers. Mas também por força desse enorme suporte, não sinto qualquer obrigação de inibir a minha crítica. Até porque, todo o livro está escrito como um ataque direto a outros autores, nomeadamente três contemporâneos — Pinker, Harari e Diamond — e dois clássicos — Rousseau e Hobbes. Mas vai além quando nem sequer pára para criticar, mas simplesmente decide ignorar totalmente a ciência, começando por Darwin e a biologia, passando por toda a Física, e mais grave ainda, tendo em conta que se fala de comportamento humano, toda a Psicologia. Os autores, sentados no seu pedestal antropológico, julgam-se no direito de pescar casos isolados, feitos de variáveis não conforme, e tecer sobre estes interpretações para demonstrar aquilo que a sua agenda exige. Ignora-se na generalidade metodologias científicas de carácter empirista, baseando grande parte das deduções em ideias de autores que nunca passaram pelo crivo da revisão por pares. Mas para repescar esses autores existe sempre uma condição especial, suportada na ideia de que foram preteridos pelas grandes conspirações que conspurcaram a ciência iluminista — o colonialismo e o androcentrismo.

"Quixotically, Graeber and Wengrow expect readers to give serious consideration to a perspective on human origins that does not acknowledge evolutionary theory at all." -- Knight, 2022

março 04, 2023

O Mago do Kremlin (2022)

“O Mago do Kremlin”, de Giuliano da Empoli, é um romance histórico-político centrado num dos mais relevantes focos da cena política global atual que domina não só as atenções políticas mas as de toda a sociedade, e que é o esforço de manutenção do Imperialismo Russo. Empoli é professor de Ciência Política na Sciences-Po em Paris, é presença assídua nos média italianos e franceses como comentador de política, tendo escrito mais de uma dezena de livros de ensaio, sendo este o seu primeiro romance. O livro ganhou Grande Prémio de Ficção da Academia Francesa 2022 e foi finalista do prémio Goncourt 2022. Esta breve apresentação será suficiente para dar conta da relevância do livro, mas não quero deixar de dizer que está muito bem escrito; e que a ficção apresenta um enorme nível de verossimilhança.

fevereiro 19, 2023

O coração de Javier Marías

Em "Coração tão Branco" descobri uma alma gémea de Proust. Não só pela beleza da escrita, mas também pelo modo como discorre sobre a realidade, nos a dá a ver, e nos enreda com textos que vão criando imaginários completos dentro de nós.

Ainda assim, a meio do livro comecei a sentir algum cansaço, nomeadamente porque quanto mais avançava mais me parecia impossível que Marías nos conseguisse surpreender no desenlace, mas tenho de dar a mão à palmatória e aceitar que o conseguiu.

Ao chegar ao final, ao desvelar da razão que levou Teresa, acabada de regressar de lua-de-mel, na casa de banho da casa dos pais, a desabotoar a blusa e a dar um um tiro no coração, fiquei estacado, boquiaberto, refletindo... viajei até essa casa de banho que abre o livro, pairei por todos os momentos altos e tirei o chapéu a Javier Marías. 

A Psicologia do Dinheiro

O tema central do livro "The Psychology of Money" (2020) é bastante importante, diria mesmo central para todos aqueles que trabalham, já que se trabalha essencialmente para ganhar dinheiro. Nesse sentido, é importante tentar perceber como nos relacionamos com o dinheiro. Apesar disso, e do livro entregar algumas ideias interessantes, na generalidade é algo simplista e pouco aprofundado. Mas talvez a ideia tenha sido essa, simplificar para chegar ao máximo número de pessoas, com o objetivo de fornecer uma literacia do dinheiro para todos. Por isso, se critico no geral, considero que realiza um bom trabalho de divulgação e discussão de ideias que muitas vezes são evitadas na praça pública.