Os livros "The Chaos Machine: The Inside Story of How Social Media Rewired Our Minds and Our World" (2022) e "Otherlands: A Journey Through Earth's Extinct Worlds" (2022) não têm qualquer relação entre si, mas se os juntei neste texto foi porque de formas opostas ambos quebraram uma regra básica da comunicação humana, a definição da audência para quem queriam falar. O primeiro pretende falar sobre um fenómeno novo, mas apresenta informação que qualquer pessoa minimamente interessada no tema já possui. O segundo pretende apresentar uma nova perspectiva sobre uma realidade distante da atualidade, mas não contextualiza a realidade distante, deixando o assunto à mercê apenas de quem estuda o tema.
"Chaos Machine" (2022) apresenta-se como um livro essencial para compreender o mundo das redes sociais. Contudo, quando o começamos a ler não encontramos mais do que sínteses de histórias que deram origem a páginas e páginas de jornais — desde o Gamergate ao Pizzagate, do Twitter de Trump ao vício das redes sociais, assim como dos movimentos extremistas políticos que usaram a rede para o "mal" em várias partes do globo. Ou seja, nada que não tenhamos lido ao longo dos últimos 10 anos, que não tenha sido analisado e dissecado por comentadores, analistas e académicos ad nauseum pelo globo. Diria que o livro pode ser interessante para quem nunca se interessou pelo tema e de repente tenha acordado para o mesmo. Mas quantas dessas pessoas vão mesmo ler este livro?
"The movement coalesced around Trump, who had converged on the same tics and tactics as Yiannopoulos and other Gamergate stars, and for seemingly the same reason: it’s what social media rewarded. He swung misinformation and misogyny as weapons. He trolled without shame, heaping victims with mockery and abuse. He dared society’s gatekeepers to take offense at flamboyant provocations that were right off 4chan (...) From May 2015, a month before Trump declared his candidacy, to November 2016, a Harvard study later found, the most popular right-wing news source on Facebook was Breitbart, edging out even Fox News. It was the third-most-shared media outlet overall, beating out every newspaper or TV network except for CNN and the New York Times." excerto de "Chaos Machine" (2022)
"Otherlands" (2022) trabalha exatamente ao contrário. Pega num assunto extremamente interessante, mas totalmente afastado da cultura geral, e começa a dissertar sobre o mesmo sem qualquer contextualização, sem qualquer esforço para criar os devidos enquadramentos metafóricos que nos ajudassem a compreender aquilo de que se está a falar. Existe apenas uma imagem por cada capítulo, sendo que o mais interessante no suporte à leitura encontrei-o no site do próprio autor, uma cronologia de cada era (imagem abaixo).
O livro fala-nos do modo como o planeta Terra, no passado — começando no longíquo passado (20 000 anos) e levando-nos ao longo de cada capítulo até ao inimaginável passado (555 milhões de anos) — seria tão diferente daquilo que é hoje, que bem poderia ser um planeta alienígena. A premissa é fantástica, e fez-me correr para o ler. Mas chegado a meio do livro tive de desistir porque não tenho a formação mínima em paleontologia para poder compreender aquilo que se discute. Senti-me a exasperar, querendo perceber em concreto para onde me levava, mas não conseguindo visualizar nada além do mundo em que vivo atualmente. Só pensava, vou aguardar que o National Geographic ou a Netflix façam a série do livro.
"A stone’s throw from the eastern bank of the Kerio is a low patch of tree-shrubs. Acacia shade dapples the ground, while above, paths of light run like snail trails where the crowns fail to touch. The ground is dry and covered in a natural hay meadow: tussocks of buffel-grass with their drooping, fluffy seed-heads, covered in sharp burs; thin and wispy dropseeds rising weakly over their vibrant leaves; and the rough vertical foxtail brushes of Tetrapogon. The skeleton of a dead tree is enticingly scarred, a low hollow revealing where the interior has rotted away, leaving only the hard outer tissue and a faintly fungal reek. Within, a family of nocturnal mastiff bats sleeps. When night falls and the swifts rise to sleep at higher altitudes, these bats will take over the relentless pursuit of the flying insects over Lake Lonyumun." excerto de "Otherlands" (2022)
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