“Vladimir” (2022) faz parecer que Philip Roth voltou para escrever sobre os efeitos do MeToo na academia e na arte, mas agora como mulher. Esta primeira obra de Julia May Jonas é irrepreensível na escrita, estrutura e erudição. Sob uma capa de aparente simplicidade narrativa — evocando "Misery" de King, "
Rebecca" de Du Maurier e "
Lolita" de Nabokov (autor que inevitavelmente se liga ao título) — Jonas vai lançando todo um questionamento avassalador sobre aquilo que somos em cada momento. Motivada pelos ataques institucionais do MeToo, Jonas coloca-nos na pele de uma professora universitária de 58 anos, muito certa do seu lugar, mas com fortes assaltos de dúvida sobre esse lugar. Entre a identidade que arquitetou com base no mundo para o qual erigiu as suas defesas, e o novo mundo que coloca em causa a existência dessas mesmas defesas, acaba colocando em causa a sua própria pessoa. Mas tudo isto é trabalhado num tom de comédia-negra, com a leveza entremeada por rasgos de incisiva análise do que fazemos e porque fazemos. É um ‘campus novel’ totalmente atual, capaz de ir além da crítica interna da academia, colocando o dedo no embate do MeToo com o Status Quo, não em defesa, nem contra, mas sim como provocação a ambos os lados.
"'Vladimir' contains far too many uncomfortable truths to be merely fun, but — especially for those of us with feet in the worlds of academia and literature — it remains, by turns, cathartic, devious and terrifically entertaining." Jean Hanff Korelitz, in New York Times