julho 23, 2022
O Hotel de Vidro (2020)
“O Hotel de Vidro” surgiu depois do enorme sucesso conseguido com “Station Eleven (2015)”, transformado em série para a HBO. Neste sucessor, Emily St John Mandel continua a oferecer-nos excelência no contar de histórias, ligando personagens, lugares, tempos e eventos numa sucessão que nos agarra e faz virar página atrás de página. Se não existe relação entre as premissas de ambas as obras, o contar de histórias, no tom e ritmo, de emocionalidades suaves, distantes e pausadas aproxima-as tremendamente. Por sua vez, as premissas de ambos tratam temas fortes, no primeiro o pós-apocalipse, neste o colapso financeiro de 2008. Mandel cruza assim um sentimento na forma, do tipo cinema independente — de Hal Hartley ou Jim Jarmusch —, com premissas intensas tipo hollywoodescas, criando uma voz muito própria. Os seus livros não trazem grandes mensagens, não nos comovem em cada página, mas simultaneamente não nos abandonam nem deixam de nos fazer refletir, ficando connosco depois do final. Como se Mandel falasse a partir de uma posição que lhe permite dar a compreender os problemas, mas sentindo não deter qualquer poder para lhes responder. Este sentir surge como parte de uma certa melancolia que olha o mundo como um emaranhado de acontecimentos que se ligam e desligam pelo acaso, sem intenção nem desígnio.
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