Algumas das notícias mais badaladas sobre a irrelevância das universidades nos dias de hoje costumam focar-se em jovens brilhantes que desistiram da universidade para criar empresas tecnológicas e se tornaram milionários. Exemplos não faltam, de Bill Gates a Steve Jobs, passando por Mark Zuckerberg ou Jack Dorsey, ao mais recente Alexandr Wang. Se esse for o vosso propósito, ser milionário, nada contra. Mas o exemplo de Dexter Holland, vocalista dos The Offspring, que desistiu da Universidade para projetar a banda e afirmar a sua carreira internacional, tendo depois voltado para terminar o seu Doutoramento em Biologia Molecular, com uma tese em HIV, serve para demonstrar que a universidade é, antes de qualquer outra coisa, um centro de criação de conhecimento, não de dinheiro.
maio 29, 2022
As Universidades não são centros de formação são centros de criação de conhecimento
maio 28, 2022
Deuses e robôs
Tinha grandes expectativas sobre "Gods and Robots: Myths, Machines, and Ancient Dreams of Technology" (2018) de Adrienne Mayor, que não se goraram por completo, mas que acabaram por ficar bastante aquém do enorme potencial. Esperava um discurso mais assente nos interstícios da tecnologia, na descoberta das criações humanas ao longo da história, com detalhe sobre os comos, nomeadamente as mecânicas, design, objetivos e inovação humana. Mas Mayor foca-se quase exclusivamente no lado mitológico, dando conta de alguns desses elementos passados ao real não forma de esculturas, mas centrando todo o seu discurso em hipóteses das representações míticas, oferecendo muito pouco sobre o lado material de quem criava e inovava.
"Rebecca" (1938) de Daphne Du Maurier
"Rebecca" (1938) é um livro imensamente apreciado, inicialmente mais pelo público, mas hoje também por alguma crítica. Já o tinha tentado ler, mas não tinha gostado da escrita. O filme homónimo de Hitchcock também não me tinha deixado qualquer marca particular. Mas voltei agora a insistir, em mais uma tentativa para tentar compreender o que gera tanto interesse. Gostei da leitura, nomeadamente a partir do meio, onde o enredo nos agarra e não conseguimos parar de ler, mas no final soube-me apenas a mais uma história de crime.
maio 22, 2022
Um Reino Maravilhoso
Chega-se ao final desta obra não só com uma enorme vontade de visitar o Reino Maravilhoso, mas também, estranhamente, com uma certa pena de não se ter nascido transmontano! Graça Morais foi por estes dias agraciada com o Doutoramento Honoris Causa pela UTAD, mas Miguel Torga deixou-nos há muito, ambos artistas transmontanos, aqui evocados conjuntamente, Torga com um conto dedicado a Trás-os-Montes e Morais com cerca de 50 pinturas e desenhos. O conto termina evocando outro vulto transmontano, Camilo Castelo Branco.
maio 21, 2022
Projeções neuronais
"Projections" (2021) é um livro de memórias de um psiquiatra americano que desenvolve investigação no domínio da engenharia neuronal. Karl Deisseroth foi um dos primeiros cientistas, no início dos anos 2000, a demonstrar a possibilidade de ativar/desativar neurónios por via da luz, um processo que entretanto ficou conhecido como optogenética. Por este meio é possível reajustar o funcionamento de grupos de neurónios que se encontrem a funcionar incorretamente, conseguindo provocar alterações comportamentais ao nível da procriação, memórias, adicção ou alimentação, sendo vista como uma das técnicas mais revolucionárias das neurociências. Ao longo do livro, Deisseroth fala do desespero e frustração sentidos na sua atividade clínica como as principais forças motrizes para o seu envolvimento com a bioengenharia que o conduziriam ao desenvolvimento da optogenética. Em 2021, Deisseroth foi premiado com o Lasker Award, o chamado nobel americano da medicina pelo seu contributo para a optogenética.
maio 20, 2022
Quando o selo de qualidade não funciona
Este livro não é o que pensam. Não é sobre a Internet. E é altamente Não recomendado. O livro, "The Internet Is Not What You Think It Is: A History, A Philosophy, A Warning" de Justin Smith publicado pela Princeton University Press neste ano de 2022, é sobre um monte de interesses específicos do autor que só tangencialmente se relacionam com a internet. Mais, o autor não tem ideia nenhuma sobre aquilo que a internet é, seja na sua essência tecnológica, seja na sua função de comunicação. Partes do texto parecem tiradas de artigos de jornal, outras partes parecem discussões que tivemos nos anos 1990 sobre a internet. A grande questão que se coloca é porque é que este livro foi editado pela Princeton Press. Era suposto o selo da editora garantir qualidade académica ao que edita. Não era difícil olhar para o currículo do autor e perceber que a Internet, tanto pelo lado das ciências da computação, como pelo lado das ciências da comunicação, nunca fizeram parte da sua formação. Aceitar que alguém fale de tudo, apenas porque cola alguns nomes respeitados da história da filosofia, parágrafo sim parágrafo não, é meio-caminho para descredibilizar toda a editora.
maio 15, 2022
“Vladimir” (2022) de Julia May Jonas
maio 12, 2022
O Instinto Humano
Miller passou as últimas décadas a defender a ciência por detrás da teoria da evolução em tribunais, apresentando argumentação contra os movimentos de criacionistas e defensores do design inteligente. Para quem ainda possa ter dúvidas sobre a evolução, nomeadamente fique reticente quando ouve que “tudo não passa de uma teoria”, Miller faz aqui um bom trabalho de desmistificação, apresentando evidências, ao nível do DNA, do processo evolutivo da vida na Terra. Mas Miller não escreveu “The Human Instinct”(2018) para explicar o suporte existente à teoria de Darwin, o seu objetivo é bastante mais vasto. A questão central aqui é a de saber se o evolucionismo por ter morto Deus, como disse Nietzsche, nos deixou realmente órfãos e entregues ao niilismo, ou se podemos encontrar no próprio processo evolucionário algo mais.
maio 08, 2022
O Massacre de Nanquim
Não tivesse Iris Chang cometido suicídio em 2004, provavelmente não teria lido o seu livro “The Rape of Nanking” (1997). Chang foi fortemente atacada pelo Japão na forma da sua desacreditação, mas não parece ter sido esse o único motivo do seu fim. Quando morreu estava a trabalhar o tema da “Marcha da Morte de Bataan”, mais um crime de guerra japonês pouco conhecido. A leitura de “The Rape of Nanking” foi uma das minhas mais violentas experiências de leitura de sempre, por duas vezes senti o vómito subir-me à garganta. No final do livro, percebe-se que muitos dos que sobreviveram àquele inferno pereceram precocemente pouco depois. Isto fez-me sentir que talvez a nossa capacidade cognitivo-emocional não esteja preparada para tamanha dissonância. Levar uma vida normal de empatia humana enquanto se convive interiormente com horrores deste calibre.