setembro 23, 2012

Prometheus, a arte da forma

Não vi quando saiu, mas desde então tenho lido muitos comentários ao filme, muitos negativos, e isso foi bom, porque me baixou imensamente as expectativas, contribuindo provavelmente para o facto de eu ter sentido o filme como uma obra poderosa. Um filme é muito mais do que aquilo que diz, para mim é a forma como o diz que mais interessa.


Prometheus serve-nos uma atmosfera que em nada fica a dever a Alien (1979), cruza uns rasgos musculados de Aliens (1986) mas pouco. O filme suga-nos para o seu interior, e por duas horas sentimos aquele espaço como real, existente e consequente. Isto era o forte da série, e continua a ser aqui. Esteticamente assistimos a um ambiente que mescla muito bem cenários e mecânicas barrocas que nos atiram para o nosso passado, trabalhados num tom grotesco, com cenários de um futuro tecnologicamente avançado. O cruzamento funciona ainda entre o puramente orgânico e o puramente artificial, criando uma mistura que nos deixa pouco à vontade, e cria a estranheza em nós para que o thriller não se sinta forçado, mas antes faça parte do ambiente de modo natural. Já não é apenas HR Giger que temos aqui, porque o grotesco foi minorado, no sentido em que as criaturas são agora totalmente antropomórficas (não todas), criando familiaridade e proximidade afastando-nos do puro grotesco. Mas o seu sentido atmosférico continua aqui a imperar nomeadamente na tendência para um monocromático de tons azulados.


A essência narrativa do filme está na ausência de respostas para as questões levantadas, nomeadamente o graal, tantas vezes buscado. Ainda que aqui a semi-resposta tenha procurado fundir o esoterismo com alguma cientificidade. Diria mesmo que nesta primeira parte Prometheus nos lança numa espécie de ideal semi-criacionista. Semi porque não está de acordo com as datas nem com a identidade do criador definido por esse movimento. Aliás talvez mesmo para fugir a essa ligação, os "criadores" sejam aqui apelidados de Engenheiros. Ainda assim a tese é um tanto ridícula no sentido em que a hipótese apresenta o planeta Terra plenamente desenvolvido, com toda a atmosfera necessária à existência de vida já estabelecida, e no entanto incapaz de dar origem à vida, o que não faz qualquer sentido numa perspectiva evolucionária. Ou seja, aqui advoga-se que teria sido necessário o aparecimento de uma estrutura (DNA) vinda de fora do planeta para acender a centelha da vida.


Não sei como se confirmará tudo isto numa segunda parte, já que se entre-abre a discussão sobre quem criou os engenheiros, atirando-nos para o mito de Prometeu. O filme foi claramente feito a pensar numa segunda parte, e sem ela fica tudo em aberto. É mais do que jogar no minimalismo, ficam mesmo muitas pontas soltas que só poderão ser fechadas numa segunda parte. Não é contudo por não acreditar nesta ideia criacionista a partir do exterior que desdenho o filme, se não teria de o fazer em muitos outros ângulos, trata-se de um filme ficcional, estamos no reino do mito, e o filme nada perde com isso.







2 comentários:

  1. Não sei pq muitos criticaram... achei que foi um filme onde o telespectador foi chamado pra pensar junto...
    Eu gostei tanto que publiquei uma toeria sobre os engenheiros, a terra e a própria criação do Alien... dê uma passada lá...
    quero saber sua opinião

    http://drunkwookieblog.wordpress.com/2012/07/04/prometheus/

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  2. [Comentário deixado no blog de @drunkwookie ]

    Gostei das suas teorizações sobre os Engenheiros, muito interessante, abrem novas perspectivas de análise e interpretação do filme. Nomeadamente aquela foto com os dois extra-terrestres na Terra, supostamente antes de haver de via. Muito bom, corrobora muito das suas teorias.

    Gostei do relacionamento com "Eram os Deuses Astronautas?", interessante e acredito que temos aí uma forte ligação. Apesar de como eu disse no meu post, em termos científicos não ter qualquer base. Mas funciona muito bem em termos ficcionais.

    Eu do meu lado vou ficar esperando por Prometheus 2, não acredito que as deleted scenes do Blu-ray tragam explicações, julgo que Ridley Scott trabalhou tudo para que fossem feitos pelo menos dois filmes.

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