julho 21, 2012

a essência está nos personagens

Descobri Andrey Zvyagintsev há dias através do seu último filme Elena (2011). Fiquei encantado com a obra, uma fotografia belíssima dava corpo a uma narrativa de enorme subtileza tudo orquestrado sob um manto sonoro de Philip Glass. Por isso quis saber mais sobre o autor, e cheguei até ao seu primeiro filmeVozvrashchenie (The Return) (2003).


Vi entretanto The Return e fiquei muito impressionado. É um filme mais cru que Elena, apresenta menos qualidade técnica, mas compensa fortemente em qualidade artística, nomeadamente no campo da fotografia. Porque nem sempre a luz é compensada de forma correcta, mas por outro lado a composição é magistral. A subtileza narrativa continua lá, nos mesmos moldes de Elena, o que evidencia um claro registo de autor. Embora todo o trabalho de Zvyagintsev seja fortemente dependente do colectivo, começa na essência do casting dos actores, passa pela fotografia, música, guião, destacando apenas as áreas vitais. 


Nos dois filmes de Zvyagintsev não consigo deixar de recordar a força da interpretação dos actores. E em The Return isto é absolutamente estarrecedor, com os desempenhos dos dois jovens, Vladimir Garin (Andrey) e Ivan Dobronravov (Ivan). Não é apenas uma questão de naturalismo, é muito mais do que isso, é um encarnar do personagem e uma capacidade para o levar aos seus extremos. Obviamente que tudo isto é fortemente trabalhado pela excelência da direcção de actores, assim como pela montagem que apenas destaca o melhor em cada um destes elementos, indo assim muito para além daquilo que uma encenação em palco consegue dar.


Aliás descobri depois de ver o filme, que Zvyagintsev terá dito ao seu produtor, que se este não encontrasse "actores de génio" para os papéis dos dois rapazes, não valeria a pena fazer o filme. E é bem verdade, The Return é um filme no qual o enredo vive da interpretação dos seus actores. Não seguimos as hipóteses narrativas, seguimos aqueles rapazes, porque procuramos perceber quem são, o que sentem, porque sentem, porque reagem e não reagem. A abertura do filme com Ivan no topo de uma estrutura incapaz de saltar ou descer, por medo da reprovação dos seus colegas, é um indício de que tudo se concentrará na essência do ser dos personagens, e não no plot.

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