Quis ler “Jerusalém” (2011/2021) de Simon Sebag Montefiore para tentar compreender um pouco melhor um fascínio que desconheço. Queria perceber como é que uma cidade que não contribuiu com qualquer ideia para o avanço da humanidade conseguiu manter-se sempre presente nas agendas do mundo ao longo de mais de 3 mil anos. A leitura, apesar de muito boa, deixou-me ainda mais perplexo. Montefiore faz um trabalho brilhante de inclusão que se sintetiza numa frase: "Naquele momento, o conceito de santidade no mundo judaico-cristão-islâmico encontrou o seu lar eterno". E assim podemos perceber que todo o fascínio da humanidade por esta cidade assenta numa fábula de Origem. A eterna indagação interior, “quem somos e de onde vimos?”, fez rumar ali, ao longo de milhares de anos, das mais altas personalidades de todas as três grandes religiões — reis, imperadores, califas, imãs, rabinos, papas. Muitos levaram consigo os seus exércitos, tendo Jerusalém sido sitiada, atacada e capturada dezenas e dezenas de vezes, incluindo duas vezes em que foi completamente arrasada, não restando pedra sobre pedra. Jerusalém nunca foi além do punhado de pedras num deserto, mas a sua resiliência demonstra o poder humano do contar de histórias.
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junho 25, 2022
junho 21, 2013
porque evoluímos tanto nos últimos 13,000 anos
"Guns, Germs, and Steel: The Fates of Human Societies" é um livro de Jared Diamond de 1997, entretanto vertido para um documentário de três horas da National Geographic em 2005. A ideia central passa por explicar porque é que as sociedades da Europa e Ásia (Eurasia) se sobrepuseram às restantes sociedades do globo em termos económicos, baseado simplesmente na Geografia, ou seja na posição geográfica ocupada no globo. Jared Diamond é professor na UCLA e este seu livro foi premiado em vários eventos desde então, incluindo o Pulitzer.
Aquilo que posso dizer é que depois de lerem Guns, Germs, and Steel nunca mais verão o mundo da mesma forma. Estamos perante uma análise evolucionária do homem em função da geografia, e aquilo que Diamond faz é simplesmente brilhante. Ele conseguiu com esta obra trazer a Geografia para o centro da discussão científica no que toca às questões essenciais sobre a espécie humana. Ler este livro é redescobrir o mundo.
A questão central começa por ser enunciada por um político da Nova Guiné, "Por que é que vocês, brancos, desenvolveram tanta tecnologia e a trouxeram para a Nova Guiné, mas nós, os negros tínhamos tão pouca tecnologia própria?" A que se segue a constatação de que várias sociedades mesmo depois de colonizadas e libertadas, continuaram a ter dificuldade em progredir no seu próprio bem-estar.
A resposta a isto está neste livro, que nos diz que esse avanço civilizacional não tem nada que ver com diferenças genéticas, nem sequer culturais, mas antes com a influência da geografia sobre a evolução dos povos em cada espaço do planeta. Diamond defende que as diferenças originaram a partir das condições ambientais distintas que favoreceram a progressão, estagnação e a regressão das sociedades. O ponto central desta evolução e diferenciação está exactamente no processo de agricultura.
Antes de criarmos as civilizações vivíamos dispersos pelo globo, como pequenos grupos nómadas, em busca de locais que nos oferecessem a melhor comida. Com o surgimento da agricultura descobrimos que era possível ficar no mesmo sítio, produzindo a nossa própria comida, não sendo necessário mais viver à custa da aleatoriedade da natureza. Ou seja, a partir do momento em que nos tornámos sedentários, e iniciámos a atividade da agricultura, o engenho humano ganhou maior liberdade para evoluir, para através da experiência acumulada fazer mais e melhor. A população cresceu, o trabalho especializado apareceu, e com este surgiram as hierarquias, as organizações, e os países.
Até aqui nada de novo, todos demos isto na escola. A inovação de Diamond passa por analisar o fenómeno da criação das sociedades nas diferentes partes do globo, através das condições ambientais que permitiram a evolução dos processos da agricultura. E aqui Diamond diz-nos que a Eurasia era um local privilegiado, em termos de clima e consequentemente do tipos de plantas possíveis, e ainda da existência de animais domesticáveis.
Ao todo a Eurasia domesticou 13 espécies de grandes animais (Cavalo, Vaca, Cabra, Ovelha, Porco, Galinha, Cão, etc.). A América do Sul domesticou uma (Lama), e o resto do mundo nenhuma. Nunca conseguimos domesticar animais próximos como a Zebra, o Javali ou o Elefante, menos ainda Rinocerontes, Bufalos, Leões, Tigres, Águias, etc. Assim a nossa superioridade hoje enquanto espécie neste planeta, advém do facto de termos conseguido subjugar outras espécies às nossas necessidades. Nesse sentido a Eurasia foi a zona do planeta em que se geraram as melhores condições para essa dominação. Daí à dominação de outros povos, foi um passo.
Diamond vai ainda ao ponto de analisar as condições climatéricas de outras partes do globo para explicar porque razão mesmo depois de colonizadas, nunca conseguiram evoluir por si próprias. Fala nomeadamente das condições muito pouco favoráveis dos trópicos no que toca à agricultura e a facilidade de propagação de doenças que tornam o ambiente muito hostil aos processos de sedentarização.
O trabalho de Diamond é extenso, levanta muitas questões, lança muitas mais hipóteses, assim como levantou um conjunto de críticos às suas teorias. Do meu lado restaram-me poucas dúvidas sobre as teorias de Diamond porque ele é exímio na sua comunicação e detalhe. Existe um cuidado muito grande na forma como nos vai apresentando as suas ideias e conclusões, muito suportadas por evidências claras e objectivas. E se neste livro Diamond se detém para explicar porque as sociedades prosperam, no seu livro seguinte, Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed (2005) que ando agora a ler, detém-se sobre as razões que levaram ao desaparecimento de várias civilizações no nosso planeta.
Para quem não tiver muito tempo, ou quiser um atalho para as ideias de Diamond, aconselho vivamente o visionamento do belíssimo documentário, Guns, Germs & Steel (2005) criado pela National Geographic que conta com o próprio Jared Diamond. Para tal uma simples pesquisa no YouTube retornará várias opções para ver os três filmes de 50 minutos cada.
Aquilo que posso dizer é que depois de lerem Guns, Germs, and Steel nunca mais verão o mundo da mesma forma. Estamos perante uma análise evolucionária do homem em função da geografia, e aquilo que Diamond faz é simplesmente brilhante. Ele conseguiu com esta obra trazer a Geografia para o centro da discussão científica no que toca às questões essenciais sobre a espécie humana. Ler este livro é redescobrir o mundo.
A questão central começa por ser enunciada por um político da Nova Guiné, "Por que é que vocês, brancos, desenvolveram tanta tecnologia e a trouxeram para a Nova Guiné, mas nós, os negros tínhamos tão pouca tecnologia própria?" A que se segue a constatação de que várias sociedades mesmo depois de colonizadas e libertadas, continuaram a ter dificuldade em progredir no seu próprio bem-estar.
Eurasia
A resposta a isto está neste livro, que nos diz que esse avanço civilizacional não tem nada que ver com diferenças genéticas, nem sequer culturais, mas antes com a influência da geografia sobre a evolução dos povos em cada espaço do planeta. Diamond defende que as diferenças originaram a partir das condições ambientais distintas que favoreceram a progressão, estagnação e a regressão das sociedades. O ponto central desta evolução e diferenciação está exactamente no processo de agricultura.
Antes de criarmos as civilizações vivíamos dispersos pelo globo, como pequenos grupos nómadas, em busca de locais que nos oferecessem a melhor comida. Com o surgimento da agricultura descobrimos que era possível ficar no mesmo sítio, produzindo a nossa própria comida, não sendo necessário mais viver à custa da aleatoriedade da natureza. Ou seja, a partir do momento em que nos tornámos sedentários, e iniciámos a atividade da agricultura, o engenho humano ganhou maior liberdade para evoluir, para através da experiência acumulada fazer mais e melhor. A população cresceu, o trabalho especializado apareceu, e com este surgiram as hierarquias, as organizações, e os países.
Até aqui nada de novo, todos demos isto na escola. A inovação de Diamond passa por analisar o fenómeno da criação das sociedades nas diferentes partes do globo, através das condições ambientais que permitiram a evolução dos processos da agricultura. E aqui Diamond diz-nos que a Eurasia era um local privilegiado, em termos de clima e consequentemente do tipos de plantas possíveis, e ainda da existência de animais domesticáveis.
Ao todo a Eurasia domesticou 13 espécies de grandes animais (Cavalo, Vaca, Cabra, Ovelha, Porco, Galinha, Cão, etc.). A América do Sul domesticou uma (Lama), e o resto do mundo nenhuma. Nunca conseguimos domesticar animais próximos como a Zebra, o Javali ou o Elefante, menos ainda Rinocerontes, Bufalos, Leões, Tigres, Águias, etc. Assim a nossa superioridade hoje enquanto espécie neste planeta, advém do facto de termos conseguido subjugar outras espécies às nossas necessidades. Nesse sentido a Eurasia foi a zona do planeta em que se geraram as melhores condições para essa dominação. Daí à dominação de outros povos, foi um passo.
As espécies animais domesticadas pelo homem
Diamond vai ainda ao ponto de analisar as condições climatéricas de outras partes do globo para explicar porque razão mesmo depois de colonizadas, nunca conseguiram evoluir por si próprias. Fala nomeadamente das condições muito pouco favoráveis dos trópicos no que toca à agricultura e a facilidade de propagação de doenças que tornam o ambiente muito hostil aos processos de sedentarização.
O trabalho de Diamond é extenso, levanta muitas questões, lança muitas mais hipóteses, assim como levantou um conjunto de críticos às suas teorias. Do meu lado restaram-me poucas dúvidas sobre as teorias de Diamond porque ele é exímio na sua comunicação e detalhe. Existe um cuidado muito grande na forma como nos vai apresentando as suas ideias e conclusões, muito suportadas por evidências claras e objectivas. E se neste livro Diamond se detém para explicar porque as sociedades prosperam, no seu livro seguinte, Collapse: How Societies Choose to Fail or Succeed (2005) que ando agora a ler, detém-se sobre as razões que levaram ao desaparecimento de várias civilizações no nosso planeta.
Para quem não tiver muito tempo, ou quiser um atalho para as ideias de Diamond, aconselho vivamente o visionamento do belíssimo documentário, Guns, Germs & Steel (2005) criado pela National Geographic que conta com o próprio Jared Diamond. Para tal uma simples pesquisa no YouTube retornará várias opções para ver os três filmes de 50 minutos cada.
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