novembro 13, 2011

Comando (2010), uma produção impressionante a custo zero

Trago uma curta nacional, Comando (2010), realizada por Patrício Faisca e Sonat Duyar com orçamento zero, o que não impediu de arrecadar prémios no Festival de Cinema de Arouca, no Shortcutz Porto e no Shortcutz Lisboa.


Apesar de ter sido noticiado que o orçamento teria sido de 27 euros, supostamente valores gastos na aquisição de arame farpado e materiais de criação de sangue artificial, o projeto encaixa-se no campo dos filmes sem orçamento. Isto porque se fizéssemos uma análise do custo real de produção do filme chegaríamos à conclusão que este ultrapassa vários milhares de euros. O custo reparte-se por três grandes categorias, (1) materiais utilizados (câmaras, microfones, gravadores de som, perches, iluminação, estabilizadores de imagem, defletores, maquilhagem, guarda-roupa, material elétrico, eletricidade, computadores, licenças de software, material de escavação), (2) os locais de filmagem (terrenos, salas de filmagem, salas de arrecadação de materiais, salas de edição), e (3) recursos humanos (atores, figurantes, operadores e produtores). Claro que tudo isto é conseguido a um custo zero graças à capacidade de Patrício Faisca para convocar tudo e todos para a criação de um projeto comum, o que demonstra desde logo o seu enorme talento como produtor cinematográfico.


Para mim mais importante que ter conseguido realizar o filme a custo zero, é ter conseguido criar o projecto e ter conseguido levá-lo até ao fim. Demonstra uma vontade, um empreendedorismo, uma auto-motivação criadora rara no nosso país. Portugal precisa de mais criadores como o Patrício Faisca, que não desistem, que persistem, que levam até ao fim os seus sonhos. Não sendo caso único, felizmente, é de louvar. Aliás o filme fez-me lembrar um outro projeto a custo zero, neste caso de uma equipa americana, que aqui analisei, Killzone: Extraction (2011).


Deixando a produção, em termos de conceção o filme atinge marcas bastante elevadas em termos de realização, cinematografia, montagem e mesmo efeitos. Toda a primeira parte até à entrega da carta ao soldado, está muitíssimo bem desenhada e transposta para o ecrã, não há muito para dizer mas o filme transporta-nos, não nos dá informação sobre o que se passa, mas visualmente comunica-nos que algo de grave se está a passar. Socorre-se de alguns clichés, o que também faz parte do filme de género.


A segunda parte é a que mais impressiona em termos de produção - a trincheira real e os efeitos visuais - mas também o trabalho de cinematografia, montagem e até alguma direção de atores. Esta parte acaba por ser contudo aquela que apresenta maiores fragilidades nomeadamente ao nível do guião o que acaba por fragilizar a realização. A cena é demasiado longa, percebe-se que se queira criar a sensação de desespero no soldado, mas faltam elementos narrativos que a sustentem. A cena é uma colagem completa de uma cena de Apocalipse Now (1979), com a desvantagem de lhe faltar motivação do enredo, ou seja não sabemos o que está em luta, o que motiva aquela trincheira. E isso depois afeta fortemente o fechamento que se transforma em algo pouco gratificante, porque sem substrato.


Apesar de tudo isto é um excelente trabalho, criado por uma equipa com uma motivação extraordinária e que deve ser enaltecida. Esperemos que este projeto abra portas para outras aventuras cinematográficas. Vejam o filme completo aqui abaixo, e depois vejam o excelente making of também.


1 comentário:

  1. É, certamente, o resultado de um grande empenho e amor à arte cinematográfica. Também um exemplo a seguir!

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