agosto 21, 2022
O Impossível
julho 24, 2022
Inacreditável (2019)
"Unbelievable" (2019), série da Netflix, trabalha em profundidade questões empáticas e éticas no trabalho de investigação policial, com particular ênfase na relação com vítimas de violação. Vai ao fundo de um problema social complexo, não só do crime, mas em particular das vítimas e do modo como as instituições as tratam, começando pela polícia, passando pelos tribunais, mas também pela saúde. Fá-lo de uma forma totalmente original, ao contrastar o olhar do polícia masculino com o polícia feminino, algo que noutros crimes pode não fazer grande diferença, mas neste, e com as detetives aqui representadas, se torna nuclear. É uma série intensa, dura de ver, em que se dá conta da enorme importância que a comunicação empática tem, aqui com particular relevância, mas que nos faz refletir a todos os que têm de trabalhar no dia-a-dia com o outro.
julho 23, 2022
The Staircase (2022)
O Hotel de Vidro (2020)
julho 18, 2022
Na Minha Pele, uma série TV
Como se cresce e vai à escola com uma mãe que sofre de desordem bipolar tipo 1 (a mais grave) e um pai alcoólico que não trabalha, em Inglaterra, quando se tem 16 anos? É esta a premissa da série "In My Skin" que cruza comédia-negra com tragédia, e nos obriga a mudar de humor múltiplas vezes ao longo de cada episódio de 30 minutos dos 5 que constituem a série, sem contudo nos darmos conta disso. Esta abordagem narrativa cria um espelho da doença mental e aproxima-nos do interior da personagem principal, que é baseada na vida da criadora da série, Kayleigh Llewellyn.
julho 17, 2022
Biografia de von Neumann (2021)
Ao chegar ao fim de "The Man from the Future: The Visionary Life of John von Neumann" (2021), e tendo em conta a enorme particularidade do intelecto de Von Neumann — aos 6 conseguia fazer divisões com 8 dígitos de cabeça e conversar em grego antigo e latim, aos 8 trabalhava com cálculo diferencial e integral e falava Francês, Inglês e Alemão além do Húngaro, no entretanto leu uma história mundial em 45 volumes e conseguia recitar capítulos inteiros décadas mais tarde —, não consigo deixar de pensar que por mais que endeusemos alguns humanos em particular pelos seus aparentes enormes feitos, o certo de tudo é que estes nada fizeram sozinhos. Ananyo Bhattacharya esquiva-se a falar da pessoa de Von Neumann, centrando-se exclusivamente sobre os seus contributos teóricos. Para esse efeito, trabalha os contributos de Von Neumann para as múltiplas ciências — mecânica quântica, teoria dos jogos, implosão nuclear, arquitetura de computadores e a teoria dos autómatos—, e como esses conduziram no futuro outros a saltos aplicados na história da ciência e tecnologia do século XX. Deste modo Bhattacharya espera demonstrar que Von Neumann previa ou viajava no futuro, contudo, Bhattacharya esquece-se de fazer o mesmo trabalho olhando para o passado, e mais em particular para o lado. Sendo o trabalho de Von Neumann de grande valor, ele não teria existido sem todas as restantes mentes brilhantes com quem se cruzou, de Claude Shannon a Alan Turing, de Einstein a Kurt Gödel, de Erwin Schrödinger a Werner Heisenberg. Este endeusamento pela abstração de ideias pode ser interessante para os colegas das ciências duras, mas eu senti imensa falta do factor humano. Gostaria de ter aprendido mais sobre a pessoa por detrás do modelo usado por Stanley Kubrick para criar Dr. Strangelove, não só pelas profundas contradições morais, mas também para compreender melhor a base dos seus processos criativos.
julho 16, 2022
O Jogo da Linguagem (2022)
“The Language Game” (2022) é mais um importante contributo para a abordagem comportamental da linguagem em detrimento da abordagem inata. Já aqui tinha trazido o trabalho de Daniel L. Everett, “How Language Began: The Story of Humanity's Greatest Invention” (2017), assim como "Louder Than Words: The New Science of How the Mind Makes Meaning" (2012) de Benjamim Bergen, ou ainda “Origins of Human Communication” (2008) de Michael Tomasello. A abordagem de Morten H. Christiansen, da U. Cornell e Nick Charter, da U. Warwick, é inovadora, apresentando uma teorização, com base em estudos empíricos, que defende a interação humana como base da linguagem humana, propondo que a produção de linguagem ocorre a partir de jogos de charadas. Cada um de nós procura compreender o outro e pela improvisação fazer-se compreender da melhor forma possível. Quando em face de alguém com quem não partilhamos a mesma língua, partimos para o uso de sons, expressões, gestos, poses, desenhos, construindo charadas que o outro possa chegar a compreender.
julho 11, 2022
Ouistreham (2022)
julho 03, 2022
A vida de Montaigne, segundo Bakewell
Adoro Montaigne, mas soube-me a pouco o livro de Sarah Bakewell, "How to Live, or a life of Montaigne in one question and twenty attempts at an answer" (2010) de quem tinha adorado "At the Existentialist Cafe: Freedom, Being, and Apricot Cocktails" (2016), talvez porque sabia menos sobre Sartre, Beauvoir e Heidegger. Já me tinha acontecido com o livro de Stefan Zweig, "Montaigne" (1942), sobre o qual disse "não se pode chamar a um texto que aglutina um conjunto solto de ideias sobre alguém uma biografia". E agora com Bakewell, voltei a sentir um pouco disto mesmo. Contudo, refletindo, talvez o problema não esteja nos biógrafos, nem tão pouco no biografado, mas na obra principal deste. O brilho dos "Ensaios" (1580) está no modo como nos dá acesso ao modo de ver do próprio Montaigne. Lendo os Ensaios conseguimos em vários momentos calçar as suas botas e viajar pelo seu mundo. Uma viagem que segue pelo meio dos seus pensamentos, sem inícios nem fins, já que é de um modo associativo que cada ensaio se vai desenvolvendo e nos oferecendo acessos ao seu mundo interior e ao passado. Tentar transformar este mundo rizomaticamente livre num encadeado fixo de momentos temporais parece estar destinado à decepção.