Uma leitura comovente sobre um mundo humanamente íntimo e abundante em ciência. A história acontece num futuro próximo raiado pelos problemas da atualidade — aquecimento global, pandemia, polarização política e ativismo —, visto a partir dos olhos de uma criança de 9 anos, diagnosticada distintamente em função de cada médico — com autismo, OCD ou ADHD —, que perdeu recentemente a mãe e tem de enfrentar o mundo tendo como único amigo o pai que é astrobiólogo e se dedica à modelação de simulações de possíveis formas de vida em exoplanetas. Um dos melhores livros de 2021.
Tendo lido recentemente "Flowers for Algernon" (1959) (análise), também lido pela criança nesta obra, e o memoir da astrofísica Sara Seager, especializada na busca de exoplanetas semelhantes à Terra, "The Smallest Lights in the Universe" (2020) (análise), senti que Powers tinha conseguido fundir o melhor de ambos, criando um livro baseado na infinita curiosidade humana e na questão última sobre como se relaciona o humano com o planeta que habita e o resto do universo. Uma leitura compulsiva.
Sobre o significado do livro, o autor diz-nos:
"For me, the astrobiology and neuroscience in Bewilderment – two fields undergoing rapid and dramatic revolutions – are really ways into much older and more intimate human passions. Beneath the immense technologies and intellectual achievements of those pursuits are some primal questions built into human beings: Is life a one-off fluke, or is it inevitable and ubiquitous in the universe?"
-- Richard Powers, 2021, The Booker Prize,
Sobre o título:
"I fell in love with the word bewilderment back in the 80s when I came across an essay by the physician, writer, Lewis Thomas -- called “On Matters of Doubt”, and he was exploring the two cultures divide, which was first made notorious by C.P. Snow and a lecture of that name. It was a growing preoccupation and still is a matter of real concern that we, as human beings, we’re kind of splitting along a big cultural divide into those who saw the world primarily through a scientific lens, and those who saw the world primarily through a humanistic, or an artistic lens, and that somehow these were radically opposed ways of thinking about what it means to be human in this place.
And Thomas, along with many others, is very distressed at this idea that we might be creating these inimical camps and he was looking for something that united the arts and the humanities and the sciences, he said he was going to search through all these catalogs of disciplines and see what condition might be equally familiar to all of them. He says, "I think I found that, I think I know what’s at the heart of almost every pursuit that humans put their hands to, and he says, It’s bewilderment".
-- Richard Powers, October 18, 2021, LitHub
Richard Powers tem um percurso particular, começou pelas ciências, entrando para a Universidade em Física, mas acabou por desistir e mudar-se para Literatura Inglesa. Após o mestrado, decidiu não prosseguir para doutoramento, motivado pela sua aversão ao excesso de especialização. Desde então, publicou 13 livros, foi agraciado com uma MacArthur Fellowship, a bolsa americana dos Génios, tal como Sara Seager, e ganhou em 2018 o Pulitzer com o seu penúltimo livro "The Overstory". No entanto continua desconhecido em Portugal, algo que parece estar prestes a mudar com a edição nos próximos tempos destes seus últimos 2 livros.
Porque todas crianças de livros têm problemas como ADHD ou autismo?
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