Foi a primeira vez que li Sándor Márai, confesso que me aproximei do mesmo pelas análises que fui lendo no Goodreads, mas também por surgir em várias listas relativas à crise existencial da meia-idade, fase em que de momento me encontro. O principal elemento que retiro desta leitura não é novo porque é um dos principais princípios do budismo, mas é no entanto sempre bom ir sendo relembrado deste: Tudo é Impermanente. Nada do que façamos ou nos façam, bom ou mau, dura para sempre.
A narrativa está escrita por forma a criar grande impacto no início da terceira parte, já que desvela teias entre personagens até então completamente insuspeitas. Contudo até lá chegar o livro arrasta-se, como se nos estivesse a preparar, a criar embalo para o embate, que consegue que aconteça, e acredito ser uma das principais razões porque o livro é tão recordado. Contudo quando analisado mais friamente percebemos que se trata de um twist de enredo para nos agarrar, e assente num dos mais velhos tópicos do romance. Ainda assim, o modo como vamos desvelando a informação sobre o que aconteceu, os comos e os porquês num tom muito peculiar, vamos nos deixando levar pelo embalo do autor.
Márai escreveu esta obra com 42 anos, e isso é por demais evidente no tratamento realizado do tema. Se à superfície a leitura que este faz de alguém com 70 e poucos anos, já a sentir a morte ao virar de esquina, parece perfeitamente coerente, só o é para alguém que ainda não chegou lá. Existe um claro desencanto com a vida, uma profunda melancolia, ao mesmo tempo que se tenta ir em frente e esquecer tudo o que provocou esse mal estar, mas sem sucesso. Ao contrário da mensagem que se quer passar, de que o tempo tudo cura, no caso, quatro décadas não chegaram para sarar feridas.
Para mim isto coaduna-se mais com um Márai de 42 anos a tentar projetar o seu futuro assente nos problemas do seu presente. É verdade que Márai se suicidou com 89 anos, mas nessa altura vivia noutro país, sozinho e era pobre, um cenário bastante diferente do do nosso General. O reencontro passado décadas, vidas completas passadas, dificilmente se agarraria tanto a um ponto único de viragem no passado, exatamente pelo que é dito perto do final: “O fogo purificador do tempo extraiu das recordações toda a ira.”.
Apesar disto, existe qualquer coisa de particular na escrita e tom de Márai, que nos agarra e puxa para dentro do seu mundo. O discurso melancólico, num ritmo lento, com momentos de muito boa prosa, consegue criar um espaço ficcional para onde vamos, amiúde, tendo vontade de fugir e de nos instalar.
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outubro 20, 2017
janeiro 13, 2014
o tempo e a nossa condição...
Raras vezes temos oportunidade para experienciar como o tempo passa ao nosso redor. Por vezes somos impelidos por um qualquer motivo - fotografia, música, ou data - a parar para reflectir sobre anos passados sobre a nossa própria vida. Mas raramente temos a oportunidade de constatar visualmente como o mundo à nossa volta se altera. Acompanhando-o parece seguir ao nosso ritmo, nós como este vamos mudando, mas acreditamos viver sempre no mesmo presente.
Tudo isto a propósito de dois pequenos filmes ingleses recém criados, um da BBC, "London to Brighton Train Journey: 1953 - 2013" outro de Simon Smith com imagens do BFI, "London in 1927 & 2013". O primero dá conta da passagem de 60 anos numa linha férrea popular de Inglaterra. O segundo mostra como centro de Londres se modificou em 86 anos.
Dois filmes que mais parecem Máquinas do Tempo. E o que nos dão a ver, a experienciar realmente?
Para mim, a coisa mais notável que podemos extrair destes filmes, é que o mundo não precisa de nós para continuar a mover-se. Fá-lo lentamente, à sua vontade, e não à nossa. Os edifícios e pontes ali estão como que a olhar para nós imóveis e inalterados, enquanto nós seres humanos vamos nascendo e morrendo. Cheios de fome de viver, ansiamos por fazer, queremos sempre mais e mais. O mundo está aí, e nós para aqui sem nos resignarmos continuamos a lutar todos os dias, acreditando que vamos mudar e transformar tudo aquilo que encontrarmos pela frente.
Em certa medida, estes filmes dão-me alguma paz, ajudam-me a conceber o mundo de um modo verdadeiramente mais tranquilo...
1927 - 2013
Tudo isto a propósito de dois pequenos filmes ingleses recém criados, um da BBC, "London to Brighton Train Journey: 1953 - 2013" outro de Simon Smith com imagens do BFI, "London in 1927 & 2013". O primero dá conta da passagem de 60 anos numa linha férrea popular de Inglaterra. O segundo mostra como centro de Londres se modificou em 86 anos.
"London to Brighton Train Journey: 1953 - 2013" (2013) da BBC
Dois filmes que mais parecem Máquinas do Tempo. E o que nos dão a ver, a experienciar realmente?
Para mim, a coisa mais notável que podemos extrair destes filmes, é que o mundo não precisa de nós para continuar a mover-se. Fá-lo lentamente, à sua vontade, e não à nossa. Os edifícios e pontes ali estão como que a olhar para nós imóveis e inalterados, enquanto nós seres humanos vamos nascendo e morrendo. Cheios de fome de viver, ansiamos por fazer, queremos sempre mais e mais. O mundo está aí, e nós para aqui sem nos resignarmos continuamos a lutar todos os dias, acreditando que vamos mudar e transformar tudo aquilo que encontrarmos pela frente.
Em certa medida, estes filmes dão-me alguma paz, ajudam-me a conceber o mundo de um modo verdadeiramente mais tranquilo...
"London in 1927 & 2013" (2013) de Simon Smtih
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