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agosto 25, 2022

"Mar da Tranquilidade" (2022), Emily St. John Mandel

Gostei muito de "Station Eleven" (2014) por apresentar um olhar novo sobre as distopias, assente na calma e tranquilidade. Depois em "O Hotel de Vidro" (2020) Mandel, seguindo o mesmo tom, acaba por mudar para uma linha contemporânea e mais mundana, focando-se na crise económica de 2008, usando personagens que se socorrem do absurdo para gerar interrogações que ficam sem explicação. Neste terceiro livro, em que o título encaixa totalmente na sua forma de escrita, "Mar da Tranquilidade" (2022), já pouco parece existir de novo para nos oferecer. Temos um livro que sintetiza as distopias do primeiro, juntando-lhe as questões estranho-absurdas do segundo, alargando ambos os universos e unindo-os num só. É interessante, porque somos recompensados por ter lido os anteriores, mas ao mesmo tempo sentimos falta de mundo, sentimos que a autora esgotou aquilo que pesquisou sobre os temas e não consegue sair do ciclo em que se fechou.

julho 23, 2022

O Hotel de Vidro (2020)

“O Hotel de Vidro” surgiu depois do enorme sucesso conseguido com “Station Eleven (2015)”, transformado em série para a HBO. Neste sucessor, Emily St John Mandel continua a oferecer-nos excelência no contar de histórias, ligando personagens, lugares, tempos e eventos numa sucessão que nos agarra e faz virar página atrás de página. Se não existe relação entre as premissas de ambas as obras, o contar de histórias, no tom e ritmo, de emocionalidades suaves, distantes e pausadas aproxima-as tremendamente. Por sua vez, as premissas de ambos tratam temas fortes, no primeiro o pós-apocalipse, neste o colapso financeiro de 2008. Mandel cruza assim um sentimento na forma, do tipo cinema independente — de Hal Hartley ou Jim Jarmusch —, com premissas intensas tipo hollywoodescas, criando uma voz muito própria. Os seus livros não trazem grandes mensagens, não nos comovem em cada página, mas simultaneamente não nos abandonam nem deixam de nos fazer refletir, ficando connosco depois do final. Como se Mandel falasse a partir de uma posição que lhe permite dar a compreender os problemas, mas sentindo não deter qualquer poder para lhes responder. Este sentir surge como parte de uma certa melancolia que olha o mundo como um emaranhado de acontecimentos que se ligam e desligam pelo acaso, sem intenção nem desígnio.