"How the World Really Works: The Science Behind How We Got Here and Where We're Going" saiu este ano e tem sido imensamente discutido pela crítica, o que não diria dever-se, apesar de também, a Bill Gates, mas essencialmente ao longo percurso científico de Vaclav Smil (78 anos) a discutir estas matérias o que lhe confere um grau de autoridade e confiança muito elevados. No imediato, e apesar do livro se focar na questão ambiental, nomeadamente no aquecimento global, compararia este a "Factfullness" (2018) de Hans Rosling, pelo modo como desfia números e factos sobre a energia que sustenta o nosso modo de vida, desconstruindo teias de histórias que têm vindo a moldar a nossa visão do mundo.
Começando pela frase com que se apresenta, "I am neither a pessimist nor an optimist; I am a scientist trying to explain how the world really works", naturalmente que o trabalho que aqui faz não agradará a muitos, diria mesmo, a uma boa parte dos ativistas que têm trabalhado para alertar para as questões climáticas. Smil coloca na balança os números do planeta em que vivemos, as matérias primas, a energia, as pessoas e as suas necessidades, e olha para a História, e para aquilo de que é feita a nossa espécie. O resultado não é uma equação simples, muito menos fácil de transformar.
O problema levantado é a dura realidade, não apenas do planeta, mas da espécie que somos, colocando frente a frente, aquilo que teoricamente desejamos que seja a nossa realidade e aquilo que na realidade somos. Assim, para o lado ativista das questões ambientais este discurso, apesar de reconhecido na sua base científica como factual, é acusado de maquiavélico, porque dá argumentos ao outro lado, os da negação das alterações climáticas. Mas a questão de fundo é que não podemos olhar para a questão como tendo dois lados, de crentes e não crentes, temos de olhar para a espécie, e perceber de que é feita, e compreender que a mudança é a ação mais difícil para qualquer ser-humano. Temos de olhar para o planeta como um todo, mas não podemos olhar para todos os países como iguais. Não podemos desejar um mundo em que uma parte de nós tem smartphones no bolso, e a outra parte deve ficar à porta a aguardar a sua vez, porque entretanto nós para criar todo este bem-estar consumimos os recursos do planeta que também era deles.
Podemos atacar Smil, dizendo que este coloca o dedo na ferida mas não oferece soluções, o que em parte é verdade, mas isso não torna o seu trabalho menos importante. O caminho para a mudança faz-se pela tomada de consciência do problema nas suas múltiplas dimensões, e esse só pode ser feito com honestidade e verdade. Gritos e drama tendem a criar aversão, e quando misturados com argumentos erróneos criam descrédito.
Existem vários pontos que podemos retirar desta leitura, a primeira, que já vinha em "Factufullness" é que o crescimento populacional vai começar a decrescer em breve, e isso vai ser fundamental na transformação da nossa presença no planeta. A segunda, é que a ideia de uma economia totalmente global cria mais problemas do que resolve como se viu durante a pandemia, e que a sua diminuição pode ser outro enorme contributo para diminuição da nossa pegada. Nada disto põe em questão tudo o que está a ser feito, e tem de ser continuado, no sentido de melhorar e otimizar os recursos que usamos.
A Critica editou entretnato o livro em Portugal "Como o Mundo Realmente Funciona".
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