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dezembro 19, 2020

“Le Bruit du Givre” de Lorenzo Mattotti

Não sei quem me recomendou a leitura desta novela gráfica, mas se inicialmente me desliguei da premissa, a meio do livro percebi que tinha cometido um erro de análise, porque o texto tinha dado origem a uma viagem visual de grande intensidade psicológica. Começamos pelo medo de um homem de aceitar prosseguir com um namoro, após o pedido de aceitar ter um filho, esse medo que inicialmente parece insuficiente para ditar o fim da relação é apresentando num crescendo densificado pela componente da arte visual. O texto acaba por seguir, rodopiando no seu auge, lançando amarras para uma redenção que se torna impossível, mas apresentando um olhar final pelo retrovisor da própria vida do homem que funciona como um murro no estômago, dando conta daquilo de que somos feitos nesta vida. Não existe uma defesa de perspetivas, a história é aberta e deixada à interpretação de cada um, por isso o murro no final será sentido diferentemente pelos leitores.
 

“Le Bruit du Givre” (2003)

O livro vale muito pela arte gráfica, particular e marca de Mattotti, mas é acima de tudo da fusão entre aquilo que a história quer dizer e a plástica visual nos faz sentir que emerge o maior impacto deste trabalho. Existe todo um cuidado com metáforas conseguidas por simbolismos visuais que nos fazem parar para refletir no que estamos a ler, e nos porquês das ações e nos efeitos dessas.

Mattotti explicando como constrói o fluxo narrativo-visual [extraído do vídeo abaixo]

Fiz uma pesquisa na net e encontrei um pequeno documentário do canal Arte sobre o autor que deixo aqui abaixo. Gostei particularmente da sua discussão sobre o modo como trabalha o fluxo o narrativo-visual, colando todas as pranchas na parede para poder ganhar uma noção mais completa desse fluxo.    


"Lorenzo Mattotti, le triomphe de la couleur" (2004) de Ludovic Cantais