No campo visual, a iluminação peca pela falta de algum contraste, julgo que poderia ter aproveitado na pós-produção para contrastar e saturar um pouco mais, ainda que aceite que esta tenha sido a sua opção estética.
Aliás, até porque ele foge às correntes atuais de texturamento dos personagens 3d, apresentando-os numa base muito mais plástica, digo quase de bonecos de cera. Nesse sentido, e tendo em conta a luz e efeito de cera, por vezes fico com a ideia que o que se pretendia era simular esteticamente um visual de stop-motion. Eu diria que em termos artísticos o que está mais bem conseguido é mesmo a direcção e a edição, fazer um filme de animação de 13 minutos, é muito, mas mesmo muito complexo. É preciso todo um planeamento brutal, ainda para mais quando se tem uma direcção e edição desta qualidade que faz aumentar exponencialmente a complexidade da linguagem visual.
Os personagens são de Mauricio Galvez
Dito tudo isto, vale agora a pena procurar saber mais sobre o que está por detrás. Tomás Vergara é um chileno de 25 anos, auto-didacta em 3d e amante de cinema. Deixou o seu trabalho a tempo inteiro na Publicidade, para dedicar 6 meses completos a realizar este projecto, num ambiente de total isolamento.
Para criar The Chase utilizou o Maya, After Effects e Premiere e a base de dados de sons Soundsnap.com. Segundo nos conta no seu blog de produção, apesar de saber alguma coisa sobre a teoria de animação e rigging, acabou por apenas aprender verdadeiramente o que eram durante os seis meses de construção de The Chase. É verdade que a animação não é brilhante, ainda assim, para alguém que aprendeu sozinho e em tão pouco tempo é excepcional.
Tomás Vergara refere ainda no seu blog que se soubesse o que sabe hoje quando era pequeno, já teria feito um filme destes antes pois considera que não foi assim tão difícil como isso. Que é possível, e acessível a todos, desde que se faça um bom planeamento. O que eu concordo mas o mais importante é o que ele diz a seguir, "To make this thing happen it will take hard work, though." E para isso é preciso uma motivação intrínseca brutal, uma enorme de vontade fazer. Começar, avançar, enfrentar as dificuldades, e chegar ao final do planeamento, nunca recuar.
A última coisa interessante deste projecto é o local onde foi feito. Vergara vivia em Santiago do Chile, e mudou-se 780km para sul, para Puçon. Um local turístico que no Inverno pratica preços muito em conta para quem queira passar lá umas temporadas. Aí isolou-se numa pequena cabana de Verão, apesar do Inverno que corria lá fora, e trabalhou durante 6 meses a fio para criar The Chase. Isto é verdadeiramente o sonho de muitos criadores, remeter-se ao isolamento e dedicar-se de corpo e alma à sua obra, que no final assume simbolicamente quase o valor de um "filho".
Vergara colocou o filme online assim que o terminou, no dia 20 Fevereiro, no primeiro dia teve apenas 405 visualizações o que como ele refere foi um pouco triste, apesar de não perder a esperança. Então no final da primeira semana já contava com 250 mil. Este projecto impressiona por todo este conjunto de elementos, o filme terminado, a formação do autor, o lugar onde foi desenvolvido, e a partilha totalmente gratuita com a comunidade online. Tudo junto parece quase um filme em si. Dito tudo isto, vejam o filme aqui abaixo, e visitem o Blog de Produção e a página de Facebook do filme.
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