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maio 23, 2021

"O Passageiro" de Boschwitz

Ulrich Alexander Boschwitz publicou "The Passenger", numa primeira versão, em Inglaterra em 1939, onde chegou depois de ter fugido da Alemanha via um périplo de países — Suécia, França, Luxemburgo e Bélgica. Boschwitz viu-se obrigado a fugir da Alemanha em 1935, foi depois expulso do Luxemburgo, e em Inglaterra, após o início da segunda guerra, foi internado como "estrangeiro inimigo" num campo na Isle of Man, e no verão deportado para a Austrália. No regresso a Inglaterra, em 1942, o barco em que vinha, com mais 300 pessoas, foi torpedeado pelos alemães, resultando na morte de todos os viajantes. O livro desapareceria com ele, nunca mais sendo republicado. Em 2018, uma versão foi encontrada pela sobrinha do autor e completamente revista por Peter Graff, seguindo um conjunto de revisões deixadas pelo autor em cartas enviadas à sua mãe, e publicado na Alemanha, com a versão em inglês a ser publicada, e imensamente aclamada [1, 2, 3], em Abril 2021. 

outubro 18, 2013

storytelling sem costuras

The Chaser (Chugyeogja), de Hong-jin Na, é um filme sul-coreano de 2008, brilhante em termos de storytelling. Para quem está habituado a consumir as recentes séries de TV (como "The Walking Dead", "Homeland", etc), está já muito habituado a todo este artesanato do storytelling, que por vezes faz lembrar a perfeição da arte da costura sem deixar marcas visíveis. Ainda assim aquilo que poderão ver em The Chaser vai para além do que estamos habituados a ver na ficção tradicional ocidental, porque é um trabalho que inova, conseguindo ser original.


The Chaser tem a capacidade de nos ligar emocionalmente a personagens que à partida não nos diriam muito. Aliás até meio do filme, parece que estamos meramente a ser empurrados pelo enredo, mas é a partir do meio do filme que os personagens se tornam familiares para nós, e em que a nossa empatia começa a funcionar. A uma certa altura, deixamos de seguir as tropelias do enredo, para nos fixar apenas no destino dos personagens. E aí The Chaser brilha, porque apresenta um domínio total da mestria de gestão das nossas expectativas. A história vai-se desvelando, mas passo a passo vamos sendo surpreendidos, pelo não usual, pelo não cliché, pelo não estereótipo. E quando aos poucos acreditamos que os esterótipos parecem começar a fazer sentido, em que conseguimos compor tudo na nossa cabeça, e que tudo se vai fechar como em mais um filme americano, é-nos tirado o tapete.

Hitchcock não teria feito melhor, estamos perante um magistral exercício de manipulação das audiências. A informação é-nos dada, ficamos a saber mais do que os nossos personagens, e isso joga contra nós, e contra as nossas emoções, como muito bem sabia Hitchcock.

O filme é violento, apesar disso não existem tiros, não existem explosões, mas o lado naturalista na representação da violência, confere-lhe um grau ainda mais duro pela crueza e proximidade à nossa realidade. As perseguições a pé e as lutas são bastante realistas, com um design de som capaz de nos faz sentir ali mesmo, ao pé daquelas pessoas, naqueles lugares. Esta capacidade de fazer parecer tudo tão natural, os polícias, as perseguições, os acidentes de carro, as dificuldades de encontrar a que casa pertence um molho de chaves, tornam tudo muito mais familiar, mais cognoscível para o espectador. Não existe aqui um distanciamento criado pelo espetáculo antes pelo contrário, isto acaba funcionando na criação de uma maior imersão no universo apresentado.