Como se cresce e vai à escola com uma mãe que sofre de desordem bipolar tipo 1 (a mais grave) e um pai alcoólico que não trabalha, em Inglaterra, quando se tem 16 anos? É esta a premissa da série "In My Skin" que cruza comédia-negra com tragédia, e nos obriga a mudar de humor múltiplas vezes ao longo de cada episódio de 30 minutos dos 5 que constituem a série, sem contudo nos darmos conta disso. Esta abordagem narrativa cria um espelho da doença mental e aproxima-nos do interior da personagem principal, que é baseada na vida da criadora da série, Kayleigh Llewellyn.
"Growing up, my mum had bipolar disorder type one. So quite severe. The love you have for your mother or father is so deep-seated, there’s a contradiction: you love the person, but you also feel ashamed of them, because you’re a teenager and you don’t know any better.” Kayleigh Llewellyn, criadora de In My Skin
A série conduz-nos através da vida dupla de Bethan que na escola conta aos seus amigos e professores a alegada vida aborrecida que leva com o excesso de proteção dos seus pais de classe média-alta, enquanto em casa tem de tomar conta da mãe, levá-la a meio da noite para o hospital para evitar que se magoe, enquanto o pai passa a vida bêbado ou de cerveja na mão, sem direito a jantar, almoço ou qualquer outra atenção, exceptuando as vezes em que a avó que vive longe os visita.
Esta fusão entre o irreal e o real, entre o cómico e o trágico, torna a experiência ligeiramente menos pesada, contudo fica connosco o impacto da doença mental e o quão pouco preparada está a sociedade para lidar com ela. Nomeadamente todo o medo que trespassa Bethan de que alguém descubra a verdade sobre a condição da sua mãe, nunca a série se coibindo de mostrar a negritude das relações escolares, do modo como a afirmação social entre adolescentes corrói o interior e tão facilmente pode produzir marcas que perdurarão. No contraste, temos a relação entre a mãe e a filha que nos apanha de surpresa e faz acreditar que nem tudo aqui tem de ser mau.
Se tudo isto não fosse suficiente, saber que a série "foi escrita em cinco semanas, filmada em cinco semanas e feita para um orçamento de cerca de £500" e mesmo assim ganhou o BAFTA da Melhor Série de Drama e do Melhor Guião torna-a obrigatória, podendo ser vista integralmente no FilmIn.
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