maio 04, 2023

Plágio no Design Português: roubar à descarada

Em novembro de 2022 o jornal Público iniciou a publicação de uma coleção de livros — designada "História do Design Gráfico em Portugal" — criada pelo professor José Bártolo, um crítico e curador de referência do design português. Em dezembro 2022, dois professores da Universidade do Porto deram o alerta para problemas graves de plágio. Em poucos dias o Público retirou a coleção de venda e passados mais alguns dias anunciava que, em vez de abandonar a coleção e pedir explicações ao autor, iria ser realizada uma segunda edição com a revisão de todos os "erros", leia-se plágios! Foi dito aos leitores que poderiam depois pedir a substituição dos primeiros livros. Não houve uma palavra do Público para com os autores plagiados. No final de fevereiro 2023, saiu a reedição, alegadamente revista, e desta vez com nomes do design português a assegurar, dizem, uma completa revisão por pares. Hoje, 4 de Maio, e para nossa total estupefacção, os mesmos professores da U. Porto publicaram os resultados da análise desta 2ª edição e não só uma boa parte dos plágios da 1ª edição continuam lá, como surgiram novos problemas! Irá o Público agora realizar uma 3ª edição e substituir todos os livros vendidos da 1ª e 2ª edições? 

Estamos a falar de de páginas inteiras roubadas* de livros e teses. São 9 livros, e todos, sem exceção, apresentam plágios, maiores ou menores. O capítulo IV do Volume 2 é praticamente decalcado da tese de doutoramento de Tiago Moita defendida em 2017. Como é que um autor, depois de lhe ter sido apontado o problema, mas mais do que isso, depois de a sociedade ter dado mostras de uma enorme complacência e de lhe ter oferecido uma rara segunda oportunidade, apresenta um trabalho destes? A única explicação possível é a ausência de competências para dar resposta ao trabalho com que se comprometeu.


Análise do Cap. IV do Volume 2 (imagens retiradas de Uma História Grave)

Se os colegas do Design manifestam vergonha pela área, eu manifesto a minha vergonha pela academia portuguesa.

Mas o jornal Público não fica melhor na fotografia. Apesar de avisado, e de lhe ter sido fornecido amplo material, limitou-se a fazer comunicados inconsequentes, demonstrando uma total inoperância e confirmando a anuência do plágio, como já tinha acontecido no caso Belanciano. O Público até pode dizer que não é o editor dos livros que apenas os distribui, mas para todos os efeitos distribui-os a partir da sua loja, publicita-os amplamente nas suas páginas, tendo-se associado à publicação da obra. Tem de saber o que está a vender, e sabe, se não soubesse não tinha apagado todo o rasto da primeira edição nas suas páginas online.

Para compreender toda a história, e analisar no detalhe a documentação produzida pela análise das duas edições, sugiro a leitura do blog Uma História Grave, da autoria de Mário Moura e Maria José Goulão, ambos professores da Faculdade de Belas Artes da Universidade do Porto.


Atualização, 5 maio 2023
A equipa do Uma História Grave acaba de publicar um post de balanço, no qual dá conta do número total de pessoas — entre professores, investigadores, jornalistas e escritores — com obra plagiada, entre a primeira e segunda versões: 54.


PLÁGIO - "Roubo literário, científico ou artístico. Cópia servil do trabalho de outrem, prática altamente reprovável e errada no ponto de vista ético; a citação da fonte de informação impõe-se, mormente no universo científico, técnico e jornalístico” (Faria & Pericão, 2008, p. 970).

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