Um dos aspectos que me parece mais relevante e é referido por quase todos os entrevistados, é o eterno problema do digital com a sua "atitude" muito pós-moderna da temporariedade e da descartabilidade. Ou seja, no reino do digital, tudo dura muito pouco, e tudo é muito facilmente substituído por outra moda qualquer. Não precisamos de voltar muito atrás no tempo, para saber que magníficos livros digitais editados no formato de CD-Rom são hoje ilegíveis. Tenho-os aqui na minha estante, mas não lhes posso aceder, a não ser que recorra uma miríade de processos que me permitam emular o sistema informático do passado, isto para não falar da grande possibilidade de os bits que estavam naquele CD já terem desaparecido.
Ou seja, quando os entrevistados nos falam do objecto livro como "permanently available, to remain accessible" que "the beauty of the book is that it is absolutely static, it is printed, and the content never changes", sou obrigado a dar-lhes razão. Quando dizem que o livro digital é algo que "progresses every month" que "the ebook is not going anywhere, every year we got more and more", é também verdade. Desde que lançámos os e-readers da moda, a quantidade de formatos de livros digitais não tem parado de aumentar. Não posso deixar de sublinhar uma frase que me ficou gravada quanto aos e-readers,
"This technology hasn't found what is good at, yet"Por outro lado, e em termos de experiência táctil mas acima de tudo estética, é verdade também que "all the eBooks are presented in the same manner, and this changes the option to experience the singleness of each book". Ou seja não existe um objecto, uma identidade livro, existe apenas algo que está ali dentro, mas que nunca assume o carácter de uma obra, de um todo. E isto leva-me a um último ponto, o da posse do objecto
"The chance to own something, you valued it as possession... I can't imagine giving someone a ebook for Christmas"
Mas reflectindo sobre a posse. também me lembro bem de ter esta atitude face aos CDs e aos DVDs, e a realidade é que estes acabaram por desaparecer. E isso deve fazer-nos questionar sobre as diferenças em termos de medium e plástica expressiva. Quando falamos de um álbum de um músico, ou de um filme de um realizador, não existe um objecto que o encarne. Porque o CD é apenas um suporte, o album circula na rádio, na televisão, no cd, no vinyl, na cassete, no mp3, na internet, tal como o filme. A essência desta arte não está no seu suporte. Por outro lado, e seguindo esta abordagem lógica, o livro está muito mais próximo da tela do pintor. Apesar da sua reprodutibilidade, este mantém ainda resquícios dessa fisicalidade, dessa unicidade, que faz do livro um objecto que funde o discurso e o objecto num só. Como é dito a uma certa altura "books are an aesthetical medium as and informational medium".
Para fechar, uma última constatação que acredito que muitos de nós poderemos vir a sentir no futuro próximo, "ebooks are an invisible abstraction, and the more it happens the more the tactil impression will become important".
Sobre o documentário, está muitíssimo bem conseguido, é mais um belíssimo trabalho de estudante. Hanah Ryu Chung realizou este projecto como trabalho de fim de licenciatura na Ryerson University, Toronto. Foi pena apenas os problemas de som na captação de algumas entrevistas, mas dada a qualidade de tudo o resto, torna-se perfeitamente sofrível. Vejam aqui abaixo, são 20 minutos, mas valem bem o tempo investido.
This documentary is a humble exploration of the world of print, as it scratches the surface of its future.
The act of reading a “tangible tome” has evolved, devolved, and changed many times over, especially in recent years. I hope for the film to stir thought and elicit discussion about the immersive reading experience and the lost craft of the book arts, from the people who are still passionate about reading on paper as well as those who are not.
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