agosto 31, 2023
A solidão do Ser
agosto 29, 2023
A escrita de Sara Mesa
"Subitamente, Sós" de Isabelle Autissier
agosto 27, 2023
"Sobrevivente do Gulag Chinês", por Gulbahar Haitiwaji
Em 2019 choquei de frente com imagens provenientes de Xinjiang que mostravam centenas de prisioneiros a serem encaminhados para comboios para seguirem para campos de concentração chineses que relembram as imagens reconstruídas pelo cinema do que se passou em Dachau, Treblinka e outros lugares. O livro "Sobrevivente do Gulag Chinês" foi publicado em França em 2021, e apresenta o primeiro testemunho de uma sobrevivente desses campos chineses, em pleno século XXI.
Os uigures vivem na região autónoma do Xinjiang, uma região enorme do noroeste da China, que além de funcionar como corredor central da antiga "Rota da Seda" e da atual "Belt and Road Initiative" (que procura impor a agenda chinesa no mundo), é ainda uma região rica em petróleo.
agosto 25, 2023
"Filho Nativo" (1940) de Richard Wright
"Filho Nativo" (1940) é um clássico da literatura americana, um dos primeiros livros a colocar o dedo na ferida do racismo nos EUA. À altura, Richard Wright vivia sob a sedução do marxismo, que lhe serviria aqui para colocar em evidência a opressão dos valores identitários. Pouco depois haveria de abandonar a militância do comunismo por esta se recusar a sair da redoma restrita da luta de classes. Tudo isto é trabalhado segundo uma estética noir que não se coíbe de usar imagens de grande violência, a roçar o verdadeiro horror, trabalhada por uma trama repleta de surpresa capaz de envolver os mais diversos públicos. A mais recente adaptação ao cinema de 2019, por Rashid Johnson para a HBO, procura atualizar alguns dos tópicos em face da evolução da sociedade americana, mas sendo interessante diria que é menos conseguida, particularmente porque Wright impregna toda a sua escrita de uma raiva fervilhante que o filme é incapaz de atingir.
agosto 24, 2023
“Los Vencejos” de Fernando Aramburu
agosto 18, 2023
Histórias da Noite
Há algum tempo que não começava a ler um livro e a experiência não fluía tão perfeita, agarrando-me, e clamando por mim sempre que dele me desligava. A escrita de Mauvignier faz lembrar Proust no modo como estende as frases de modo lírico, mas simultaneamente causal, ativando o nosso desejo por querer saber mais, e assim não conseguir parar de ler. O tema é a narrativa clássica de crime e mistério do ataque, a meio da noite, a uma casa de família por um grupo de malfeitores. Mas a forma não segue o género, é antes literária em profundidade, com uma escrita elaborada e erudita que acaba por criar uma experiência de leitura muito particular.
agosto 16, 2023
" A Trilogia de Copenhaga" de Tove Ditlevsen
Tove Ditlevsen (1917-1976) foi uma das mais importantes escritoras da Dinamarca no século XX, tal como Sophia Andersen (1919-2004) foi em Portugal. Mas se Andersen tinha também raízes dinamarquesas, os estatutos sociais das suas famílias não poderiam ser mais opostos. Nascida numa família da classe operária, os pais de Ditlevsen estavam mais focados em empurrá-la para o primeiro que aparecesse disposto a casar e levá-la do que a educá-la. O seu principal legado são três pequenos livros de memórias romanceadas, escritas entre 1967–1971, só totalmente traduzidas para inglês em 2019 e publicadas num volume único pela Penguin, alcançando reconhecimento na imprensa internacional em 2020 e traduzidas para português em 2022 pelo João Reis. A sua escrita é lírica mas escorreita, centrada na compreensão psicológica de si através das suas atitudes, motivações e comportamentos.
agosto 13, 2023
A Era das Intuições
julho 22, 2023
No interior da mente de uma juíza
Biografia de Søren Kierkegaard
julho 16, 2023
Exalação, Ted Chiang
Neste segundo livro, "Exhalation" (2019), depois de “Stories of Your Life and Others” (2002), podemos voltar a perscrutar o brilho da mente de Ted Chiang no laborar de design fiction, ou seja, na criação de cenários credíveis de experimentação conceptual. Algumas das ideias estão centradas em problemas contemporâneos criados pelos média digitais, tornando as histórias uma espécie de variação do universo Black Mirror. Outras, estão fundamentadas em conceitos da ciência, explorando metáforas que nos fazem questionar o nosso corpo, a nossa mente e a nossa relação com as outras espécies. Estes dois temas juntam as melhores histórias do livro. Depois temos duas histórias cliché, uma de viagens no tempo e outra de multiversos, que eu tendo, nos dias de hoje, a considerar mais fantasia do que ficção científica. Na última, Chiang diverte-se a explorar como funcionaria uma ciência baseada no criacionismo.
julho 15, 2023
I Am, I Am, I Am
Humano. Feminino. Maternal. “Estou Viva, Estou Viva, Estou Viva”. Quarto livro de Maggie O’Farrell que li nos últimos 2 anos, o que evidencia o quanto me apaixonei pelo seu trabalho desde que li “Hamnet”. A sua escrita não é meramente bela, é dotada de uma capacidade descritiva particular pelo modo como produz parágrafos longamente fluídos descrevendo ações a partir dos seus efeitos psicológicos. Tendo a compará-la, ainda que cada um na sua particularidade, a Jonathan Franzen e Zadie Smith. O conteúdo do que cada um destes tende a expressar não podia ser mais distinto, nomeadamente O’Farrell não é comparável em erudição, mas o seu realismo junto à pele é bastante mais cortante. O modo é tão relevante a ponto de neste livro de memórias discordar várias vezes da sua definição do mundo, mas a intensidade honesta e humilde da forma usada apaga toda a distância que existe entre esse seu mundo e o meu.
julho 08, 2023
Their Eyes Were Watching God (1937)
"De Olhos Pousados em Deus" é uma obra de 1937, e a principal ficção de Zora Neale Hurston, uma autora hoje reconhecida pelo seu legado humanista. Formou-se pelas Universidades de Howard, Barnard e Columbia, onde realizou estudos graduados e pós-graduados em Antropologia, ao lado de Margaret Mead. Hurston tornou-se numa força cultural pelo modo como usava a etnografia para compreender a comunidade afro-americana e depois trasladava esse conhecimento para a sua produção criativa e ativismo cultural, transformando-se no rosto de vários movimentos, nomeadamente o Harlem Renaissance.
julho 02, 2023
Livros não terminados
julho 01, 2023
O Ponto Azul-Claro (1994) Carl Sagan
junho 24, 2023
Românticos de Jenna
junho 18, 2023
Sendo Eu, uma ciência da Consciência
Anil Seth é professor de neurociências computacionais, com uma formação de base em ciências naturais e um doutoramento em ciências da computação. O seu trabalho no domínio das ciências da consciência tornou-se uma referência nos últimos anos, sendo não só altamente citado pela academia, como seguido pelos média tradicionais. Para esse reconhecimento terá contribuído a TED que realizou em 2017, “Your brain hallucinates your conscious reality”, que conta com 14 milhões de visualizações, e pode ser vista como uma síntese de tudo aquilo que nos apresenta neste livro “Being You: A New Science of Consciousness” (2021).
“Internato” (2017/2023)
junho 11, 2023
A Floresta Sombria, Cixin Liu
Li o primeiro livro da trilogia "The Three-Body Problem", de Cixin Liu, em 2020 e disse que não leria o resto da série. Contudo, há dias parei na livraria a ler as primeiras páginas da recente edição portuguesa do volume 2 o que acabou por me reconquistar. Agora com as expectativas bastante mais baixas, não foi difícil gostar imenso de Cixin Liu, apesar de no revisitar da minha análise do primeiro volume tenha relembrado porque não me entusiasmou o primeiro livro. Assim, e como tantos outros leitores, acabei com a sensação de que este segundo volume supera o primeiro. Menos policial, mais existencial, mais humano. Ainda assim, Liu poderia deixar-se levar um pouco mais pelas questões que faz emergir das tramas que cria, ainda que isso fizesse perder algum público que procura ação, alimentaria mais um outro que se interessa pela especulação das hipóteses científicas.