Mais um ano, mais uma enorme quantidade de livros publicados. Muitos serão esquecidos rapidamente, juntamente com muita música, cinema e videojogos que podem até servir bons momentos de entretém, mas pouco possuem que lhes permita perdurar na memória. Dos livros de 2022 que li, escolhi 5 de não ficção e 4 de ficção, que deverão continuar relevantes por mais alguns anos.
Duas brilhantes biografias, "The Brain in Search of Itself" sobre Santiago Ramon Y Cajal, e "Pessoa" sobre Fernando Pessoa. A primeira, escrita como um romance, a segunda com uma escrita quase tão bela como a do próprio Pessoa. Dois livros de divulgação de ciência: "The Language Game", que lança uma nova hipótese sobre o modo como terá surgido a linguagem nos humanos; e "How the World Really Works", sobre o que efetivamente estamos a fazer com os recursos fósseis, e os impactos reais das alterações drásticas que andamos a discutir, nomeadamente em países em desenvolvimento. Por fim, um livro de história, "A Torre dos Segredos", com base em duas das mais importantes personalidades de Portugal, Camões e DeGóis, escrito como aventura, com algumas fragilidades na escrita, mas ainda assim muito relevante.
Na ficção, temos três livros muito comtemporâneos: uma belíssima aventura sobre a nova profissão dos criadores de videojogos, "Tomorrow, and Tomorrow, and Tomorrow"; um muito lúcido olhar sobre a vida académica em tempo de MeToo e cancelamentos, "Vladimir"; e uma distopia portuguesa, "Cadernos da Água", sobre os potenciais efeitos das alterações climáticas na presença de água na península ibérica. Por fim, temos o regresso de McCarthy, que por si marca o ano literário, com "O Passageiro".
Exceptuando "Pessoa", que foi publicado primeiro em inglês, em 2021, tendo a nossa tradução chegado apenas neste verão, são tudo livros publicados em 2022 que vão valer a pena continuar a ler nos próximos anos. Entretanto, espero deixar por aqui as melhores leituras de não-ficção e ficção relativas a anos passados.
Olá Nelson, obrigado pelas suas sugestões.
ResponderEliminar1) Gostaria de lhe perguntar se quem não está familiarizado com video-jogos, ainda assim poderá tirar proveito do livro Tomorrow and Tomorrow...
2) Quanto ao ensaio de Sarah Bakewell sobre Montaigne, ainda pensei que arranjasse um lugarzinho para o fazer constar nos seus favoritos do ano.
3) O ensaio sobre Pessoa não é um pouco maçudo nas suas 1100 páginas?
Não tirando o devido mérito a João Gaspar Simões, continuo a ter à cabeceira o esgotadíssimo Fernando Pessoa - Vida, Personalidade e Génio de António Quadros.
Um abraço.
Bom dia Joaquim,
Eliminar1 - Julgo que sim, mas sem dúvida que o forte da experiência vai para aqueles que pensaram criar jogos e/ou criar uma empresa na área.
2 - Sobre o ensaio de Bakewell, é verdade que só o li este ano, sendo de 2010, mas sim saiu por cá agora. Contudo, gostei menos do que o seu Café Existencialista, julgo que se deve ao facto de já ter lido muita coisa sobre Montaigne e ter encontrado aqui pouca novidade. Agora tenho imensa vontade de ler o seu o novo Humanly Possible que estava para sair em Novembro, mas afinal só sai em março 2023.
3 - Sobre o Pessoa, ainda não terminei. É um livro para se ir lendo, porque é um livro para se ir degustando, por duas razões: a enorme beleza da escrita, e a quantidade de factos históricos contextuais que o Zenith adiciona à vida de Pessoa. Não conheço as anteriores biografias, mas comparando com outras, esta tem a particularidade histórica muito bem trabalhada o que se torna o livro um atrativo para além do próprio Pessoa.
Obrigado pelo contacto e boas leituras :)
3 -
Obrigado Nelson.
ResponderEliminarÉ que o Tomorrow and Tomorrow, já com tradução em português, ganhou o Goodreads award deste ano categoria ficção e eu interrogo-me como foi possível ou se sou eu que estou desactualizado e em minoria e realmente todo a gente está ligada de uma maneira ou outra aos vídeo-jogos.
Julgo que poderá ter que ver com o facto de o livro se aproximar bastante da lógica dos romances Young Adult, o que abre a todo um público muito grande. Por isso é que tenho recomendado não parar de ler logo no início, em que parece que não vai passar disso, de um romance YA.
EliminarMas, no abstrato, se eu não trabalhasse na área, não sei se me teria interessado tanto pelo livro. Ainda que exista aqui o factor de ser um território, um da criação de jogos, muito pouco ainda explorada pelas narrativas.