Contudo Kierkegaard é uma das referências pioneiras do existencialismo, mais particularmente da melancolia, o que me leva encontrar constantes referências ao seu trabalho. O livro de Clare Carlisle desenvolve uma biografia seguindo um registo próximo da escrita de Kierkegaard, que será excelente para quem leu avidamente o autor, mas para outros, como eu, acaba por não servir de ponte para o trabalho, mantendo tudo igualmente à distância. Interrogava-me no final se o problema estava na escrita e religiosidade do autor, ou se num desfasamento identitário promovido pela idade em mim, isto porque senti o mesmo amargo que senti no ano passado com “Nos Cumes do Desespero” (1933) de Emil Cioran, uma desconexão total. Palavras belas de enaltecimento total do interior para questionar tudo e todos teriam sido a minha delícia com 20 anos, hoje não me dizem nada. Tivesse Carlisle realizado um trabalho documental próprio, como fez Sarah Bakewell com o existencialismo de Heidegger e Sartre e talvez tivesse adorado, mesmo que me tivesse ajudado a desistir de uma vez desses autores.
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