agosto 31, 2023
A solidão do Ser
agosto 13, 2023
A Era das Intuições
julho 22, 2023
No interior da mente de uma juíza
junho 18, 2023
Sendo Eu, uma ciência da Consciência
Anil Seth é professor de neurociências computacionais, com uma formação de base em ciências naturais e um doutoramento em ciências da computação. O seu trabalho no domínio das ciências da consciência tornou-se uma referência nos últimos anos, sendo não só altamente citado pela academia, como seguido pelos média tradicionais. Para esse reconhecimento terá contribuído a TED que realizou em 2017, “Your brain hallucinates your conscious reality”, que conta com 14 milhões de visualizações, e pode ser vista como uma síntese de tudo aquilo que nos apresenta neste livro “Being You: A New Science of Consciousness” (2021).
maio 20, 2023
Esquizofrenia em defesa da IA
A defesa da IA geralmente começa por identificar tecnologias anteriores que surgiram e que foram também atacadas, mas que demonstraram ser depois bem assimiladas pela sociedade. Fala-se da electricidade ou da calculadora, assim como se fala da automação de fábricas ou da internet. Apontam-se os ganhos, nada se diz sobre os impactos negativos, menos ainda sobre o enorme trabalho que foi necessário para criar regulação que sustentasse essa integração societal. Bastaria dar o exemplo do RGPD para percebermos que a internet não nos trouxe só maravilhas, e que sem regulação estaríamos bem mal. Esta mesma defesa, diz depois que a IA não está aqui para substituir o humano, é apenas um complemento. E vai mais longe, dizendo que quem não quer ficar para trás tem de entrar no comboio, usando uma expressão que já se tornou mantra no domínio: uma IA não vai substituir uma pessoa, mas uma pessoa com IA vai substituir uma sem IA. Analisemos ambos os argumentos mais em detalhe, nomeadamente o impacto das tecnologias mais recentes nas funções cognitivas.
abril 30, 2023
A Mente Sonora
Esperava mais de "Of Sound Mind: How Our Brain Constructs a Meaningful Sonic World" (2021), de um livro escrito por uma neurocientista especializada no processamento auditivo, Nina Kraus. Esperava aprofundar mais os modos como ouvimos, como damos sentido ao som e como este nos afeta. Kraus dá conta destes pontos, mas fá-lo de uma forma bastante superficial. O tom escolhido para a divulgação de ciência acaba sendo algo infatilizado, com demasiadas vezes a dar conta de suposições, repescando ideias do passado que entretanto a ciência demonstrou não estarem tão corretas como pensávamos. A ciência faz-se de constantes incertezas, mas no caso de temas tão amplamente estudados esperamos que se siga o conhecimento atual, e não aquele que tem mais alcance poético. Ainda assim, vale a leitura rápida pela primeira parte, já a segunda parte, fragmentada nos impactos em múltiplas áreas distintas, poderá interessar a quem trabalhe em cada uma dessas áreas.
março 26, 2023
O não-consciente de Cormac McCarthy
"Stella Maris" é o segundo volume da obra que Cormac McCarthy lançou em 2022, 16 anos depois do seu último livro, agora com 89 anos. Se no primeiro volume, "O Passageiro", nos introduziu a um mundo denso e complexo de ações humanas para as quais não parecia possuir uma ideia concreta a transmitir, "Stella Maris" é todo o contrário, quase vazio de ação, completamente focado naquilo que tem para dizer, ainda que o faça por meio de alguém em quem não podemos confiar totalmente, pelo diagnóstico de loucura a que está votada. É uma viagem científica realizada por meio de um vertiginoso diálogo entre um terapeuta e uma paciente, 20 anos, que desistiu de fazer o seu doutoramento em matemática para se auto-internar no hospital pisquiátrico Stella Maris.
fevereiro 19, 2023
A Psicologia do Dinheiro
O tema central do livro "The Psychology of Money" (2020) é bastante importante, diria mesmo central para todos aqueles que trabalham, já que se trabalha essencialmente para ganhar dinheiro. Nesse sentido, é importante tentar perceber como nos relacionamos com o dinheiro. Apesar disso, e do livro entregar algumas ideias interessantes, na generalidade é algo simplista e pouco aprofundado. Mas talvez a ideia tenha sido essa, simplificar para chegar ao máximo número de pessoas, com o objetivo de fornecer uma literacia do dinheiro para todos. Por isso, se critico no geral, considero que realiza um bom trabalho de divulgação e discussão de ideias que muitas vezes são evitadas na praça pública.
janeiro 07, 2023
Como Não Fazer Nada
Jenny Odell é uma artista e professora de design digital na Universidade de Stanford, e o seu livro "How to Do Nothing: Resisting the Attention Economy" de 2019 tornou-se um best-seller nos EUA, ou como se diz na gíria da internet, tornou-se viral. A razão prende-se essencialmente com o argumento que discute: como lidar com um mundo em alta-rodagem em que somos continuamente monitorizados e se espera que atinjamos mais e mais resultados. A discussão realiza-se num plano próximo, em que todos aqueles que trabalham no mundo dos serviços e usam redes sociais no seu dia-a-dia facilmente se reconhecerão, mas enriquece essa discussão com teorização da psicologia e fenomenologia, assim como com a sua própria experiência. Odell nasceu em Cupertino na California, a pequena cidade que alberga a sede "espacial" da Apple, considerada um dos corações de Silicon Valley, tendo crescido no meio da tecnologia procurou conciliar a mesma com os seus estudos em artes.
dezembro 26, 2022
A Mente e a Lua
Daniel Bergner realiza serviço público com este livro, “The Mind and the Moon” (2022), ao dar conta do modo como a medicina lida com a doença mental no século XXI. Bergner começa por relatar o horror de um passado não muito distante, dos primeiros hospícios às lobotomias de Egas Moniz, evidenciando que se muito mudou, mudou mais ainda com a secundarização de Freud e a atribuição total de primazia ao poder da química para alterar a biologia. Podemos pensar que tudo foi sendo feito em nome da evidência científica, os problemas começam quando essa não é tão evidente como a indústria farmaceutica quer fazer crer. Os problemas acontecem quando a evidência funciona apenas para uma parte da população, enquanto na outra não vai além de placebo. Os problemas acontecem quando parecendo que funciona acaba por ditar uma qualidade de vida pior do que aquela que existia na sua ausência. Senti por vezes algum receio em continuar a leitura por, em partes, o discurso roçar a teoria da conspiração. Mas, o facto de Bergner ter vários livros publicados, escrever para algumas revistas de referência internacional, e acima de tudo estar a dar conta, em parte, de memórias vividas ao lado de um irmão que passou os últimos 40 anos a lutar com a doença, faz com que nos disponhamos a continuar a ler. Bergner questiona tudo e todos sobre os tratamentos, quase exclusivamente assentes no químico, que oferecemos à doença mental, terminando apenas com uma certeza, a de que continuamos a saber muito pouco sobre o funcionamento da mente.
outubro 29, 2022
O foco desfocado
Cheguei a "Stolen Focus: Why You Can't Pay Attention- and How to Think Deeply Again" (2022) por meio de um excerto do mesmo que discutia as questões do multitasking, tendo logo ganho o meu interesse pelos resultados dos estudos que citava. Quando procurei mais pelo autor, percebi que vinha atrelado a acusações de plágio e consequente despedimento de um jornal britânico. Acreditando que as pessoas têm direito a reabilitação, decidi avançar para a leitura do livro, ainda que munido de algumas cautelas extra. A experiência final não foi das melhores, mas ainda me interrogo se foi por causa do seu passado, ou pela sua incapacidade de manter o foco, exatamente aquilo que no título diz pretender explicar a quem o lê.
setembro 17, 2022
Da psicologia de uma herança
O livro, "Herança" de Vigdis Hjorth, abre com um casal, nos seus 80, que resolve proceder às partilhas, deixando as duas casas de verão às duas filhas mais novas, criando assim a impressão clara de favoritismo nos dois filhos mais velhos. A partir daqui, enquanto leitores, só queremos saber porquê, e isso mantém-nos agarrados a virar páginas. Mas se fosse só isto, seria apenas uma história interessante. O que temos é a narrativa em primeira-pessoa a partir da filha mais velha, que nos dá acesso ao seu mundo interior, e como a partir desse concebe o tear de relações e implicações familiares para construir sentido desta decisão.
setembro 07, 2022
Uma Internet na sua Cabeça
Daniel Graham é professor de Psicologia, especializado no estudo do cérebro humano e mamífero. Neste livro, "An Internet in Your Head: A New Paradigm for How the Brain Works" (2021), apresenta uma nova metáfora para a compreendermos o cérebro: e se este funcionasse como a internet? Graham propõe uma autêntica revolução na compreensão do funcionamento do nosso cérebro que até aqui se tem servido do computador como metáfora, deixando para trás a ideia do funcionamento cerebral como um processo de Computação, para passar a interpretar o mesmo como um processo de Comunicação. A ideia base passa por interpretar menos o cérebro como um processador central de informação, e mais como uma estrutura de interconexões entre secções especializadas, usando protocolos de roteamento partilhados. Ou seja, assumir o cérebro menos como um sistema de computação rígido, e mais como uma estrutura flexível e dinâmica, capaz de se adaptar e transformar ao que se lhe vai exigindo.
maio 21, 2022
Projeções neuronais
"Projections" (2021) é um livro de memórias de um psiquiatra americano que desenvolve investigação no domínio da engenharia neuronal. Karl Deisseroth foi um dos primeiros cientistas, no início dos anos 2000, a demonstrar a possibilidade de ativar/desativar neurónios por via da luz, um processo que entretanto ficou conhecido como optogenética. Por este meio é possível reajustar o funcionamento de grupos de neurónios que se encontrem a funcionar incorretamente, conseguindo provocar alterações comportamentais ao nível da procriação, memórias, adicção ou alimentação, sendo vista como uma das técnicas mais revolucionárias das neurociências. Ao longo do livro, Deisseroth fala do desespero e frustração sentidos na sua atividade clínica como as principais forças motrizes para o seu envolvimento com a bioengenharia que o conduziriam ao desenvolvimento da optogenética. Em 2021, Deisseroth foi premiado com o Lasker Award, o chamado nobel americano da medicina pelo seu contributo para a optogenética.
março 27, 2022
Expectativas e placebo
Começo a análise do novo livro de David Robson, "The Expectation Effect" (2022), citando a frase com que terminei a análise do seu anterior livro, "Intelligence Trap" (2019): "é um livro de divulgação científica, de leitura rápida e fluída, que apesar de alguns problemas abre caminhos para muitas abordagens distintas e permite rapidamente ficar a conhecer o que está em jogo na área, a partir do que qualquer um pode então iniciar o aprofundamento das questões."
janeiro 03, 2022
O conforto que suporta o Estoicismo
"A Enfermaria nº6" é um conto alargado, uma novela, de Chekhov que trata questões existenciais a partir da exemplificação prática. Chekhov coloca em cena dois personagens que dialogam, filosofam segundo Sócrates, e depois conduz esses personagens a passar pela prática das doutrinas defendidas. A novela funciona como um ataque ao estoicismo e à sua tendência para ignorar a emoção em função da razão, defendendo a racionalização como único caminho possível na vida:
dezembro 08, 2021
"Bewilderment" (2021) de Richard Powers
Uma leitura comovente sobre um mundo humanamente íntimo e abundante em ciência. A história acontece num futuro próximo raiado pelos problemas da atualidade — aquecimento global, pandemia, polarização política e ativismo —, visto a partir dos olhos de uma criança de 9 anos, diagnosticada distintamente em função de cada médico — com autismo, OCD ou ADHD —, que perdeu recentemente a mãe e tem de enfrentar o mundo tendo como único amigo o pai que é astrobiólogo e se dedica à modelação de simulações de possíveis formas de vida em exoplanetas. Um dos melhores livros de 2021.
novembro 20, 2021
Flores para Algernon
"Flowers for Algernon" é um clássico consagrado da FC, escrito por Daniel Keyes em 1966, a partir de um conto seu escrito em 1959. As questões centrais são excelentes: tanto no domínio da medicina — cirurgias de otimização das funções cognitivas — para as quais ainda não temos respostas; como no domínio dos seus efeitos no campo psicologia social — o impacto do QI na relação dos indivíduos com a sociedade. Mas se as questões científicas são trabalhadas a um nível elevado, a narrativa fica bastante aquém, diga-se que seguindo a tradição de muita FC dos anos 1950. Por exemplo, apesar de entrarem vários outros personagens, nomeadamente pais e irmã, todos parecem estar ali meramente como adereços no suporte ao protagonista, tornando tudo menos real e menos humano. De qualquer forma, é um livro pequeno, que se lê muito rapidamente e que nos provoca a reflexão.
outubro 30, 2021
Nação de Dopamina (2021)
Anna Lembke é psiquiatra e diretora da Clínica de Medicina em Dependências da Universidade de Stanford. Uma especialista no vício em ópio, sobre o que escreveu um livro em 2016, "Drug Dealer, MD: How Doctors Were Duped, Patients Got Hooked, and Why It's So Hard to Stop". Neste seu novo livro, "Dopamine Nation: Finding Balance in the Age of Indulgence" (2021), fala-nos do vício em geral, mas dedica-se à discussão do que tem vindo a ser discutido como "vício comportamental", visto por vezes como menos relevante que o vício em substâncias, as chamadas drogas. A abordagem realizada começa pelo próprio título que dá conta de uma nova era que Anna Lembke designa por "idade da indulgência" e que tem conduzido a própria sociedade aceitar desvios comportamentais com vícios como "comida, notícias, jogos de azar, compras, jogos digitais, mensagens de texto, sexting, facebooking, instagramming, youtubing, tweeting" como algo natural. A sua abordagem não é meramente crítica, mas construtiva, procurando essencialmente contribuir para a tomada de consciência do problema, expondo-se a si mesma, e desse modo, ainda que paradoxalmente, tornando a própria leitura do livro quase compulsiva!
outubro 17, 2021
Catalisadores de mudança comportamental
"The Catalyst: How to Change Anyone's Mind" (2020) é o segundo livro de Jonah Berger que leio, longe de ser tão bom como o primeiro — “Contagious: Why Things Catch On” (análise VI) — não deixa de ser imensamente interessante. O livro é pequeno e apresenta um modelo de intervenção persuasiva, por meio do acrónimo REDUCE que resume 5 princípios — "Reactance - Endowment - Distance - Uncertainty - Corroborating Evidence "— que são discutidos, um por capítulo, e suportados com exemplos relevantes, ainda que por vezes acabem roçando o anedótico.