junho 11, 2023

A Floresta Sombria, Cixin Liu

Li o primeiro livro da trilogia "The Three-Body Problem", de Cixin Liu, em 2020 e disse que não leria o resto da série. Contudo, há dias parei na livraria a ler as primeiras páginas da recente edição portuguesa do volume 2 o que acabou por me reconquistar. Agora com as expectativas bastante mais baixas, não foi difícil gostar imenso de Cixin Liu, apesar de no revisitar da minha análise do primeiro volume tenha relembrado porque não me entusiasmou o primeiro livro. Assim, e como tantos outros leitores, acabei com a sensação de que este segundo volume supera o primeiro. Menos policial, mais existencial, mais humano. Ainda assim, Liu poderia deixar-se levar um pouco mais pelas questões que faz emergir das tramas que cria, ainda que isso fizesse perder algum público que procura ação, alimentaria mais um outro que se interessa pela especulação das hipóteses científicas.

Neste segundo volume, os trissolarianos, do planeta Trisolaris, situado a 4.21 anos-luz da Terra,  estão a caminho do nosso planeta, prevendo-se a sua chegada para daqui a 400 anos. O seu poder de fogo é devastador. A instabilidade do seu sistema planetário fê-los rumar a uma nova galáxia, a nossa, estando nós cá a mais. O resto do livro atravessa a ansiedade humana ao longo destes séculos na busca por uma forma de ultrapassar a extinção anunciada. 

As propostas de Liu são baseadas em ciência, com algumas liberdades, nomeadamente a criogenação que permite viajar para o futuro, mas suficientemente realistas para nos colocar no lugar a imaginar o que poderíamos/deveríamos fazer, enquanto espécie, naquela situação.
"“Nothing serious?” Luo Ji opened his bloodshot eyes wide. “I’m madly in love with a fictional person from a novel of my own creation. I’ve been with her, I’ve traveled with her, and I’ve even broken up with my real-life girlfriend over her. Is that nothing serious to you?”
The doctor smiled tolerantly.
“Don’t you get it? I’ve given my most profound love to an illusion!”
“Are you under the impression that the object of everyone else’s love actually exists?”
“Is that even a question?”
“Sure. For the majority of people, what they love exists only in the imagination. The object of their love is not the man or woman of reality, but what he or she is like in their imagination. The person in reality is just a template used for the creation of this dream lover. Eventually, they find out the differences between their dream lover and the template. If they can get used to those differences, then they can be together. If not, they split up. It’s as simple as that. You differ from the majority in one respect: You didn’t need a template.”"

Assim, Liu começa por evocar o Paradoxo de Fermi, que pergunta "Onde estão todos?", ou seja, se existe uma enorme possibilidade de encontrar vida inteligente no universo, dada a sua quase-infinitude, porque é continuamos sem qualquer evidência da sua existência? 

“The universe is a dark forest. Every civilization is an armed hunter stalking through the trees like a ghost, gently pushing aside branches that block the path and trying to tread without sound. Even breathing is done with care. The hunter has to be careful, because everywhere in the forest are stealthy hunters like him. If he finds other life—another hunter, an angel or a demon, a delicate infant or a tottering old man, a fairy or a demigod—there’s only one thing he can do: open fire and eliminate them. In this forest, hell is other people. An eternal threat that any life that exposes its own existence will be swiftly wiped out. This is the picture of cosmic civilization. It’s the explanation for the Fermi Paradox.”

Em face deste, apresenta a Hipótese da Floresta Negra, de David Brin que afirma que existem realmente muitas outras espécies no planeta, mas que se mantém silenciosas e à espreita. A novidade da proposta de Liu Cixin, é que tenta explicar porque isso acontece, para o qual propõe os seguintes 2 axiomas: 

1: "A sobrevivência é a principal necessidade da civilização." 

2: "A civilização cresce e expande-se continuamente, mas a matéria total no universo permanece constante."

Todo o livro se digladia à volta deste paradoxo, hipótese e axiomas, usando do mistério, suspense e especulação científica para nos manter totalmente engajados ao longos das mais de 500 páginas. Agora, fico à espera que a Relógio d'Água edite o 3º volume.

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