novembro 21, 2011

Mitos dos Custos da Educação em Portugal

A comunicação social, mas não só, os políticos, e muita da praça de comentadores que aparece nos ecrãs de televisão e jornais nacionais, falam muitas vezes de cor, sem saber do que estão a falar, apenas por aquilo que lhes parece. Até se consideram pessoas cultas, que leem jornais, viram o mundo e por isso muitas vezes julgam-se detentores de conhecimento que não verdade não detém. Nada de novo, porque vendo a última conferência de imprensa da Troika, fica-se com a mesma ideia deles. 

Nesse sentido trago aqui os Mitos da Educação, porque depois de ter feito um artigo aqui no blog sobre as disparidades que existem entre a Europa e Portugal, foram-me levantadas algumas questões. Questões essas às quais chamo aqui de Mitos, e que têm sido jogados para a opinião pública por quem pouco sabe, e nem se dá ao trabalho de quere saber mais.

Tabela 1 - Comparação entre Portugal, Bélgica e Suécia

Assim e para começar, os dados que aqui trago, não estão escondidos, estão online e inteiramente públicos para todo o mundo ver. Num primeira passagem pelos dados, interessa escolher unidades comparáveis. Assim procurei países do Euro que tivessem escalas de população próximas como é o caso da Grécia, Bélgica, Suécia, e Áustria. Acabei depois por fazer um comparação mais detalhada com a Bélgica e Suécia, porque apresentam dados mais coerentes com os nossos e são mais fáceis de ler sem entrar em detalhes explicativos. Mas de uma forma geral, e trabalhando as percentagens dos valores populacionais, podem-se fazer praticamente as mesmas leituras para os restantes países aqui abaixo, excetuando a Grécia que se aproxima demasiado do nosso cenário. Interessa ainda salientar que falamos aqui de comparação entre totais dos sistemas, ou seja todos os graus de educação, e ensino público e privado.

Tabela 2 - Comparação entre Grécia, Holanda, Finlândia, e Áustria

Assim e com países próximos em termos de coerência de dados podemos ver desde logo, por exemplo, que Portugal tendo exatamente a mesma população da Bélgica, gasta menos 150% que esta na Educação do seu país. Mas claro que isto não pode ser visto assim apenas, porque a Bélgica produz mais riqueza que nós. Mas vejamos então os mitos.


Mito 1
Portugal tem alunos a mais na Escola, alunos que deviam era andar a trabalhar, a produzir.


Portugal tem a mesma população da Bélgica, mas possui menos 15% de alunos no total das suas escolas (ver Tabela 1).
Portugal tem mais 1.4 milhões de população do que a Suécia, como tal se ajustados os valores, possui menos 14% de alunos nas escolas.
Isto são dados que nos deviam preocupar, porque se temos menos alunos no ensino, é porque eles simplesmente estão a desistir da escola, e nós estamos a deixar. Ou seja estamos longe de estar no ponto ideal em termos do número de alunos que frequentam a escola.



Mito 2
Portugal tem Professores e Técnicos a mais.


Em total sintonia com a percentagem inferior do números de alunos, Portugal possui também menos 15% de recursos humanos que a Bélgica. (ver Tabela 1)
Agora no caso da Suécia, que possui exactamente o mesmo número de alunos de Portugal (desprezando os milhares), Portugal apresenta ainda assim menos 11% de recursos humanos.
Assim e como acontece nos alunos, temos professores e técnicos a menos, não apenas em número total, mas em termos comparativos de população estudantil. Claramente que não os temos a mais porque seria impossível, em face do que demonstrarei no mito seguinte.
Aliás pensando na última conferência de imprensa da troika ou a entrevista do Ministro das Finanças sobre a necessidade de despedir 100 mil pessoas na Função Pública para cobrir os 13º e 14º mês, e agora olhando para esta realidade, interrogo-me aonde andarão esses "malandros" a mais na FP. Ou a ideia é mesmo a pura ideologia, vamos reduzir toda a componente social, Educação, Saúde, e Seg. Social, quem tiver dinheiro vai para a escola privada, aos médicos privados, quem não tiver, que vá trabalhar ou se deixe ficar por casa a plantar batatas.


Mito 3
Portugal é o país que mais dinheiro gasta por aluno.


Portugal gasta por cada aluno, menos 115% que a Bélgica, e menos 146% que a Suécia. É uma loucura, mas neste ponto temos de dizer antes que Portugal é um país mais pobre que a Bélgica e a Suécia, logo não se pode comparar de igual para igual. Contudo podemos comparar em termos de Opções Políticas. Ou seja, analisar e ver se damos tanta importância à Educação como fazem os nossos colegas, em termos da repartição do total dos dinheiros produzidos pelos Portugueses. Assim o que precisamos de avaliar é quanto do total da riqueza produzida por cada Português anualmente, é que é gasto em educação.
Portugal gasta assim em termos de percentagem da riqueza criada no país, e por cada aluno, menos 9% que a Bélgica, e menos 12% que a Suécia. (ver Tabela 1)

Ou seja, não podemos exigir que se gaste o que não se tem. Que se passe o investimento por aluno de 3 672 euros para 9 000 euros. Mas podemos dizer que Portugal para gastar tanto como a Suécia gasta em termos de riqueza produzida, teria de aumentar o investimento nos alunos em mais 61%, passar de 3 672 euros para 6 120 euros por aluno. Ou seja entre a Bélgica e a Suécia, podemos dizer que os gastos com a educação em Portugal estão em média 50% abaixo daquilo que estes países investem na educação dos seus, em termos daquilo que produzem.

No final, isto não tem nada que ver com ser mais rico ou mais pobre. Ter um bolo maior ou menor no final do ano não interessa, o que conta é o modo como se faz a divisão desse bolo. Assim Portugal prefere do nosso bolo tirar dinheiro para talvez fazer estádios de futebol, TGVs, aeroportos, auto-estradas duplicadas, ou ainda comprar carros estrangeiros de alta cilindrada, etc. etc.

3 comentários:

  1. Muito bom mas faltam as fontes.

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  2. Olá as fontes estão citadas nas imagens 1 e 2. Mas volto a colocar aqui

    http://stats.oecd.org

    No lado esquerdo tem um menu chamado de "Browse Themes".

    Aí dentro deve aceder ao item "Education and Training",
    e depois ao sub-menu
    "Education and Skills".

    Aqui dentro tem todos os quadros que utilizei para compor os que aqui apresento.

    Se precisar de mais alguma informação, disponha.

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  3. Obrigada Nelson por esta intervenção! Talvez... a internet possa vir, assim, a construir um 'senso comum' diferente... Lia

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