agosto 02, 2013

Filmes de Julho 2013

Foi um mês anormal, com 49 filmes vistos, tendo duplicado a média de filmes que vejo normalmente num mês. Posso dizer que alguns, poucos, desta lista foram em certas partes vistos em fast play. A razão para ter visto tantos filmes, prende-se com os 15 dias que passei em Moçambique a dar aulas, sendo que ocupava grande parte do tempo em que não dava aulas a ver cinema. Sobre os filmes com nota máxima, não falarei aqui uma vez que escrevi sobre os mesmos quando os vi.

xxxxx The Turin Horse 2011 Bela Tarr Hungary [Análise]

xxxxx Enter the Void 2010 Gaspar Noé France [Análise]

xxxxx Tuesday After Christmas 2010 Radu Muntean Romania [Análise]

No caso dos filmes com quatro estrelas, o novo Danny Boyle fez-me recordar Trainspotting, com mais cor, mais efeitos, mas no essencial Danny Boyle no seu melhor. Enquanto o documentário sobre Bach nos deixa a pedir por mais, Marley traz-nos a sua figura de um modo genuíno e totalmente aberto, reflectindo o carácter do próprio biografado. Alguém que veio do nada e chegou ao topo, alguém que ajudou a fundar todo um novo género musical, que fez da música o seu meio de expressão e luta, e dessa forma colocou um país inteiro no mapa. Já Nobody Knows de Koreeda é um verdadeiro murro no estômago que nos perturba pela forma como faz transparecer tudo de forma tão credível. Consegui também ver o primeiro trabalho de Nolan, e confirmar que aquilo que temos visto no seu cinema, não é mero experimentalismo, mas é mesmo uma forma de estar no cinema.

xxxx Trance 2013 Danny Boyle USA

xxxx Bach: A Passionate Life 2013 John Eliot Gardiner UK

xxxx Magic Mike 2012 Steven Soderbergh USA

xxxx Dans la Maison 2012 François Ozon France

xxxx Frankenweenie 2012 Tim Burton USA

xxxx The Sessions 2012 Ben Lewin USA

xxxx Marley 2012 Kevin Macdonald USA

xxxx Une Vie Meilleure 2011 Cédric Kahn France

xxxx O Barão 2011 Edgar Pêra Portugal

xxxx Comic-Con Episode IV... 2011 Morgan Spurlock USA [Análise]

xxxx Pariah 2011 Dee Rees USA

xxxx London River 2009 Rachid Bouchareb UK

xxxx Caché 2005 Michael Haneke France

xxxx Nobody Knows 2004 Hirokazu Koreeda Japan

xxxx Following 1998 Christopher Nolan UK

Nas três estrelas aparece o aclamado O Som ao Redor que soou demasiado europeu para o meu gosto, mas acima de tudo peca pela fraca direcção de actores, embora compreenda que o tema é poderoso e bem trabalhado. Já uma surpresa total foi com The Expendables 2 que vai muito para além do mero "filme de pancada" realizando um belíssimo trabalho de retro-análise do cinema dos anos 1980. Como estava em Moçambique, consegui ver dois filmes originários daí, bastante interessantes, um deles, Terra Sonâmbula, baseado num conto homónimo de Mia Couto.

xxx Despicable Me 2  2013 Chris Renaud USA
xxx Snow White and the Huntsman 2012 Rupert Sanders USA

xxx La Vie d'une Autre 2012 Sylvie Testud Bélgica
xxx Spring Breakers 2012 Harmony Korine USA

xxx O Som ao Redor 2012 Kleber Mendonça Filho Brazil
xxx The Expendables 2 2012 Simon West USA
xxx Dark Horse 2011 Todd Solondz USA
xxx Hangover II 2011 Todd Phillips USA
xxx La Source des Femmes 2011 Radu Mihaileanu Belgium
xxx Hangover 2009 Todd Phillips USA

xxx Terra Sonâmbula 2007 Teresa Prata Mozambique
xxx Disengagement 2007 Amos Gitai France
xxx Modigliani 2004 Mick Davis France
xxx Haute Tension 2003 Alexandre Aja France

xxx O Gotejar da Luz 2002 Fernando Vendrell Mozambique
xxx Mary Reilly 1996 Stephen Frears USA
xxx Vacas 1992 Julio Medem Spain
xxx Days of Wine and Roses 1962 Blake Edwards USA

Nas duas estrelas começam aparecer alguns dos filmes que acabei por vezes de ter de fazer algum fast play, mas nem todos. Aqui temos Big Nothing e Souers Fâchées como duas comédias europeias interessantes. Por outro lado três filmes de grande orçamento - Die Hard 4, Ted, Total Recall - apresentam uma autêntica mão cheia de nada. Já Capitães da Areia foi uma pequena desilusão, com uma base tão rica, restou apenas uma boa imagem.

xx A Good Day to Die Hard 2013 John Moore USA
xx Ted 2012 Seth MacFarlane USA
xx Total Recall 2012 Len Wiseman USA
xx The Exchange 2011 Eran Kolirin Israel
xx Capitães da Areia 2011 Cecília Amado Brazil
xx Scialla! 2011 Francesco Bruni Italy
xx Seeking Justice 2011 Roger Donaldson USA
xx The Son of No One 2011 Dito Montiel USA
xx Room In Rome 2010 Julio Medem Spain
xx The Winning Season 2009 James C. Strouse USA
xx Big Nothing 2006 Jean-Baptiste Andrea UK
xx Les Soeurs Fâchées 2004 Alexandra Leclère France

Como uma estrela, existe pouco ou mesmo nada a dizer.

x That's My Boy 2012 Sean Anders USA
x Balas & Bolinhos - O Último Capítulo 2012 Luis Ismael Portugal


Para ver as notas dadas nos meses anteriores podem seguir a etiqueta FilmeMês. Para acompanhar as notas que vou dando ao longo do mês, ou ver a listagem de notas dos últimos anos podem visitar a minha folha de notas online.

agosto 01, 2013

Dicotomia em banda desenhada

Mused é uma série de banda desenhada criada por Kostas Kiriakis, que funciona segundo ele, como uma "espécie de diário" narrativo visual das ideias que o vão assombrando no dia-a-dia. Dessa série, fiquei bastante impressionado com a novela gráfica, A Day at the Park (2013), porque é profundamente filosófica, o que é algo pouco habitual de se ver tratado no formato de banda desenhada.

A Day at the Park (2013) de Kostas Kiriakis

A Day at the Park, lança-nos numa complexa dicotomia que pretende separar, e classificar as diferenças entre "Questões" e "Respostas". Quais são mais relevantes? e porquê? A discussão assume os contornos clássicos das dicotomias filosóficas, desde o querer distinguir entre corpo e alma, ao querer distinguir entre forma e conteúdo. É uma novela gráfica, que nos prende na discussão, nos "questiona" e obriga a reflectir, deixando-nos a pensar, muito para além da sua leitura.

Muito interessante também é depois de ler, ficar a conhecer como decorreu o processo criativo de construção da novela. Kiriakis diz-nos na sua página, que normalmente define um plano com um princípio, meio e fim para o que vai desenvolver, mas neste caso não foi assim. Aqui o processo foi profundamente exploratório, sem qualquer noção do que viria a suceder no quadro seguinte. Nas suas palavras, esta é uma forma de trabalhar com elevado risco, e bastante complexo a nível interno,
"Turns out the most difficult thing about that, is fighting that constant urge to get back in control. Which is another way of saying ‘I desperately need to get back in my comfort zone’. Playing it safe all the time though isn’t  a very expansive strategy. Especially in a creative process. So in a way it boils down to an exercise in courage really. Remembering that it’s ok to let go. Make mistakes. Play around. Go nuts. Have fun." [fonte]