O tema central do livro "The Psychology of Money" (2020) é bastante importante, diria mesmo central para todos aqueles que trabalham, já que se trabalha essencialmente para ganhar dinheiro. Nesse sentido, é importante tentar perceber como nos relacionamos com o dinheiro. Apesar disso, e do livro entregar algumas ideias interessantes, na generalidade é algo simplista e pouco aprofundado. Mas talvez a ideia tenha sido essa, simplificar para chegar ao máximo número de pessoas, com o objetivo de fornecer uma literacia do dinheiro para todos. Por isso, se critico no geral, considero que realiza um bom trabalho de divulgação e discussão de ideias que muitas vezes são evitadas na praça pública.
1 - As pessoas objetivam ser ricas por meras razões de comparação social. Não existe qualquer necessidade intrínseca para se ser rico, a razão é exterior e criada pelo comparativo com os amigos, vizinhos, etc. Isto leva as pessoas a confundir o ser-se rico ("rich") com o possuir riqueza ("wealthy"). Ser rico é andar na estrada com um carro de 100 mil euros, já possuir riqueza será "possuir aquilo que não se vê"!
2 - As pessoas querem ser ricas porque acreditam que é aí que reside a Felicidade. Ter o que os outros têm para mostrar que também têm, que também conseguiram. Mas essa felicidade é mera excitação momentânea, como todos sabem ou aprendem a cada nova meta comparativa conquistada.
"Pode-se dar a alguém um bónus de 2 milhões de dólares e ela ficará bem até saber que a pessoa ao seu lado recebeu 2,1 milhões de dólares, ficando a sentir-se miserável todo o resto do ano." Warren Buffet, 2006
3 - O mundo não é feito de coisas, é feito de incertezas. O estudo mais minucioso da história das crises apenas nos diz que o que sobe cai. A realidade tende a repetir-se, mas a repetição é extremamente variável, tendo muito de acaso pelo meio, sendo impossível prever e planear tudo.
4 - Dos estudos, sabemos que a Felicidade mais efetiva é emanada por via do controlo e autonomia humanas. Esse controlo tem múltiplas variáveis que nos escapam — a nossa saúde; os nossos filhos e família; a sociedade e o estado em que estamos inseridos; e claro a sorte ou acaso.
5 - Gastar o dinheiro que ganhamos em viagens pelo globo, em carros, casas, etc. garante-nos a felicidade momentânea no comparativo social, mas não nos oferece qualquer autonomia adicional, menos ainda controlo.
"A cantora Rihanna quase foi à falência depois de ter gasto em excesso, tendo processado o seu consultor financeiro que lhe respondeu: "Era mesmo necessário dizer-lhe que se gastar dinheiro em coisas, acabará com as coisas e não com o dinheiro?". Podem rir, e por favor riam. Mas a resposta é, sim, as pessoas precisam de ser informadas disso." Morgan Housel
6 - Podemos construir mais autonomia e exercer maior controlo quando decidimos poupar algum do dinheiro que ganhamos. A poupança é um efeito da nossa vontade interior que gratifica o nosso cérebro por estar em controlo (muito semelhante ao controlo nas dietas).
7 - Mas vai além disso. A poupança garante riqueza que "não se vê", quando nos oferece autonomia na tomada de decisões em face das incertezas providenciadas pela realidade.
8 - Por isso, possuir riqueza é distinto de ser rico. Enquanto ser-se rico passa por demonstrar que se possuem coisas, possuir riqueza é não visível e só traduzível em garantia de liberdade.
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