“Imperium” (2006) é uma obra de ficção histórica com capacidade para nos envolver nas tramas da época, entretendo-nos enquanto vamos aprendendo sobre a época, neste caso o século I a.C. na Roma Antiga. Robert Harris escolheu como personagem principal Marco Túlio Cícero, o grande orador, mas principalmente o senador romano que mais escritos nos deixou e que perduraram até aos nossos dias. São esses escritos que permitem aos historiadores ter um acesso privilegiado a uma época já com 2000 anos, assim como aos romancistas aceder a matéria direta para o seu trabalho de recriação. Harris nada arrisca na forma, limita-se a descrever a ação, situando no espaço-tempo e gerindo conflitos conhecidos da história, criando suspense que nos faz virar páginas, que nos levam a descobrir os porquês, usando alguns comportamentos sociais como adereços, mas deixando praticamente de fora os mundos interiores de cada personagem.
O cerne do livro, por ser de Cícero que se trata, é a política e a justiça. Cícero no papel de advogado serve que nem uma luva no papel de detetive à descoberta de culpados, os malvados que perturbam o sentido da democracia romana. Harris usa um artífice que torna o mundo mais interessante e facilitador do ficcionar, colocando-nos a ver Roma a partir do ponto de vista de Tiro, um servo de Cícero, que relata em modo diário as aventuras de Cícero, dada a sua proximidade enquanto secretário e escriba. Em particular, esta abordagem permite dar a conhecer parte das estruturas sociais, classes e etiquetas, ainda que com alguma superficialidade.
Na forma, ao contrário do tradicional em literatura, a primeira parte do romance é a mais bem conseguida, atingindo um clímax a meio do livro tão intenso que faz com que a restante metade não passe de uma repetição do processo dedicado a um outro caso de investigação legal. Por isso, tendo gostado de ler, não me deixou com grande apetite de continuar para os restantes dois volumes.
Mais livros sobre a Roma Antiga:
Da História de Roma Antiga, VI
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