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novembro 24, 2019

Como se vive sem reconhecer rostos?

Um pequeno, mas intenso, filme de animação põe em evidência um conjunto imensamente relevante de temas que vão do bullying e discriminação à tomada de consciência de patologias neurológicas como a prosopagnosia (não reconhecimento de rostos), passando pela importância da comunicação de ciência, da comunicação audiovisual e animação, assim como dos efeitos da arte na auto-estima. Tudo isto está contido nos 5 minutos da animação "Carlotta's Face" (2018), criada por Valentin Riedl, um neurocientista alemão com interesse em cinema, com a ajuda do animador Frédéric Schuld.
O filme é curto e simples, socorre-se essencialmente do relato na primeira-pessoa de alguém que padece da doença, centrado nos problemas experienciados ao longo da vida, com particular destaque para os tempos da escola. Contudo, a ilustração é soberba, sendo capaz de ilustrar por meio de diferentes metáforas o que sente alguém incapaz de reconhecer rostos, mesmo o seu próprio.
Tendo em conta a particularidade da doença, fica imenso por dizer, muito sobre o que podemos especular, surgindo para mim a maior questão de todas: como sente alguém empatia sem conseguir reconhecer rostos?



Filme acedido via Short.
Mais informação no site do filme.

março 05, 2013

Criatividade colaborativa contra o Bullying

To This Day (2013) é um dos mais impressionantes projectos criativos colaborativos que vi até hoje. Um filme com 7 minutos e 37 segundos foi criado a partir de dezenas de segmentos de 20 segundos, em 20 dias por cerca de 80 animadores espalhados pelo mundo. A mensagem é sobre o bullying, é forte e muito importante, mas o desafio criativo aqui alcançado dá todo um outro significado ao tema do filme.


Aliás o objectivo de criar um filme a partir de dezenas de pessoas foi exactamente o de demonstrar que o valor da colaboração, da compreensão e do diálogo é do mais importante que podemos conseguir obter numa comunidade e que o bullying é completamente desprovido de tudo isto. O filme funciona como uma espécie de prova demonstrativa do poder de trabalharmos em conjunto, independentemente das diferenças. Se podemos fazer uma obra com esta força estética, ainda que estejamos todos a utilizar linguagens diferentes, é porque não somos assim tão diferentes, e é porque podemos em conjunto fazer mais e melhor.

Porque é isso que o filme faz quando mistura o trabalho de mais de 80 animadores e motion designers provenientes de diferentes culturas e línguas, e que utilizam neste trabalho diferentes linguagens fílmicas. Temos na animação tradicional desde o simples desenho-a-desenho feito numa enorme variedade de técnicas (lápis, carvão, aguarela, óleo, etc.), à animação em rotoscopia, ou ainda à mistura com imagem real; no stop-motion temos da plasticina ao cartão, das marionetes às colagens de papel; no computador do 2d ao 3d. Mas não são apenas as técnicas, as estéticas espelham bem todas essas diferenças, desde estilos alegres cheio de cores e muito fluídos, a cenários pesados a preto e branco e muito sorumbáticos; temos desde o traço desarticulado infantil ao traço mais geométrico científico; temos desde a perfeição da técnica à subversão da aplicação dessa mesma técnica; desde a mais pura arte de ilustração, autêntica no traço à mão, ao mais puro movimento de motion graphics criado por software. Findo o filme é inacreditável a quantidade de técnicas, fico com a ideia que foi pedido assim mesmo, que cada um utilizasse uma técnica distinta. Mas não sei se assim foi, só sei que o fizeram e funcionou. Só sei que vai contra toda a teoria da criação de coerência visual cinematográfica, e ainda assim funcionou belissimamente bem. O projecto foi lançado e depois montado pela Giant Ant no Canadá.

Mas a grande razão porque funciona tão bem, tem um nome e chama-se Shane Koyczan, o autor do poema, To This Day, que o declamou com toda uma veemência, entusiasmo e arrebatamento capaz de nos tocar cá dentro. Associado ao poema temos a belíssima faixa sonora criada pelos The Short Story Long, que trabalham normalmente com Shane Koyczan, que arrasta e encorpa o poder da declamação, através de coros, violinos e pianos. O som, da declamação aos violinos, é o mestre de toda a coesão estética neste filme. Se os estilos diferem brutalmente na imagem, no som agrupam-se e dão forma ao todo. E nós enquanto espectadores só queremos ouvir, saber, e compreender o que esta voz tem para nos dizer, para nos contar. Ficam os links para o poema escrito completo e para o audio do poema declamado.




Sobre os objectivos, a mensagem aqui exposta é conhecida por todos, porque todos passaram pela escola, e todos pelo menos uma vez na sua vida sentiram a crueldade do próximo, não é por acaso que o filme em apenas 10 dias conseguiu mais de 6 milhões de visualizações. Digo apenas que para se perceber o Bullying em maior profundidade, temos de perceber que ele não aparece do nada, não é sequer uma variável cultural, é antes uma variável biologicamente inscrita em cada um de nós. Porque o Bullying surge do conflito com a diferença, e nós não nascemos preparados para lidar com ela (para saber mais sobre isto vejam O Lado Negro da Moral). Desse modo, só existe uma forma de lutar contra o Bullying, é através da Educação, e em todas as frentes, na escola, nas associações desportivas ou culturais, em casa, em todo o lado e sempre. E este filme é um belíssimo ponto de partida para começar a Educar. Ficam as palavras de Koyczan.

“My experiences with violence in schools still echo throughout my life but standing to face the problem has helped me in immeasurable ways. I wrote 'To This Day', a spoken word poem, to further explore the profound and lasting impact that bullying can have on an individual. Schools and families are in desperate need of proper tools to confront this problem. We can give them a starting point… A message that will have a far reaching and long lasting effect in confronting bullying.”


To This Day (2013) de Shane Koyczan