maio 07, 2013

Ray Harryhausen (1920-2013)

Hoje morreu Ray Harryhausen uma das mentes brilhantes dos efeitos especiais da arte cinematográfica. Em homenagem deixo aqui uma parte do texto que lhe dedico no livro Emoções Interactivas (2009:96-99). No livro além desta breve história do seu trabalho, analiso mais extensamente a cena da luta de esqueletos de Jason and the Argonauts (1963).

Jason and the Argonauts (1963)

"A carreira cinematográfica de Harryhausen, propriamente dita, começa com Mighty Joe Young em 1949, uma espécie de sequela de King Kong, filme no qual O’Brien supervisionava os Efeitos Visuais e terá dessa forma pedido a Harryhausen  para integrar a equipa de animadores. Harryhausen começava assim a sua carreira profissional pelas mãos do mestre, demonstrando um verdadeiro talento para o stop-motion e acabando por ser ele próprio, sozinho, a concretizar cerca de 85% da animação total do filme. O’Brien que, após King Kong, poucas mais oportunidades terá tido para desenvolver o stop-motion, relegava assim para o seu aluno Harryhausen, a tarefa de desenvolver e aperfeiçoar uma arte em que ele praticamente tinha sido o pioneiro. Mighty Joe Young, foi um sucesso popular, chegando mesmo a receber o Óscar de melhores efeitos visuais em 1950, o que possibilitou a Harryhausen aspirar a uma verdadeira carreira nos efeitos visuais.


Harryhausen animando Mighty Joe Young (1950)

Em 1953, após a exploração espacial de George Pal, Harryhausen trouxe a ficção científica de novo à Terra, adaptando um conto de FC do seu grande amigo Ray Bradbury, The Beast from 20,000 Fathoms, 1953. Um filme que marca o início de destruições massivas no currículo de Harryhausen, começando aqui pela cidade de Nova York. Em 1955, a destruição chega a São Francisco em forma de Octopocus. O filme chamava-se It Came From Beneath, 1955. De forma a cortar nos custos, Harryhausen desenvolve um polvo com apenas seis patas. Dessa forma poupou imenso trabalho e tempo na animação das patas do Octopocus e o único constrangimento que teve foi, não poder deixar o monstro sair totalmente de dentro de água na sequência em que este destrói a ponte Golden Gate. Já em 1956, a devastação continuava na mente de Harryhausen, trazendo agora a destruição até Washington D.C. pelas mãos de extraterrestres. Earth Vs. The Flying Saucers, 1956 vai criar os cânones para a representação de naves extraterrestres no cinema, de tal forma que passados quase 40 anos, Tim Burton continuará a usar a mesma forma de representação em Mars Attacks, 1996. Em 1957, Harryhausen faria a ultima incursão no reino da destruição com 20 Million Miles to Earth, 1957 curiosamente a primeira destruição fora do território americano, talvez por já pouco restar para destruir nos Estados Unidos! Sendo desta vez o alvo, o Coliseu de Roma em Itália e o monstro um ser alienígena trazido por uma viagem de regresso à terra. 20 Million Miles to Earth fecha assim um ciclo de filmes que se enquadram na perfeição na idade da “Imaginação do desastre” que Sontag descreveu. Harryhausen confessa mesmo que a determinada altura se sentiu acossado pela onda de destruição em massa, tudo nos seus filmes era destruição.



Tinha destruído praticamente todas as cidades importantes americanas – Nova Iorque, São Francisco,Washington D.C - sentia necessidade de mudar, de abandonar conceitos destrutivos. A construção de sonhos foi a sua visão seguinte. É assim que chega em 1958 a The 7th Voyage of Sinbad, uma clara mudança no estilo de Harryhausen. Para além de uma mudança, será uma entrada em grande no mundo dos mitos, e com um sucesso tal que o levaria à concretização de mais três sequelas. A fantasia continua com The 3 Worlds of Gulliver em 1960, passando por Mysterious Island, 1961, uma sequela de 20,000 Leagues Under the Sea. Chega finalmente o ano da consagração de Harryhausen, com Jason and the Argonauts, 1963, uma entrada directa para dentro do verdadeiro universo do fantástico, a mitologia grega, entrada que voltaria a repetir com o último filme da sua carreira The Clash of Titans em 1981.


Para Harryhausen, “a essência da fantasia é transformar a realidade em imaginação”, ou seja, ele vê o seu trabalho como uma porta para o imaginário. Ao criar animação, ele pretendia desenvolver um universo tal, apenas reconhecível numa perspectiva de sonho. Harryhausen fez o último filme em 1981 e em 1982, surge Tron da Disney. Talvez a aparição de Tron tenha levado Harryhausen a desistir de uma arte, que de alguma forma se revelava incapaz de lutar em pé de igualdade contra uma indústria tão poderosa como os gráficos por computador que, por sua vez, davam sinais fortes de domínio, através de aumentos sucessivos nas capacidades de produção de fotorealismo. No entanto, apesar dessas capacidades, Harryhausen considera ainda hoje, que a arte por detrás do stop-motion é a única capaz de fazer verdadeira justiça ao reino da fantasia. Nas suas palavras, “a fantasia é o mundo do sonho, e o stop-motion, não sendo completamente realista, consegue dar o extra que aproxima a imagem do sonho”.

Para as referências e notas de rodapé consulte o livro Emoções Interactivas (2009). 

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