Não há muitos elogios novos que se possam fazer a "Frère d'âme" (2018) (em português, traduzido com base no título inglês, "De Noite Todo o Sangue é Negro") que já ganhou alguns dos prémios literários mais cobiçados por todo o mundo — França (Prix Goncourt des Lycéens (2018)), Itália (Premio Strega Europeo (2019)), Holanda (Europese Literatuurprijs (2020), EUA (Los Angeles Times Book Prize for Fiction (2020)) e Inglaterra (International Booker Prize (2021).
Da minha experiência, posso dizer que é um livro curto, rápido na forma, espaçado no conteúdo, capaz de produzir fortes sensações. A escrita é muito direta, frases curtas, descrições contínuas de ação que fazem com que não paremos de ler, porque estamos sempre atrás do próximo passo. Mas o que se conta, deambula entre um cenário de guerra e um cenário de alguma tranquilidade africana, com laivos mágicos que nos abrem uma porta para um mundo particular, o deste romance.
A parte da guerra é muito conseguida, distinta de tudo o que já li, muito focada na saída das trincheiras, mas em particular no interior de um soldado (do Senegal, a combater em nome da França) que vai conjugando aquilo que já viveu com aquilo que está a viver. Contudo, a componente contextual, da vida e vivências assim como forma de abordar o mundo pelo protagonista é aquilo que torna o livro particular e intenso. O discurso é apresentado num tom despretensioso e muito próximo, em que as histórias do Senegal nos fazem lembrar as histórias da Nigéria de Chinua Achebe em “Quando Tudo se Desmorona” (1956) e do Sudão, por Tayeb Salih em "Época de Migração para Norte" (1966), nomeadamente na relação entre o olhar da Europa e o olhar de África.
A proximidade com as obras acima citadas é tanto mais evidente porque Diop, tal como Salih e Achebe brilharam nas universidades europeias e americanas por onde passaram, o que acaba também a contribuir para um conjunto de obras mais acessíveis aos olhos dos leitores europeus.
O livro está editado em Portugal pela Relógio d'Água.
Nota GoodReads: 5 em 5.
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