O score de "Arrival" é brilhante tendo sido criado pelo não menos brilhante Jóhann Jóhannsson, e por isso mesmo teve direito a ser editado pela muito selecta Deutsche Grammophon. Contudo a sequência de início e fecho do filme, em que o twist se dá, e ligamos o círculo narrativo, é trabalhado com uma música, "On the Nature of Daylight", que não é de Jóhannsson, mas antes de um outro, também brilhante, compositor Max Richter.
Isto não seria surpreendente se o score tivesse sido feito por ambos os compositores, contudo como podemos ver na capa do álbum, surge apenas o nome de Jóhannsson. E se isso me incomoda, apesar de saber distinguir o Score da Banda Sonora, mais ainda me incomoda o facto da música de Richter escolhida, ter sido utilizada por várias vezes em diferentes filmes, entre os quais o "Shutter Island" (2010) de Martin Scorcese e "Stranger than Fiction" (2006) de Marc Forster, e estar editada no seu álbum "The Blue Notebooks" de 2004.
É o próprio Richter que diz que não se sentiu muito convencido em deixar usar a música em "Arrival", uma vez que já tinha sido usada em vários outros filmes, mas como ele diz também, foi o próprio Villeneuve que insistiu para o seu uso. É recorrente o uso de música de câmara de grandes autores clássicos no cinema, assim como música pop ou rock. Contudo o que questiono é, qual a razão disto quando se tem a trabalhar para o filme um compositor brilhante como Jóhannsson? E porquê ir buscar uma música que já está gasta, que os espectadores mais atentos associam a outras memórias, e memórias de outros filmes?
Max Richter, "On the Nature of Daylight", (2004)
Não posso deixar de demonstrar a minha surpresa e decepção. O final do filme perde, porque o evento que deveria ser completamente original, próprio e pertença única daquele momento cinematográfico marcante, mistura-se com todo um outro conjunto de memórias, perdendo muito do seu impacto estético, impedindo a criação de uma memória nova totalmente única.