La Maison en Petits Cubes (2008) de Kunio Katō
Neste sentido e analisando alguns dos projectos que aqui deixo, não será difícil intuir que a natureza do modelo de organização ideias a que chamamos Narrativa é muito mais do que um processo estético de expressão, é ele próprio o modo como estruturamos o nosso ser. Aliás Bruner já o tinha dito
"We organize our experience and our memory of human happenings mainly in the form of narrative-stories" [The Narrative Construction of Reality, 1991, pdf]
"We seem to have no other way of describing "lived time" save in the form of a narrative. Narrative imitates life, life imitates narrative. "Life" in this sense is the same kind of construction of the human imagination as "a narrative" is. It is constructed by human beings through active ratiocination, by the same kind of ratiocination through which we construct narratives." [in "Life as Narrative, 2004, pdf]Um dos projectos que me vem imediatamente à memória é a corrente de vídeos de fotografias no tempo tiradas de modo autobiográfico. Em 2006 Noah Kalina lançou no YouTube um vídeo, no qual o próprio se tinha fotografado a si próprio ao longo de 6 anos, criando assim um filme com mais de 2000 fotografias. As imagens apesar de serem meramente descritivas de cada momento quando encadeadas no filme reconstroem-se num processo narrativo da vida de Noah, e nós ficamos ali a ver procurando decifrar o passar dos dias, das estações, do envelhecimento. O fascínio que as imagens, ou melhor, que a transformação da pessoa ao longo do tempo provoca é forte, tendo feito do vídeo um viral intemporal. Em 2007 quando aqui falei dele tinha cerca de 7 milhões de visualizações, agora em 2012 chega aos 23 milhões.
Noah takes a photo of himself every day for 6 years (2006) de Noah Kalina
Em 2007 surgiu um dos projectos que viria a tornar-se num marco histórico da arte dos videojogos, sendo ao mesmo tempo um dos projectos mais interessantes sobre esta ideia da "passagem pela vida", Passage (2007), criado por Jason Rohrer. O jogo apresenta-se numa estética de 8 bits, e leva cerca de 5 minutos a concluir, durante os quais somos levados a questionar-nos sobe a vida, a morte e os dilemas da vida a dois. A arte visual evita a ligação pela mera mimesis, obrigando o jogador a procurar sentido na progressão do jogo. À medida que este avança vai desvelando-se para o jogador numa panóplia de sentidos e sentimentos.
Passage (2007) de Jason Rohrer
La Maison en Petits Cubes (2008) de Kunio Katō
Em último lugar deixo o filme que me levou a fazer este artigo, porque me fez repescar todos estes projectos, Le Mirroir (2012) de Antoine Tinguely e Laurent Fauchère. Ao contrário dos dois anteriores projectos, e em sintonia com Noah, vemos aqui de forma totalmente mimética a progressão da vida, sentimos o evelhecimento, e os artíficios estílisticos servem apenas de complemento a algo que inquestionavelmente nos leva a questionar sobre o que somos e como somos. É interessante perceber como algo que se limita a plasmar a progressão da vida de uma pessoa, nos toca tanto. Mais uma vez a narrativa da vida sai premiada em vários festivais, assim como em apenas 2 semanas conseguiu arrecadar mais de 750 mil visualizações no Vimeo. Vale a pena espreitarem o makin of depois.
Le Mirroir (2012) de Antoine Tinguely e Laurent Fauchère
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