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janeiro 21, 2016

Performance de telas vivas

E se a Rapariga com Brinco de Pérola de Vermeer saísse do seu quadro para se encontrar com Van Gogh? Esta foi a premissa para a realização da instalação e performance “Double V: Van Gogh & Vermeer” por parte de um grupo de alunos do Instituto de Belas Artes da Universidade Libanesa, efetuada no âmbito de um festival de artes organizado pela Universidade.




O trabalho consistiu na criação de um espaço e colocação aí de dois atores, tudo pintado seguindo os princípios de cada uma das telas, por forma a criar uma performance ao vivo das representações dos quadros. Impressiona a qualidade da pintura dos espaços, mas mais ainda dos atores que apesar de se moverem mantêm a aura dos quadros, nomeadamente quando em determinadas posições face à câmara.

Estudantes da Universidade Libanesa: Zeinab Al Maaz, Shaza Abou Shakra, Tharwa Zeitoun, Aya Abu Hawash, Zeinab Ayash, Zainab Ayoub, Iffa Mseileb, Fatima Fneish, Mariam Kamaleddin e Mohmd Hussein Mistrah.

A obra tem uma enorme capacidade de criar estranheza e ao mesmo tempo deleite pela fruição do aspeto impressivo oriundo dos quadros apropriados conjugado com a animação do movimento vivo dos atores que se movem e nos olham. É impossível não nos fixarmos no filme, ver e rever e voltar a ver, e admirar-se com a forma como tudo se mantém tão próximo das telas originais. Todo o trabalho de construção de cenário, guarda-roupa, maquilhagem e claro pintura são absolutamente fascinantes, pelo detalhe e modo como nos levam sentir na presença dos originais.

Double V: Van Gogh & Vermeer”, Novembro 2015, Líbano

março 25, 2015

Os filmes de Tom Hanks com James Corden

O entretenimento americano é conhecido pela forma como procura surpreender os seus espectadores, e foi isso que mais uma vez aconteceu, com a estreia do novo apresentador, James Corden, para o Late Late Tonight Show da CBS, esta segunda-feira. James Corden apareceu em palco com Tom Hanks, e ao longo de 7 minutos protagonizaram, em conjunto, cenas de mais de duas dezenas de filmes interpretados por Tom Hanks. É feito num tom cómico, mas ainda assim permite-nos viajar no tempo, nomeadamente para quem viu praticamente todos aqueles filmes.




Foi uma boa viagem, mas partilho este video mais pelo que me impressionou o trabalho de Corden. Apesar de ser um revisitar para Hanks, Corden estava mais sincronizado e mais entusiasmado, é claro que o programa é seu, e era a sua estreia, o que lhe deve ter conferido adrenalina extra. Surpreendeu-me pela positiva, um entertainer mas especialmente, um actor a seguir nos próximos tempos.

maio 24, 2013

"Performance philosopher", o novo Carl Sagan

Jason Silva licenciou-se em Cinema e Filosofia na Universidade de Miami. Com essa formação de base resolveu criar algo que ainda ninguém tinha conseguido criar, pequenos filmes sobre conceitos filosóficos que ele denominou de "philosophical shots of espresso". Não são meras apresentações para uma câmara, mas obras audiovisuais, carregadas de som, imagens e conceitos, ao qual junta todo o seu poder de comunicador. A TED já o definiu como  “performance philosopher” enquanto o The Atlantic o define como uma espécie de "Timothy Leary of the Viral Video Age". Para mim, a magia comunicativa de Jason Silva aproxima-se de uma pessoa que todos conhecemos já no passado, Carl Sagan.


"We have a responsability to awe"

Jason Silva está neste momento a terminar as gravações da série BrainGames do National Geographic, mas é antes sobre um seu projecto mais pequeno, Shots of Awe,  desenhado para o TestTube, a rede de vídeos do Discovery Channel, que quero aqui falar. Saiu agora o primeiro episódio Awe que podem ver aqui abaixo, que em termos de audiovisual é totalmente inspirado no trabalho que nos tinha apresentado no TED Global 2012, Radical Openess.

O que temos aqui é o brilhantismo de alguém que domina na perfeição três áreas que raramente se movem juntas: audiovisual, performance e filosofia. É muito complexo integrar as três componentes, porque requer cada uma muito investimento, muito trabalho e muito tempo. Mas o que posso dizer é que no caso de Jason Silva, compensou. O que podemos experienciar neste seus pequenos "shots de filosofia" é indescritível. O poder de comunicação da sua voz e da sua linguagem não verbal é contagiante, os conceitos fluem através das imagens de arquivo, e encontram em nós sentidos altamente diversos e associativos. A música faz o resto, coordena o nosso ímpeto e deixa-nos colados ao ecrã.

Posso dizer que já vi Awe mais de 5 vezes, e continuo a sentir sensações novas, a ver detalhes novos, a imaginar ideias novas. Vejam, sintam, e preparem-se para passar a seguir a série e o trabalho de Jason Silva.

Awe (2013) de Jason Silva, primeiro episódio da série Shots of Awe

"Psychologist Nicholas Humphrey has proposed that our ability to awe was biologically selected for by evolution because it imbues our lives with sense of cosmic significance that has resulted in a species that works harder not just to survive but to flourish and thrive."

janeiro 24, 2013

Câmara Neuronal, emoção ampliada

Câmara Neuronal é uma performance neuro-audiovisual. A performance corporal, assim como a interpretação mental e sensorial do artista - Adolfo Luxúria Canibal - são transformadas e ampliadas por sinais audiovisuais em tempo real para o palco através de um trabalho de arte digital generativa criado por João Martinho Moura.



Com a duração de 30 45 minutos, o desempenho envolve um único actor no palco, com o seu corpo ligado ao sistema de áudio e vídeo. As conexões incluem 18 sensores no corpo: 16 eléctrodos na cabeça e dois no peito. O movimento do corpo também é capturado por uma câmara que analisa a profundidade 3d. Os sinais são obtidos em tempo real, analisados ​​e transformados em imagem e som. Um dos aspectos mais inovadores explorados neste projeto é a ligação estreita entre a narrativa e os aspectos emocionais do artista, conseguido através de um dispositivo de gravação neuro-fisiológica de sinal (EEG) em sincronização com a estética visual e sonora.


Este projecto resulta de uma colaboração entre o engageLab, a RUM, Miguel Pedro (música) e Adolfo Luxúria Canibal. As primeiras três apresentações do projecto em Maio de 2012 no âmbito da Capital da Cultura Guimarães 2012 esgotaram. Contudo este ano haverá uma nova oportunidade de assistir ao espetáculo no Theatro Circo em Braga, dia 6 de Abril 2013. Mais informações sobre o espetáculo e os bilhetes podem ser obtidas no site do projecto.

julho 12, 2012

pensamentos em diálogo com o corpo

Ontem foi dia de estreia da performance Strings of Thought na CEC Guimarães 2012. Um trabalho criado por Lígia Teixeira e Ivan Franco do colectivo Milliways. A performance apresentada resultou da combinação de dança contemporânea, cenografia interactiva e media digitais.

Imagem de Liza Wade Green

Em termos de conceito, a coreografia e o cenário evocam uma metáfora das ligações neuronais, da construção de pensamento, derivado dos processos contínuos de tomada de decisão. As bifurcações nas escolhas, os avanços e os recuos, as pausas e as suspensões para a reflexão, as acelerações e travagens nas respostas. Segundo a sinopse,
"No diálogo com a consciência cruzam-se argumentos baseados em valores morais, personalidade, razão e emoção, resultando muitas vezes em dilemas difíceis de resolver. Este olhar para dentro representa o diálogo com o “eu”, a personalidade alternativa que faz parte da condição humana e que tantas vezes induz uma luta interior." 
Do conceito surge a obra, e dessa, outra ideia salta à vista, a questão insurgida com Damásio, da luta entre o corpo e a razão, entre a emoção e a cognição. Da performance podemos denotar toda esta tensão como um contínuo da nossa vivência. Quando a mente procura ser o centro de controlo, mas o corpo reage e nem sempre da forma esperada, acabando muitas vezes por ser este a moldar a nossa atitude, a nossa reacção, a nossa decisão. Porque na tomada de decisões, não existe apenas razão, nem apenas emoção, coexistem, dialogam e entram em acordos de compromisso.

Imagem de Radek Konopka

Em termos de cenário e media interactivos, o espetáculo é muito interessante porque explora algumas ideias novas. A performer está presa por uns cabos, e esses cabos por sua vez estão ligados a um sistema de produção sonora/musical. Mas a interacção não é meramente reactiva, Ivan Franco diz-nos que optou por desenvolver sistemas de resposta embebidos em algoritmos generativos para gerar incerteza na reactividade, o que em meu entender evoca um pouco o contínuo caos do pensamento de cada um de nós. Passamos assim parte do espectáculo a tentar perceber quem controla quem.

Na área da dança, Ligia Teixeira não é puxada pelos cabos antes o contrário, é ela quem controla todo o sistema. Daí que o seu trabalho seja ainda mais interessante porque a forma como esta expressa o conceito através do movimento do seu corpo, consegue criar em nós a ilusão de que ela está de certo modo e em vários momentos, a ser literalmente arrastada pelos cabos, ou seja pelos pensamentos e devaneios, e que o corpo ora domina, ora se submete.

Imagem de Liza Wade Green

Visualmente o trabalho funciona com grande impacto visual, não só pela estranheza dos cabos, mas também do guarda-roupa, uma saia comprida em material semi-rígido escuro lembrando códigos de indumentária industrial futura. As luzes que sustentam o peso da escuridão em plena sintonia com o movimento do corpo e as reacções dos "pensamentos" (os cabos). Senti que estávamos perante um cenário de ficção-científica distópico, não só visual mas conceptual também, atirado para as questões do controlo do pensamento, da imobilidade em face do desconhecido promovido pela escuridão e "nevoeiro".

Ainda podem ver hoje e amanhã no CAAA, Guimarães.

maio 23, 2012

Laurie Anderson, histórias de sonhos

A tour portuguesa de Dirtday (2012), a nova performance de Laurie Anderson, arrancou ontem na Guimarães - Capital Europeia da Cultura no Centro Cultural Vila Flor, com o Grande Auditório (800) esgotado. Dirtday faz jus ao seu trabalho, não foge da linha e por isso não inova propriamente, não nos surpreende. Mas julgo que também não é isso que vamos à procura hoje num espectáculo seu, ao contrário dos anos 1980. Hoje o que pretendemos de Anderson é ser transportados, escapar para o universo gerado pela sua performance, que é acima de tudo uma performance de storytelling.


Ao longo de 1h15 somos transportados para um ambiente novo, criado através da luz, som, performance e claro narrativa. O que Anderson tem acima de tudo é uma capacidade encantatória. Tudo está feito para gerar em nós expectativa, criar o suspense, do que é que virá a seguir e qual a possível relação com aquilo que foi antes. Perceber as ligações, entrar adentro das metáforas e deliciar-nos com o espetáculo.


Adorei a primeira parte do espectáculo, julgo que é mais bem conseguida, ritmicamente e em termos de construção da ideia central daquilo que ela nos quer levar a questionar com Dirtday. A discussão em volta da ciência, evolução e religião é deliciosa. A segunda parte é um pouco alongada, algo redundante até. Apesar de gostar da ideia de entrarmos adentro do sonho, acaba por ser menos organizada, menos rica em metáforas e logo menos criadora de sentido. Contudo os efeitos realizados ao nível da voz são muitíssimos interessantes e cativantes. E no seu todo vale como experiência completa.

Apesar de cliché a discussão política sobre os EUA, chamou-me atenção particularmente o facto de Anderson apontar os políticos como contadores de histórias. E é interessante como ela nesta entrevista aqui abaixo sobre este espectáculo se dá conta, sobre o quanto ela é parecida com todo esse mundo da encenação, e criação de expectativas. Porque no fundo, é aquilo que somos todos, contadores de histórias, o que varia são as nossas audiências.