Andy Weir conseguiu novamente. 10 anos depois do brilhante trabalho de especulação científica realizado em “The Martian” (2011), localizado em Marte, traz-nos agora “Project Hail Mary”, localizado no sistema planetário de Tau Ceti, um sistema a 12 anos-luz do nosso sistema Solar, e onde se tem especulado sobre a existência de super-Terras, planetas habitáveis. “Project Hail Mary” segue a mesma fórmula de “The Martian” elevando a amplitude nomeadamente pela exposição à volta da engenharia e ciência — astrofísica (trabalhando intensamente a relatividade), cosmologia, química, biologia, evolução e linguística. Pode-se dizer que o livro é feito de problemas de engenharia que obrigam a evocar muita ciência complexa criada ao longo dos últimos 100 anos. E se o protagonista é um professor de ciências do secundário, o livro acaba mesmo parecendo um semestre de aulas transpostas para uma temporada televisiva de aventuras espaciais. Não se espere uma obra de grande literatura, espere-se antes uma grande obra de comunicação de ciência, com emoção, mas especialmente muito sonho à volta do cosmos.
O livro começa com o protagonista a acordar com amnésia, e à medida que vamos descobrindo onde está, vão-nos sendo oferecidos flashbacks que nos expõem ao porquê de estar ali. A razão é desde logo uma invenção genial, já que Weir podia ter-se limitado a usar as alterações climáticas. Assim, temos uma anomalia no sol que está a fazer baixar drasticamente a radiação solar e a colocar a humanidade a 20 anos da sua extinção. Com a premissa exposta, Weir usa e abusa da ciência para resolver o problema, mas como diz George RR Martin, “sempre ao serviço da história”. Não dá para dizer mais sem estragar o efeito de surpresa...
Pode-se criticar as competências de Weir na criação literária, no desenho de personagens, diálogos e curva dramática, mas o mundo por si criado é tão fantástico e tão simultaneamente realista que nada disso importa. E não se pode dizer que Weir não tenha trabalhado e evitado os clichés fáceis e conhecidos, fá-lo e surpreende-nos, agarrando a nossa curiosidade até ao final.
Nada disto surpreende se pensarmos que “Project Hail Mary” é já o terceiro livro publicado depois da obra menor “Artemis”, mas no entretanto iniciou também uma enorme saga, “Zhek”, que acabou por abandonar por não corresponder às suas expectativas iniciais. Ou seja, “Project Hail Mary” é um sucessor de “The Martian”, mas não é um mero aproveitamento, um sucedâneo, é um trabalho amadurecido e, diga-se, mais complexo e elaborado.
Entretanto, se “The Martian” teve direito a blockbuster com Matt Damon, parece que "Project Hail Mary" vai ter Ryan Gosling.
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