"Ouistreham" (2022) (Between Two Worlds) é um filme muito na linha do trabalho de
Stéphane Brizé sobre as condições do mercado de trabalho na Europa, em particular em França, mas Emmanuel Carrére adiciona uma variável nova, que é o olhar de quem está acima e que se assume como defensor dessas classes, sem conhecer efetivamente o que é viver nessas condições.
"As pessoas têm de perceber que não somos vistas, somos como as plantas. Já trabalhei nos escritórios do conselho geral ou numa gráfica em Colombelles, e a maioria das pessoas nem sequer nos cumprimenta."
Temos assim Juliette Binoche a fazer o papel de uma escritora que para escrever sobre o tema, de uma forma dita genuína, se disfarça para entrar no mundo das mulheres de limpeza, construindo relações com essas pessoas a partir de uma condição que não é a sua. Este detalhe acaba por ditar todo o impacto daquilo que está em jogo na vida destas pessoas.
Tudo ganha ainda mais corpo quando percebemos que a maior parte das mulheres que envolvem Binoche ao longo do filme, são elas mesmas trabalhadoras da área que aceitaram dar a cara pelo filme, e ainda que todo o filme é baseado num livro e numa escritora real, Florence Aubenas escreveu "Le Quai de Ouistreham" em 2010, em plena crise internacional.
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