De Kawabata ainda só tinha lido "Terra de Neve" (1948), e se tinha gostado não me tinha deslumbrado, dadas as expectativas colocadas por qualquer autor recipiente de um Nobel. Decidi continuar com "O Som da Montanha" (1954) por ser o livro escolhido pelo Instituto Norueguês do Nobel para figurar na lista das 100 Obras Literárias do Mundo. Posso dizer que as obras se aproximam, ainda assim, em termos de mundo-história e sentimento imprimido, prefiro Terra de Neve, por sinal, o seu livro com mais edições e resenhas no GoodReads.
Estamos em 1954, pouco tempo após o final da Segunda Grande Guerra, a cultura é japonesa clássica, mas o foco de Kawabata parece ser exatamente a viragem que estava a acontecer nos costumes mais tradicionais do Japão, nomeadamente as relações entre casais, o divórcio e o adultério, e especialmente o modo como as gerações mais velhas lidavam com a transformação dos costumes que estava a ser operada pelos filhos.
É uma obra dramática, mas sem tragédia, o olhar japonês mais dado à reflexão tranquila impede esse caminho. Mas percebemos, ainda que à superfície, que as personagens sofrem, mais por não saber como lidar com o diferente do que propriamente por considerarem esse diferente errado.
Mas, como disse a propósito de "Terra de Neve", é difícil para nós ocidentais e em pleno século XXI, descortinar a interpretação esperada por Kawabata na escrita e delinear dos comportamentos dos seus personagens. Não temos certezas das linhas vermelhas que estão ou não a ser ultrapassadas, por isso lemos tudo como se de uma realidade, um tanto indiferente, se tratasse, apesar de compreendermos, ou melhor sentirmos que de pessoas reais se trata.
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