Conheci Chimamanda Ngozi Adichie através da sua TED talk “O Perigo da História Única” que me deslumbrou pela oratória e assertividade. Desde então tive sempre curiosidade de a ler, mas só agora o fiz tendo começado com este que é o seu segundo livro “Meio sol amarelo”. Não me desiludiu, embora esperasse mais, mas é uma belíssima obra, e uma grande homenagem à história da Nigéria, nomeadamente para quem acredita que nós somos feitos das histórias que contamos.
O livro é uma janela para a Nigéria, um país Africano com uma história imensa, de que Adichie nos dá aqui a conhecer apenas uma pequena parte, a relacionada com as etnias e os seus problemas decorridos há 50 anos. Um país que já nos deu um nobel, Wole Soyinka, mas ainda mais relevante, Chinua Achebe que foi um dos grandes agentes da transformação cultural literária da Nigéria e todo o continente africano. Adichie ainda introduz um outro tema histórico, os bronzes de Igbo-Ukwu do século IX, mas muito en passant, sobre o que gostaria de ter lido muito mais. Olhando à vida de Adichie, família e nascença, existem vários decalques autobiográficos que emprestam todo um substrato realistico-pessoal à história que vai servindo a novelização.
Em termos de enredo, o livro é perfeito, mantendo-nos sempre interessados, desde o início ao final. É um livro grande, mas com 5 personagens principais, permite que Adichie vá preenchendo o universo contando com as suas várias perspetivas. Contudo por várias vezes pensei que eram personagens a mais, que os saltos entre eles, apesar de introduzirem novidade, apresentavam registos excessivamente diferenciados. Por outro lado, apesar de termos personagens da classe alta, média e baixa num conjunto de 5, o mundo apresentado é demasiado britânico. Até o modo como Ugwu é tratado, como criado e servo, dá conta da colagem ao mundo britânico, a diferença de classes, e por isso e para personagem principal acaba bastante mal-tratado, sem a devida progressão nem suficiente transformação.
Apesar das críticas, o que mais gostei foi sem dúvida a construção de mundo, o sentir a vida africana sempre que voltava ao livro, e acabava sendo aquilo que me puxava de novo para a sua leitura. E no entanto, havia ali uma guerra a decorrer, com impactos terríveis, que me pareceram muito próximos de um autêntico genocídio, mas Adichie parece preferir a esperança. Senti falta de maior discussão política sobre tudo o que se passou ali, e do que depois procurei, fiquei a saber que por mais terrível que nos pareça a leitura, a realidade foi muito pior, basta pesquisar algumas fotografias da guerra do Biafra e surgem crianças num estado de desnutrição indizível, padecendo de Kwashiorkor, a falta de proteína que transforma as crianças em esqueletos andantes de barriga inchada...
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