Um pequeno livro que é do mais intenso que podemos ler em português, pelo modo como fala rente à carne, à "máquina" humana como lhe chama Luiz Pacheco. É um exercício de forma, mas consegue elevar-se e transcender a mesma para nos tocar, nos fazer sentir o que é ser-se um ser feito de carne, pele, curvas, fluídos e estar-se vivo. O calor do toque, da proximidade, da carne humana é aqui o centro da peça.
Se o livro nos impressiona e as ilustrações ajudam na atmosfera, ler as palavras do filho de Luiz Pacheco, em entrevista com Anabela Mota Ribeiro para o Público em 2015, faz toda a obra ganhar uma densidade ainda maior:
"Estou lá, é o meu nascimento. Aquilo é a minha terra. Tive cinco famílias de acolhimento, dezenas de casas. Não tenho nenhum sentimento de pertença a uma terra. Quando pergunta onde é a minha terra, é aquilo. Naquele texto está tudo o que é relevante."Paulo Pacheco, in Público 2015
Vale a pena ler o resto da entrevista para compreender melhor quem era Luiz Pacheco, de onde veio, como viveu, como passou pela vida.
Não se compreende como uma obra destas não se encontra à venda e em múltiplas edições de qualidade, ou não é mais discutido na cena nacional. Ainda que se perceba que o sentimento ali plasmado possa não agradar a uma certa elite, o texto tem um enorme alcance e merecia maior apreciação da nossa parte.
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