"Emília" (2023)

"Emília" (2023), de Filipa Amaro, é a mais recente série da RTP, e apresenta um discurso inteligente sem nunca se levar demasiado a sério. Parecendo por vezes dirigida a um público mais jovem, apresenta um discurso cómico-existencialista, capaz de cruzar a realização pessoal pela arte com o síndrome do impostor e um certo niilismo suave.

"Emília sonha ser a melhor bailarina do mundo, mas Emília nunca fez efetivamente nada para o concretizar. Hoje faz 25 anos, começa a trabalhar na bomba de gasolina local, o que a leva a questionar-se sobre a sua vida só ser uma versão inferior ao que sempre sonhou. Nesse dia entra na bomba de gasolina Rosa, uma rapariga com quem Emília compara a sua vida nas redes sociais, o que lhe permite descobrir que há uma audição na companhia de dança contemporânea onde trabalha Rosa. A partir daí debate-se entre ir à audição, onde possivelmente pode ser rejeitada, e a possibilidade de, finalmente, mudar a sua vida e encontrar na dança o significado que tanto procura."

Ao longo dos 6 episódios acompanhamos a forma como Emília navega a realidade a partir das redes sociais, dando conta do modo como estas condicionam a sua visão do mundo, apesar da consciência da sua irrealidade. Emília, oriunda das classes baixas, é constrastada com Rosa oriunda das classes altas, por forma a permitir chegar ao que está por debaixo das condições económicas, e ao que as torna nos seres humanos que são. 

A série é curta, mas consegue lançar uma manancial de questões ao espectador, sem se preocupar em dar respostas. Dificilmente poderia aprofundar mais sem se transformar noutra coisa que não entretenimento. Mas julgo que cumpre bem o desígnio, de a partir do humor questionar as gerações que estão a formar-se e à procura de respostas. Todas juntas, podem ver-se como um agregado da questão que a própria criadora, Filipa Amaro, deixou no Instagram: “O que é que eu tenho de tão importante para dizer que merece atenção de outras pessoas, durante 25 minutos?”

Para tudo isto contribui a excelência das performances de Beatriz Maia e Catarina Rebelo, assim como a realização de Filipa Amaro. Existem alguns problemas de montagem pelo meio, mas nada que perturbe o fluir de toda a série.

São 6 episódios de 30m, no RTP Play.