dezembro 28, 2011

Criar Videojogos (IV), todos podem criar

Não raras vezes recebo e-mails com questões relativas a escolha de linguagens, software ou livros para a criação de videojogos. Assim resolvi fazer uma nova ronda de análise das plataformas de criação de jogos, a primeira vez que o fiz foi já em 2007, ao nivel das linguagens (I) e das plataformas (II). Entretanto no ano passado, no artigo Criar Videojogos (III), refiz o mesmo trabalho numa lista hierarquizada, mais orientada a plataformas de authoring, aonde apontei dez plataformas. Estive agora a ver essa lista e as plataformas ainda se mantém todas em funcionamento e recomendáveis, por isso, julgo que estas que trago aqui agora devem apenas ser adicionadas àquelas.

Planear, Criar, Fazer, Construir, Implementar 

As plataformas aqui discutidas são mais orientadas a não-programadores, ou com experiência ligeira, são plataformas de fácil acessibilidade. Posto isto, cumpre-se a regra destas tecnologias, que quanto mais acessível é, menos flexível também é. Se por um lado podemos estar algo limitados em termos criativos, por outro estas ferramentas permitem uma iniciação completa aos territórios da expressão interactiva, seja em formato de jogo, arte ou ferramenta.



1. MyStoryMaker (Browser) (Free)
Não é propriamente uma plataforma criadora de jogos, mas é antes um editor, construído em Flash, que ajuda à criação de novas histórias lineares visuais, transformando o processo criativo de histórias num verdadeiro jogo. O que mais gosto nesta plataforma é a capacidade que esta possui para orientar e adaptar-se aos desejos narrativos do utilizador.



2. Sploder (Browser) (Free)
Mais uma plataforma de desenvolvimento de jogos que encontrei online só agora apesar de a primeira versão ser de 2008. É mais uma plataforma de construção visual construída em cima do Flash. A construção de jogos é feita com base em modelos (templates) de jogos e por isso é bastante acessivel. Neste momento contém templates para jogos de plataforma, puzzle, e shooter. Existem algum tutoriais interessantes para o seu uso, por exemplo para criar um jogo tipo Angry Birds.



3. Kodu Game Lab (PC/Xbox) (Free)
O Kodu é uma linguagem ou plataforma de criação de artefactos interactivos que a Microsoft anda a desenvolver há já alguns anos para ajudar os mais novos a criar videojogos directamente na Xbox. Dito isto percebe-se que a programação tem de ser simples, não apenas porque é para os mais novos, mas porque deve permitir que seja possível desenhar jogos sem qualquer teclado, apenas com o controlador da Xbox.



5. Construct 2 (HTML5) (Free ou 23€)
O Construct é um software com alguns anos, e que tem apresentado desde sempre como a sua mais valia, o facto de permitir, a pessoas sem conhecimentos de programação, criar videojogos. Na sua primeira versão, que agora aparece como Classic, era apenas possível desenvolver jogos para PC. A segunda versão, o Construct 2, passou a exportar os jogos directamente para HTML5 o que os torna verdadeiramente multi-plataforma. É possivel assim criar um jogo simples, sem saber programar, e fazê-lo corre num browser seja num PC, Mac, ou até um iPhone ou Android, ou criar o jogo para o Facebook. O Construct 2 possui também um motor próprio de fisica.



6. Dark Game Studio (PC/iOS) (65€/85€)
Plataforma criada pela The Games Creators inicialmente apenas dirigida ao mercado PC, mas que viu agora ser criada uma nova aplicação especializada, App Game Kit, na criação de jogos para a App Store da Apple. Esta plataforma não tem apenas por base ser dirigida a não programadores, mas tendo em conta que usa o BASIC como linguagem, o acesso à criação está bastante facilitado. O modelo comercial escolhido pela empresa é que é menos claro, porque apresenta vários produtos com preços separados (ex. pacotes de física, IA, 3d) o que dá uma ideia menos clara do potencial da plataforma sem a compra dos produtos em separado.



7. Adventure Game Studio (PC) (Free)
Esta plataforma foi criada nos anos 90 por Chris Jones com o intuito de permitir às pessoas criar facilmente jogos de aventura gráfica do tipo das que eram criadas na altura pela Lucas Arts (Monkey Island, Maniac Mansion ou The Dig). Ou seja é uma plataforma preparada para criar jogos do tipo "point-and-click". Para tal possui um editor gráfico, e um editor de scripting. A versão actual foi desenvolvida em .net Framework e foi libertada este no formato open source.



8. Game Maker (PC/MAC/HTML5) (Free, 40$, 100$)
A plataforma Game Maker foi criada pelo Professor Mark Overmars da Universidade de Utrecht na Holanda em 1999. Desde então evoluiu bastante no sentido de permitir a criação de jogos mais complexos, e com baixos inputs de programação (GML). No campo das plataformas básicas é das poucas que permite criar jogos em 3d (ainda não disponível na versão HTML5), e o número de jogos desenvolvidos com a mesma não tem parado de aumentar. Inicialmente desenvolvida apenas para PC, passou a a integrar o ambiente Mac, e tem já uma versão beta capaz de criar jogos em HTML5 a pensar na App Store.



9. GameSalad (Mac) (Free ou 499$/ano)
O GameSalad é uma plataforma americana de sucesso no campo dos jogos para iPhone, apresentando como único problema o facto de apenas correr em Mac. A plataforma permite criar os mais variados tipos de jogos multi-plataforma sem necessidade de programar uma única linha de código. Possui um motor de fisica próprio, e bibliotecas de comportamentos. Para além disso permite testar de forma simulada o funcionamento do jogo em iPhone ou Android. Aliás podem mesmo testar desde já vários níveis de jogos no próprio site na área Arcade. O CEO da empresa "quer tornar todas as pessoas em criadores de jogos para iPhone".



10. Stencyl (PC / Mac / Linux) (Free ou 149$/ano)
É uma ferramenta muito interessante porque poderia ser simplesmente apelidada de Flash-Scratch. Ou seja é uma ferramenta que pega nas potencialidades gráficas do Flash e as alia à linguagem de programação visual do Scratch. Não pode oferecer todo o potencial do Flash e do seu ActionScript 3.0, mas é um excelente ponto de partida que permite prototipar e testar ideias para jogos de forma muito rápida e eficaz. Mais recentemente passou a permitir criar jogos directamente para o iPhone, embora nesse caso exija o pagamento de uma fee anual. São já várias as empresas de jogos Flash que começaram a testar esta ferramenta, como por exemplo a MoFunZone com o jogo Balls in Space. E experts de Flash, como o Emanuelle Feronato, entre outros, têm elogiado bastante a ferramenta.



Saindo do espectro das plataformas dedicadas e de acessibilidade alargada, deixo apenas algumas recomendações para quem pretender ir além destas, mas ainda assim não quer ou não pode aventurar-se a entrar em sistemas profissionais que fazem uso de linguagens mais poderosas como o C++. Assim para fazer jogos neste momento, e no ano que vem, as duas melhores soluções existentes no mercado doméstico são o Flash, e o Unity. Para quem quer desenvolver um jogo 2d, a escolha é o Flash, quem quer 3d é o Unity.
No Flash a linguagem de programação que é preciso aprender é o ActionScript 3.0 (AS3.0). Uma linguagem bastante poderosa, que enfrentou alguns problemas com o aparecimento do iPhone, mas que os soube superar dedicando-se cada vez mais à indústria dos videojogos. Tendo em conta que quando falamos de jogos Flash, estamos a falar de AS3.0, é importante saber que é possivel criar jogos Flash apenas com recurso a ferramentas Open Source. Claro perdendo a componente da interface gráfica que o Flash proporciona, mas continuando a poder criar jogos em AS3.0. As ferramentas para o fazer são no caso do PC o FlashDevelop, no caso do Mac o Adobe Flash Builder.
Ainda no caso do Flash, é muito importante que se faça uso de um motor de jogos (engine), uma vez que só assim poderemos ambicionar desenvolver jogos mais avançados. O que o engine faz, é criar uma base de trabalho sólida, na qual é possível fazer uso de vários módulos de código já pré-escritos que nos facilitam o trabalho de animação, de interactividade, no fundo de desenho do gameplay. Os dois engines mais amplamente utilizados pela comunidade criadora de jogos Flash online, são o FlashPunk e o Flixel.

No caso dos jogos 3d, a solução passa pelo Unity. Uma ferramenta criada há meia dúzia de anos e que aos poucos se foi afirmando internacionalmente, sendo hoje amplamente citada e utilizada por empresas de interactividade nos mais variados campos da aplicação do 3d interactivo. Várias coisas jogam a seu favor desde logo a possibilidade de criar jogos para as consolas (PS3, Wii e Xbox), smartphones (iPhone e Android), ou desktops (PC, Mac ou Linux), e mesmo online com plug-in próprio ou em Flash. Depois a facilidade de uso, pelo facto de apresentar todas as componentes necessárias à criação de um ambiente 3d interactivo integradas numa única ferramenta. Em termos de linguagem abre ainda várias possibilidades em formato de scripting - Javascript ou C#. Sobre tudo isto a qualidade do produto final apresentado pela plataforma é de alto nivel.

E finalmente para quem ainda não estiver satisfeito e quiser mais informação sobre o mundo das ferramentas de criação de videojogos, deixo a página do Pixel Prospector - The Big List Of Game Making Tools - que é um verdadeiro repositório de links para materiais deste tipo.

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