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maio 31, 2014

"Social Physics" (2014)

Alex Pentland é um académico de reconhecido prestígio do MIT no domínio do Big Data, mas o seu mais recente livro, Social Physics: How Good Ideas Spread - The Lessons from a New Science (2014), não é sobre sobre o seu trabalho de investigação, nem sequer pretende ser uma obra de divulgação científica. É antes um panfleto de propaganda com vista à recolha de fundos para financiar a sua investigação. Pentland assume o lugar de alquimista, capaz de prever o futuro por meios nunca antes experimentados, e através dos quais espera convencer capitais de risco a investirem nos seus projectos.


Social Physics era suposto ser um livro no qual discutiria o conceito que dá título ao mesmo, ou seja em que apresentaria uma nova definição sobre a análise de processos sociais a partir do Big Data, apresentando as suas bases racionais e empíricas, mas nada disso acontece. Pentland limita-se a debitar alguns resultados de estudos realizados pelas suas equipa nos últimos anos, e a tirar daí a ideia de que existe espaço para uma nova modelação teórica, a que chama de social physics.

Alex Pentland, cientista ou pop star?

Para agravar tudo isto, Pentland apresenta todo o trabalho, como tendo sido realizado quase exclusivamente por si, demonstrando uma enorme falta de humildade académica. O reconhecimento conseguido nos últimos anos acabou por lhe conferir tiques de pop star. Inevitavelmente isto destrona grande parte do interesse que um livro destes poderia ter, mas acaba por também colocar a nu a insignificância das suas descobertas, e mais ainda das suas propostas. Até porque Social Physics não é a primeira proposta com pompa de Pentland, já antes nos tinha apresentado os Honest Signals. Se nessa altura se apresentava como tendo descoberto uma nova forma de analisar e modelar a linguagem corporal, agora pretende apresentar-se como tendo descoberto uma nova forma de analisar e modelar comportamentos de sociedades inteiras.

Ambos estes conceitos, acrescentam pouco ou nada de novo, ao que a Sociologia vem desenvolvendo, nomeadamente no último século, acabando mais por demostrar a ânsia de Pentland em afirmar a sua marca, e em demarcar a sua importância. Ou seja, mais uma vez falta de humildade científica, e de reconhecimento do trabalho de todos os que o precederam. Não é porque passo a analisar comportamentos, individuais ou de grupo, com tecnologias digitais e em rede, que todo o conhecimento que existia antes deixa de fazer sentido.

Como se não bastasse, ao longo do livro, e dos vários estudos que vão sendo apresentados por Pentland raras são as vezes que os dados impressionam. Na maior parte das vezes, e apesar de apresentados como quase mágicos na capacidade de previsão futura do comportamento humano, verificamos que essas previsões não vão além dos 40% na melhora das hipóteses. É verdade que contra 15% ou 20% por métodos tradicionais, mas daí a podermos dizer que utilizando o Big Data e os modelos de Pentland conseguimos prever o futuro, vai uma distância muito, muito grande. Aliás, nem sequer era preciso ler nada dos seus estudos para perceber que estamos perante uma enorme falácia, basta perceber um pouco do mundo em que vivemos, das teorias da Físicas sobre o acaso (leia-se “The Drunkard's Walk: How Randomness Rules Our Lives”), para se perceber que tudo isto não passa de areia para os olhos numa tentativa desesperada de convencer capitais a financiar a sua investigação.

Para agravar tudo isto, Pentland nunca dá conta dos modelos de análise dos dados. Vai apresentando os estudos, limitando-se a enaltecer a grandiosidade dos mesmos, e da quantidade de Gigabytes de dados recolhidos em cada teste, das dificuldades de o fazer, mas quanto às lógicas usadas para triar depois todos esses dados, nada é dito. No fundo, aquilo que poderia dar sentido ao tal novo conceito de Social Physics nunca chega a ser apresentado, dando conta do vazio de que todo o conceito se reveste. O livro fica-se pela afirmação de que existem novas possibilidades de obter dados em tempo real e em volume significativo, muito graças ao uso dos sistemas computacionais que todos transportamos conosco todos os dias (smartphones). Ou seja, o livro resume-se a uma mera notícia de jornal diário.

Aliás, este livro e toda esta abordagem nada científica, mas antes profundamente mercantilista, capaz de usar os métodos mais baixos de manipulação e persuasão, dá bem conta do modelo de universidade que se professa no MIT, assim como noutras universidades da Ivy League americana. E por muito que nos custe, são estes os modelos que a Europa começou recentemente a adoptar. Anuncia-se o fim da Universidade, os centros que buscavam o conhecimento pelo conhecimento, e assume-se o conhecimento como mera mercadoria. A investigação científica passa a fazer-se com um objectivo claro, etiquetável e mais importante que tudo o resto, quantificável.