Começo por dizer que se conhecia o nome Humboldt era apenas porque ao longo da minha vida o tenho encontrado um pouco por todo o lado — de cidades a rios, serras, baías, cascatas, uma região na Lua, mais de 300 plantas e mais de 100 animais carregam ainda hoje o seu nome. Mas não fazia grande ideia sobre quem era ou o porquê dessa sua quase omnipresença, em sintonia com a grande maioria da sociedade no século XXI, apesar de em 14 de setembro 1869, na marca dos 100 anos do nascimento de Alexander von Humboldt, se terem realizado festejos por toda a Europa, Américas, África e Austrália. Houve discursos, paradas e procissões em seu nome de Melbourne a Buenos Aires, de Moscovo a Alexandria, com milhares de pessoas nas ruas de São Francisco a Nova Iorque a acenar bandeiras e cartazes com a cara de Humboldt.
Já tinha procurado no passado algo mais sobre a pessoa, mas o facto de ter tido uma vida imensamente rica — dormia muito pouco e enquanto estava acordado estava sempre focado na descoberta de novas e mais coisas — o que fez com que não deixasse um legado específico, facilmente comunicável e identificável. Se pensarmos noutros génios polimatas — por exemplo Da Vinci deixou as suas pinturas que o tornaram sempre presente, enquanto Goethe deixou a sua poesia. Humboldt deixou dezenas de livros sobre uma panóplia de questões e deixou mais de 50,000 cartas que registam não só o seu pensamento como o pensamento do mundo científico do seu tempo. Todos lhe escreviam, e a todos respondia, era um cientista-comunicador nato.
Andrea Wulf procura, em "The Invention of Nature: Alexander von Humboldt's New World" (2015), recuperar e sintetizar o legado de Humboldt, centrando-o nas ciências naturais, nomeadamente no modo como este revolucionou "a forma como vemos o mundo natural. Encontrou ligações em todo o lado. Nada, nem mesmo o mais pequeno organismo, era visto isoladamente. 'Nesta grande cadeia de causas e efeitos', disse Humboldt, 'nenhum facto pode ser considerado isoladamente'. Com esta visão, inventou a teia da vida, o conceito de natureza tal como o conhecemos hoje."
A sua obra maior, além do impacto humano deixado sobre todos os que com ele conviveram e transportaram os seus ideais para as gerações seguintes, foi a obra "Cosmos: A Sketch of a Physical Description of the Universe" em 5 volumes. Escrita no fim de vida entre 1845 e 1859, deixando por escrever os restantes 4 volumes que indexou. O título desta obra recorda-nos de imediato uma outra, contemporâna, com o mesmo nome "Cosmos" (1980) de Carl Sagan. Humboldt procurava descrever tudo aquilo de que era feito o nosso planeta, Sagan atualizou a ciência e elevou a fasquia, indo das células até para além da Via Láctea. Ambos foram cientistas imensamente reconhecidos em vida, mas hoje pouco recordados por feitos científicos. Do meu ponto de vista isso deve-se ao facto de terem sido agentes da ciência, verdadeiros comunicadores que usaram tudo o que estava ao seu alcance para melhorar a ciência por via da criação da sua aceitação por toda a sociedade.
Deixo um excerto do início do livro que sintetiza quem foi Humboldt e que julgo poder abrir-vos o apetite para a imensa viagem criada por este belo livro de Andrea Wulf:
"Described by his contemporaries as the most famous man in the world after Napoleon, Humboldt was one of the most captivating and inspiring men of his time. Born in 1769 into a wealthy Prussian aristocratic family (...) Humboldt’s books were published in a dozen languages and were so popular that people bribed booksellers to be the first to receive copies, yet he died a poor man. He could be vain, but would also give his last money to a struggling young scientist.
(...)
He was a fierce critic of colonialism and supported the revolutions in Latin America, yet was chamberlain to two Prussian kings. He admired the United States for their concepts of liberty and equality but never stopped criticizing their failure to abolish slavery.
(...)
Humboldt was unlike anybody else because he was able to remember even the smallest details for years: the shape of a leaf, the colour of soil, a temperature reading, the layering of a rock. This extraordinary memory allowed him to compare the observations he had made all over the world several decades or thousands of miles apart.
(...)
Humboldt was the first to explain the forest’s ability to enrich the atmosphere with moisture and its cooling effect, as well as its importance for water retention and protection against soil erosion. He warned that humans were meddling with the climate and that this could have an unforeseeable impact on ‘future generations’.
(...)
Humboldt influenced many of the greatest thinkers, artists and scientists of his day. Thomas Jefferson called him ‘one of the greatest ornaments of the age’. Charles Darwin wrote that ‘nothing ever stimulated my zeal so much as reading Humboldt’s Personal Narrative,’ saying that he would not have boarded the Beagle, nor conceived of the Origin of Species, without Humboldt. William Wordsworth and Samuel Taylor Coleridge both incorporated Humboldt’s concept of nature into their poems. And America’s most revered nature writer, Henry David Thoreau, found in Humboldt’s books an answer to his dilemma on how to be a poet and a naturalist – Walden would have been a very different book without Humboldt. Simón Bolívar, the revolutionary who liberated South America from Spanish colonial rule, called Humboldt the ‘discoverer of the New World’ and Johann Wolfgang von Goethe, Germany’s greatest poet, declared that spending a few days with Humboldt was like ‘having lived several years’."
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