junho 28, 2011

Ideias de Crato para a Educação

Tinha decidido não publicar este texto, mas depois das medidas hoje anunciadas pelo novo governo sinto que o devo fazer, dado que algumas das componentes do caminho hoje apresentado representam, para mim, um retrocesso no avanço da escola portuguesa.

Nuno Crato, atual Ministro da Educação fez uma comunicação no Ciclo de Conferências do PSD, "Fórum Portugal de Verdade", decorrido em Aveiro a 16 de Abril 2011, sobre as suas ideias para o Ministério da Educação, e para a educação nacional. Essa conferência pode ser vista aqui abaixo.





Apesar de continuar a reconhecer que é um fantástico comunicador de ciência, fiquei muito desiludido ao ver este vídeo. Sinceramente nunca pensei que um investigador como ele pudesse ser tão político. O discurso é de tal modo embrulhado que parece credível, mesmo não o sendo, e os dados existem para o demonstrar. Aponto três problemas no discurso de Nuno Crato:


1 - Diz que durante os primeiros 9 anos de escolaridade não existem Exames.

Então mas isso não é que nos noticia o Público na sua edição de 13.06.2011 - "Escolas correm o risco de se tornarem centros de treino para testes". Também não é o que se noticiava no dia 20.06.2011 pela imprensa, dia de Exames Nacionais de 9º e 12º anos.
Mas no anuncio de hoje percebi porque Nuno Crato dizia que faltavam exames, porque agora, vamos passar a ter na Escola portuguesa uma autêntica cascata de exames: 4ºano, 6ºano, 9ºano e 12º ano. E ao que parece, com exceção do 4º ano, todos vão contar para a nota dos alunos. Fantástico.
Mas isto é apenas a ponta do icebergue, esta ideia de que tudo pode ser quantificado fazendo uns exames, é antiga e tem sido assim no último século, como forma de responder à massificação do ensino. Mas a função da escola não é talhar e medir pessoas, deve ser antes mostrar o que é o mundo, de que é feito, mais do que isso mostrar ao aluno quem ele é, do que é capaz, e como é capaz. Não podemos limitar a escola à formatação de cabeças.
A escola é o lugar por onde TODOS, sem exceção, passam. Alguém acredita que de tão diferentes que todos somos, possamos todos responder de forma igual? Ou seja, possamos todos contribuir para uma média expectável em termos estatísticos. Isto partindo das escolas públicas nacionais, porque utilizar escolas privadas não conta, simplesmente porque aí a amostra não é aleatória. Nenhum pai paga uma escola privada a um filho que não quer estudar, mesmo tendo posses, para isso anda no público. Ou seja a amostra do privado conta com um fator que tem um enorme peso na amostra, que é facto de os alunos gostarem da lógica de escola, que é facto de os alunos se reverem nela e por isso conseguirem tirar satisfação no seu dia-a-dia.
Os exames nacionais e internacionais são o maior aliado da estandardização, que é por sua vez responsável pela criação do senso comum que mata a criatividade humana (Robinson, 2009). A formatação de mentes foi muito boa em tempos de revolução industrial, em que precisávamos de pessoas responsáveis que dessem o seu melhor das 9h as 17h, que o fizessem pelo seu país e pelo coletivo. Mas em 2011 vivemos num planeta globalizado, que mudou radicalmente. Hoje não faz mais sentido continuar a "produzir" máquinas pensantes, pelo menos aqui na Europa e nos EUA, mas em breve em todo o planeta.
Hoje precisamos de ser capazes de ativar o fogo interno de cada um, de os levar a conseguir o melhor para si e para o mundo. E para isso terão de ser altamente criativos, e verdadeiramente inovadores. Terão de quebrar os "status quo" e derrubar dogmas do senso comum.   
Mas já agora como é estes senhores explicam que a Finlândia obtenha das notas mais elevadas nos resultados de PISA 2009 e quase não existam exames, nem os alunos chumbem? Em que os alunos passam o mínimo tempo possível fechados na escolas, e os trabalhos de casa são limitados?


2 - Que precisamos de criar um Instituto de Avaliação Independente (mais um, então mas não era preciso cortar nos institutos) para fazer exames de forma independente.

Então mas afinal para que pagamos à OCDE para que se realizem os testes de PISA no nosso país? Não é para fazer isso? Os alunos que se cuidem, porque exames é o que não vai faltar, para todos os gostos e feitios - internos, externos, nacionais, internacionais, de aferição, de avaliação, e do que mais houver. E depois a aprendizagem isso será menos relevante, os professores deverão começar a preocupar-se mas é em treinar os alunos para responder aos testes, testes, e mais testes.
Dou razão ao Nuno Crato, quando diz que o governo passado errou ao usar a suposta evolução da média de Matemática de 8 num ano, para 14 no ano seguinte, como fruto das suas ações. Mas o que dizer da OCDE, e de PISA. Aqui a realidade demonstra que Portugal tem vindo sempre a subir na tabela comparativa de resultados. Ainda temos muito que fazer, mas os resultados de 2009 desmontam claramente esta ideia absurda de que os alunos portugueses em 2010, não trabalham, não sabem ler, não sabem escrever, que a escola Portuguesa é um mundo de facilitismo em que nada se aprende.
A propósito e em contra-corrente com o posicionamento de Nuno Crato face à escola portuguesa, deixo aqui uma análise do Reitor da Universidade de Lisboa, António Nóvoa, entrevistado por António José Teixeira. O jornalista nada mais faz do que apresentar o discurso vigente de que tudo está mal, de que nada se fez bem, um discurso no seu melhor em termos de pessimismo.

Atente-se no minuto 6:37:
AJT: "A estatística deixa muitas dúvidas, os números são torturados até dar o que interessa… houve progresso ou o progresso é ilusório? Para estarmos nesta situação se calhar o progresso não foi tão sustentado?"
AN: O nosso progresso é absolutamente real, acho que é indesmentível
AJT: Por exemplo?
AN: Por exemplo na área da Educação.
Minuto 9:00
AN: Por exemplo a questão dos resultados do PISA…. E aqui estamos a falar da qualidade, não da quantidade, dos resultados escolares. Colocam Portugal pela primeira vez na média dos países Europeus. Nunca isto aconteceu na história portuguesa… eu tive oportunidade de fazer um estudo, uma análise comparada desde que existem estatísticas, e em todas as estatísticas publicadas, Portugal esteve sempre no último ou no penúltimo lugar da Europa…. Isto é qualquer coisa que nos deve dar uma enorme satisfação. Há problemas? Há sempre problemas.




3 - A ideia que os EUA também vêm querendo implementar, de avaliar os professores pelas notas conseguidas pelos alunos. Se o aluno entra no 10º ano com 15 a Português, e no final do ano (ou mesmo que seja dois anos) sai com 13, a responsabilidade é do Professor diz o Nuno Crato!
Para responder a isto vou apenas transcrever aquilo que escrevi a respeito desta ideia também professada num documentário sobre a escola americana, Waiting for Superman (2010), por Michelle Rhee, Directora das Escolas Públicas do Distrito de Columbia, EUA. Dizia eu,
"Ensinar é uma arte, e nem todos seremos artistas, mas um assunto que diz respeito a um conjunto tão vasto de variáveis, que vão desde: o professor, ao diretor de turma, à escola, ao aluno, ao pai, à mãe, ao conjunto de alunos e conjunto de pais, à câmara municipal, e até mesmo aos empregadores da zona de localização da escola - não pode ser de repente compactado, simplificado e personificado na pessoa única de um professor. Dizer-se coisas como as ditas abaixo, não é apenas atirar areia para os olhos, é prestar-se à destruição do que se tem.
"I believe that that mindset has to be completely flipped on its head [professores], and unless you can show that you're bringing positive results for kids, then you cannot have the privilege of teaching in our schools and teaching our children." Michelle Rhee, Directora das Escolas Públicas do Distrito de Columbia, EUA
Digo atirar areia, porque numa primeira análise parece correto o que Rhee diz sobre os professores, quando comparados com alguém que trabalha numa fábrica, seja operário, engenheiro ou gestor. O problema coloca-se quando se colocam as variáveis a trabalhar em cima da mesa, e verificamos que aquilo que é pedido a um professor, não é de forma alguma passível de ser colocado na mesma balança daquilo que é pedido a um engenheiro de software por exemplo. Isto porque o objeto de trabalho do professor, que é o aluno, não é um standard, não tem regras fixas. Eu não programo a mente de um aluno com o recurso a uma linguagem formatada, posso tentar mas o grau de sucesso que obterei se seguir essa via padronizada, sem ter em conta as especificidades do ser humano que se encontra na minha frente, corre um grave risco de ser muito baixo.
Perceber o que está em causa quando falamos de objetos de trabalho - um ser humano face a uma aplicação informática, ou uma máquina, ou um lote de terra - apesar de parecer evidente as diferenças, não é fácil compreende-las. Isto porque apesar das diferenças existentes temos direito a expectativas e quando compramos um computador novo ou um carro novo esperamos que ele funcione a 100%, que o computador não crash no dia seguinte ou que o carro não me deixe a pé na auto-estrada. Por isso é natural que um pai ou uma mãe quando coloca um filho numa escola tenha também as suas expectativas, e que essas passem por ver o seu filho tirar boas notas, e vê-lo progredir ao longo da escola. Isto quer dizer que à partida um professor deveria ser capaz de pegar num aluno e meter dentro da cabeça dele os conhecimentos necessários para ele chegar ao exame e tirar 20, os tais 100%. Mas todos sabem o quão diferente da realidade isto é, e quantas nuances existem no caminho de um aluno para ele atingir esses resultados." ver texto completo.
Isto que aqui ouvimos por Nuno Crato é o discurso anglo-sáxonico da educação industrializada em contra-corrente com o antigo discurso da escola francesa para as elites. Que é plausível aos nossos ouvidos, parece moderno, mas é evidente que que quem o professa ainda não se deu conta que já estamos noutro estágio para além dessas teorias anglo-sáxonicas. Aliás sobre este suposto modernismo vejam um vídeo de Alvin Totfler e da sua mulher aquando da sua visita a Portugal em 2008. E já agora o artigo de ontem, 27 Junho 2011, do James Gee para o The Huffington Post que fala deste modelo também.




Nem tudo o que o Nuno Crato aqui diz é mau, existem algumas coisas com as quais concordo bastante.

1 - Dar autonomia aos professores para definir o método
Sem dúvida, sem dúvida. O ME não deve, nem pode ser para aqui chamado. O professor precisa de encontrar o melhor método em face da turma que tem. Não pode estar preso por correntes ideológicas do melhor modo de o fazer.

2 - Aumentar os níveis de responsabilidade
Sem dúvida, dos alunos, dos pais, da escola e claro dos professores também. Com a autonomia vem a responsabilidade de prestar contas. Mas atenção que o prestar contas não pode ser feito com meras tabelas de avaliação ISO.
"In the U.S., they treat teachers like pizza delivery boys and then do efficiency studies on how well they deliver the pizza." Dan MacIsaac, Prof. Associado de Física, da State University of New York, após ter passado 2 meses na Finlândia a avaliar o sistema educativo.
3 - Aumentar o investimento do ensino profissional
Sem dúvida, uma das necessidades mais urgentes do nosso país. Não podemos continuar a pensar que as pessoas estão todas preparadas de igual modo para suportar a escola como ela é tradicionalmente. Nem todos se conseguem sentar horas a fio a ouvir e a ver, e por isso se queremos que estas pessoas possam fazer mais no seu e no futuro do país, temos de lhes dar outros modos de construir o seu e o nosso mundo.
Não é possível acreditar que todos os alunos sem excepção podem andar 12 anos para trás e para a frente, sem gostar do que fazem. Quando ainda por cima estas pessoas atingem nesta fase o auge da sua existencialidade, e de toda a sua dúvida. Não são adultos com filhos a quem dar de comer, que se dobram à vida para obter o pão a cada dia. São pessoas em crescimento e formação com muitos sonhos, que a qualquer momento preferem dar um pontapé, em algo que nada lhes diz. Numa idade em que por mais que se tente abrir conceptualmente a sua visão, o seu sistema cerebral não está ainda preparado para projetar um futuro a 20, 10, nem 5 anos, em que o imediato sai sempre vencedor. E se o imediato for ganhar umas coroas no McDonalds e poder fazer a sua vida, é isso que fará, saindo da escola com um 8 ou 9º incompleto que nada lhe trouxe em termos de competências para a vida.


Uma última nota, é para fazer das palavras de António Nóvoa (vídeo acima minuto 32:45) as minhas também. No estado em que o país está, acho que devemos agradecer a todos os que aceitaram encarar de frente esta tarefa de ser Ministro em 2011. E por isso as críticas que aponto são num sentido meramente construtivo, opinativo, mas no fundo o que desejo é que o Nuno Crato consiga fazer o melhor ao seu alcance.

junho 26, 2011

a Filosofia do espaço virtual

Aqui há uns tempos deixei aqui um texto a propósito do belo na matemática, hoje acedo pela outra extremidade, a da filosofia. Não propriamente para falar da questão do belo enquanto lógica, mas antes para falar do modo como organizamos conceptualmente a ideia do virtual, dos mundos virtuais e dos seus avatars.


Para o fazer vou apresentar um projeto interessantíssimo desenvolvido por Luís Petry "Labirinto Artístico-Filosófico 1260". Antes de entrar na obra devo dizer que Luís Petry é investigador e professor na área das Tecnologias da Inteligência e Design Digital na Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, Brasil. Com formação em Filosofia Hermenêutica e doutorado em Comunicação e Semiótica, trabalha no Núcleo de Pesquisa em Hipermídia e Games da PUCSP. Agora podem perceber porquê uma apresentação da pessoa por detrás da obra, porque só alguém com este perfil poderia produzir um objeto digital para nos indagar tão profundamente, e questionar não só sobre a obra tratada, como sobre a nossa visão de todo um campo criativo. Além de toda a profundidade teórica subjacente à obra, Petry foi ele mesmo o criador do artefacto fazendo uso do Unity 3d.


Labirinto Artístico-Filosófico 1260 leva-nos por entre um mundo virtual, questionando-nos sobre a interação do pensamento e o seu mapeamento num espaço tridimensional interativo. Seguindo uma estrutura labiríntica vai-nos lançado sobre imagens, textos e geometrias que nos instigam a desvelar o sentido do pensar. A racional do projeto é apresentada com base em conceitos de lógica, que se cruzam com ideias do universo matemático. Aliás Petry tinha mesmo definido uma nova abordagem aos espaços tridimensionais no seu doutoramento, a Topofilosofia (2003) e que neste projeto ganha forma. Dizia ele em texto,
"Como manifestação, a hipermídia, tal como a arte, organiza um corpus que se integra na historicidade da formação propiciada pela tradição. Como interrogação, a hipermídia atravessa os abismos de incertezas que rondam o espírito humano, construindo um espaço de mútuo questionamento: de um lado colocando questões ao ser do homem e, de outro, enunciando-se como pertencente ao universo daquele como uma de suas manifestações. Trata-se aqui da estrutura de um jogo, no qual o sentido do jogar é ser jogado se dispõem no livre e aberto que propicia o habitar (entorno), enquanto linguagem viva (interatividade). E esta estutura de jogo, como já observamos anteriormente, se organiza numa estrutura de pensamento topológica, na qual a torção se constitui em sua chave hermenêutica. Por isso, penso que deve-se retomar a observação hermenêutica sobre o pensar heraclitiano: o “pensar sobre o pensar possui em si algo de torcido e velado, em que e pelo que o pensamento se curva e se retorce sobre si mesmo, desistindo de seu caminho reto”"

Entretanto descubro agora que a obra Labirinto Artístico-Filosófico 1260 e o Luis Petry estarão em Portugal na 16ª Bienal de Cerveira em 2011. Será uma excelente oportunidade para discutir pessoalmente estas abordagens, e ideias da relação entre as nossas projeções exteriores e o modo como nos definimos no mundo.

Seguindo nesta senda pela descoberta do virtual no real, um projeto machinima recentemente realizado em Second Life, chamou a minha atenção. A sua componente estética brilha e dá suporte à toda a discussão em redor do fundamento do Avatar. Um filme que nos leva por entre uma viagem virtual em SL até à real India. "A Journey into the Metaverse" ganhou o primeiro prémio no, MachinimUWA III, 3º concurso de machinima organizado pela University of Western Australia, um prémio no valor de L$ 100,000. Vale a pena os 10 minutos, distendam-se, viagem e absorvam. Depois disto uma viagem pelo Labirinto interativo de Petry ganha todo um novo potencial de criação de conhecimento em nós.


junho 25, 2011

a beleza do contraste limite


Lee Jeffries coloca nas suas imagens a essência, a alma das pessoas que fotografa. A delicadeza recriada numa só imagem é quase insuportável de tão bela que é. Impressiona como se podem conseguir contrastes tão puros, tão perfeitos, tão limite. Um preto e branco que esconde uma parte do mundo e deixa apenas expressar-se aquilo que é importante. Aqui podem ver algumas fotografias, clicar e ampliar, mas aconselho vivamente a visualização em fullscreen do slideshow preparado por ele no Flickr.
Lee Jeffries (Manchester, UK) é contabilista de profissão, a fotografia é o seu hobby, do qual se orgulha por assim não ter de prestar contas profissionalmente pelas fotografias que faz. Começou por fotografar desporto, mas um encontro acidental com uma rapariga a viver na rua acabou por mudar o seu foco de interesse, e o modo como vê o mundo. Numa entrevista dada à Impose diz-nos,
"I don't know if any book or movie represents my point of view but I'm certainly influenced by them. Being self-taught, my instruction in photography comes from paintings, watching movies and documentaries depicting the world around me, in particular the human condition, seeing what other people have done, opening my eyes; If one person looks at any of my images and feels compassion, enough to maybe offer a helping hand the next time the opportunity presents itself, then the image counts."














Its hell out here...
 “I try to make an effort to keep clean and tidy” she said. “I use the facilities that the Christian organizations offer us, but seeing you, how clean you are makes me realize just how damn hard this is”
“I come from a rich family. I can’t go back there….but its hell out here for a woman” she went on to exclaim.
She broke down as she described what hell meant. Of course you can probably guess what she told me. Nobody wants to hear it. I can’t bring myself to type it."

junho 24, 2011

Drive (2010) de Daniel Pink


Daniel Pink é uma espécie de estrela americana da literatura não ficcional que trabalha temas como as alterações introduzidas pelas tecnologias da informação nos comportamentos sociais, nomeadamente as novas abordagens e as novas motivações. É um autor que anda na mesma órbita de Malcolm Gladwell, Chris Anderson, ou Stephen Dubner.

O primeiro trabalho que li dele foi A Whole New Mind (2006), um livro muito interessante sobre as alterações introduzidas pela globalização nas necessidades dos novos empregos na Europa e EUA. Uma discussão muito atual que discute como necessidade básica da nossa sociedade atual a inovação e a criatividade. Entretanto Daniel Pink lançou em 2010 Drive: The Surprising Truth About What Motivates Us um livro completamente focado sobre o modo como funcionamos em termos de estímulos, sobre a motivação no trabalho e alguns dos seus mitos.

Em Drive, Daniel Pink vai tocar alguns aspetos que já discuti a propósito de The Element (2009) de Ken Robinson, nomeadamente a questão de que quando as pessoas são levadas a trabalhar em algo que é fruto da sua própria escolha, elas produzem muito mais, do que quando lhes chega como um pedido externo. Neste sentido Pink vai discutir o que motiva as pessoas no mundo atual, nomeadamente a diferença entre o pagamento de serviços e a cumplicidade ou reconhecimento. Vou aproveitar para deixar aqui alguns dos exemplos trabalhados por Pink e que encerram em si o foco do livro.

Num dos estudos apresentados, sobre a motivação de crianças para desenhar, criaram-se três grupos,

1 - A quem se prometeu um certificado para que desenhassem.
2 - A quem não se prometeu, mas se deu um certificado por terem desenhado.
3 - Um grupo a quem não se prometeu nada, nem se deu nada.

O primeiro grupo, assim que se retirou a variável do certificado deixou de achar piada a desenhar, e aos poucos acabou por deixar de desenhar. Por outro lado os outros dois grupos, continuaram a desenhar. O que aconteceu foi que se transformou aquela atividade auto-motivada, numa atividade de trabalho. O pior impacto disto, foi que se destruiu a autonomia das crianças do primeiro grupo, porque passaram a ficar dependentes de alguém lhes dizer o que fazer e quando fazer. A motivação intrínseca, ou auto-motivada, foi exteriorizada, ou substituída por um estimulo externo. 
“Try to encourage a kid to learn math by paying her for each workbook page she completes—and she’ll almost certainly become more diligent in the short term and lose interest in math in the long term.”
Assim Pink diz-nos que no curto termo, podemos levar as pessoas a alterar os seus comportamentos. Mas no longo termo isto conduzirá à destruição da autonomia das pessoas, ou seja à destruição da motivação auto-motivada. O grande problema é que para produzirmos grandes obras, para trabalharmos sobre o nosso elemento, descobrimos aquilo que nos move, temos de possuir esta funcionalidade intacta, se esta for corrompida, podemos estar a comprometer o futuro destas crianças.


Segundo Pink as recompensas extrínsecas funcionam para o ser humano como objetivos a atingir, e estes são do pior que pode existir para um trabalho ético. Os objetivos atravessam-se na frente, e levam a que os atletas se dopem, que os alunos façam cábulas, que os economistas façam trafulha nas contas, que uma empresa em função de um deadline descure critérios de qualidade. Os objetivos são geradores de atalhos para atingir os fins. As coisas deixam de ser intrinsecamente motivadas, e passam a estar motivadas por algo externo, sendo então esse algo externo (objetivo) que é preciso atingir a todo o custo.

Deste modo Pink apresenta-nos as recompensas como viciantes em termos de psicologia humana. Dar um caramelo a um filho para levar o lixo, fará com este da próxima vez exija o mesmo caramelo para voltar a levar o lixo. A pessoa passa a assumir aquela tarefa como desprovida de valor, e que precisa de ser recompensada para ser realizada. Com o passar do tempo, e à semelhança de qualquer adição, será preciso pagar cada vez mais, dar mais recompensa para que a pessoa faça a mesma coisa.


Estas são algumas das essências discutidas no livro, fundamentadas com vários estudos. Para abrir o apetite fica uma palestra que Daniel Pink fez na RSA, dessa palestra foi criado um pequeno vídeo de ilustração das principais ideias. Este vídeo tornou-se entretanto no vídeo mais visto da coleção de vídeos ilustrados da RSA, com quase 6 milhões de visualizações.

junho 19, 2011

a fotografia, e a sua expressão em movimento

Biwako, 2006


Confederation Bridge, 2009


Damme Canal, 2010


Sunday Morning, 2011


Torii, 2011


Michael Levin é um fotógrafo reconhecido internacionalmente pela poesia das suas imagens. Em 2006 foi selecionado como International Photographer of the Year nos International Photography Awards em Nova Iorque, e recebeu por duas vezes o Fine Art Photographer of the Year no PX3 Prix de la Photographie Awards em Paris em 2007 e em 2009.
Os seus trabalhos fotográficos de 2011 foram realizados na companhia de Brad Kremer que criou um pequeno documentário sobre o processo criativo de Michael Levin. O documentário é também ele um objeto de rara beleza que merece ser destacado. O objetivo de Brad Kremer não era apenas documentar o trabalho de Michael Levin, mas ir mais longe que isso, ilustrar o processo e criar uma visão em sincronia com a fotografia. Nas suas palavras,
I wanted to document Michael at work, in Japan, in a way that hasn't really been explored with photographers. I told Michael of my idea to make an artistic representation of his experiences in the Land of the Rising Sun - to show him in his working environment in a way that complimented his work. Not to explain it with words, but to feel it through the flow of the film. I wanted to show the process, the journey, the adventure in a way that would give the viewer and emotional connection to Michael and his photography.




KI: Michael Levin (2011) de Brad Kremer

As narrativas “perdidas”

Tenho andado a ruminar sobre um tópico relativo ao design de narrativa, algo do tipo, teorias do objecto último, ou das narrativas perdidas, a propósito das narrativas da série Lost e do último livro de Dan Brown, The Lost Symbol (2010). Nesta teorização o objecto último aparece ao espetador definido como algo de totalmente desconhecido, intangível e inatingível.


Assim podemos verificar a sua ocorrência em narrativas que começam por gerar expectativas demasiado elevadas e transportam o espetador por um caminho sem fim, em que repetidamente somos lembrados de que existe algo no final, mas que por ora está reservado o seu acesso. Uma espécie de busca pelo ouro no final do arco-íris, em que nada mais existe para além do ouro. Ou seja quando uma narrativa propõe ao seu leitor que algo de infinitamente poderoso, infinitamente mau, ou infinitamente bom pode estar à nossa espera no final da obra comete-se um erro grave.


É isto que acontece com Lost que por trabalhar sobre um fechamento demasiado óbvio, a saída de uma ilha, se obriga a elevar a fasquia a um nível altíssimo, apresentando a ilha como imbuída de forças desconhecidas e não naturais, propondo assim um caminho em crescendo para algo que não poderá entregar ao espetador, se se quiser manter credível não evocando o sobre-natural. O mesmo vai acontecer com The Lost Symbol, no qual Dan Brown depois de uma narrativa em que oferecia a resposta para o Santo Graal (O Código DaVinci, 2003) se vê obrigado a elevar a oferta para um patamar totalmente inaudito. Assim cria a ideia de um símbolo maçónico perdido, um símbolo com um poder magnificente, capaz das coisas mais grandiosas.
Em consequência destas escolhas dos autores de ambas as obras, geram-se expectativas altíssimas em função de um anunciado final explicativo de todo um processo que se prolonga por dias de leitura ou visualização. No seio deste modelo existem duas questões que devem fazer refletir quem escreve:

1º - O fechamento não é Tudo
A narrativa deve ser capaz de proporcionar uma experiência que é um processo no tempo que nos ajuda a construir uma fábula daquilo que se está a passar. Para isso precisa de se auto-sustentar sem recurso constante ao anúncio da explicação última. Quando o fechamento é quem suporta toda a expectativa, funcionando como a cenoura na ponta do cordel, acaba por no final ser insuficiente para matar toda a fome de explicações gerada no leitor.

2º Quando o fechamento é Tudo
O não desvelar informações mínimas que permitam compreender o que está para ser anunciado no final implica uma construção narrativa conceptualmente poderosa mas de complexa gestão. A retenção de informação sobre o que está no final à nossa espera, gera um mundo de possibilidades na cabeça do espetador. Este processo para funcionar é normalmente respondido com um final em aberto, capaz de alimentar a imaginação do espetador.  O problema é que este tipo de estrutura narrativa está normalmente centrada sobre questões do foro intímo humano, onde a complexidade humana é capaz de servir qualquer significado. Ora nestes dois exemplos praticamente não temos conflitos internos, o que temos são meras ações externas, como a busca de objeto ou a descoberta de uma lógica para um local.

Isto explica a minha decepção com The Lost Symbol e explica também porque nunca tive grande interesse em seguir Lost. Desde o primeiro episódio que sabendo que a narrativa teria de ser estendida estruturalmente que não quis seguir algo que tinha um fechamento inevitável. Claramente que temos de dar a mão à palmatória e aceitar que a mestria dos guionistas de Lost é do mais alto nível, ser capaz de sustentar seis seasons é brutal. Uma narrativa morta à nascença vai abrir-se em múltiplas dimensões que vão girar em vários patamares ao longo de um eixo que une toda a série e sobre esse eixo manter o interesse do espectador até ao final, impressiona.

junho 18, 2011

Fotografia: Expressão ou Manipulação

Ao longo da vida da fotografia e dado o seu poder de conferir caráter de realidade ao que se mostra, esta sempre foi alvo de trabalhos de manipulação, no sentido de tornar o real, tão real quanto a imaginação de quem se expressa. No fundo falamos de fazer uso de um meio, neste caso a fotografia, para que alguém comunique uma determinada ideia.

Imagem 1 [fonte]

Nunca falamos de manipulação de texto, ou seja não dizemos que Saramago manipula as letras das palavras para dizer o que diz. No entanto dizemos que um criativo publicitário ou um fotojornalista, manipula imagens. Recriminamos socialmente ao ponto de descredibilizar quem "manipula" imagens, seja uma companhia de cremes que usa um modelo manipulado [ver Imagem 2], seja um fotojornalista que altera uma imagem de modo a corresponder mais concretamente ao que viu e ao que precisa de expressar [ver Imagem 1]. Criou-se mesmo uma ciência, digital forensics, para descobrir os chamados embustes, na qual o trabalho do grupo de investigação de Hany Farid é uma autoridade.

 Imagem 2 [fonte]

Porquê esta diferença de pesos em dois media que nada mais fazem do que expressar ideias? Simplesmente porque partimos do pressuposto errado de que uma fotografia vale tanto como a própria realidade. O artista de Photoshop brasileiro, Waldemar Júnior (aka Mandrak), cita na sua página, uma frase de Fernando Pessoa (aka Alberto Caeiro),
"O Universo não é ideia minha.
A minha idéia de Universo é que é ideia minha."

A questão é que a fotografia, à semelhança do texto, é uma construção. Uma construção que acontece numa sequência tripartida: pré-produção, produção e pós-produção. No momento de pré-produção falamos do modo como o fotógrafo, o emissor e artista, se posiciona face ao objeto. Falamos ainda de tudo o que é colocado em evidência na frente da objetiva, desde o contacto direto com as pessoas ou objetos da imagem que pode passar pelo pedido de execução de ações ou de expressões, a chamada encenação, ao contacto indireto da escolha das condições climatéricas ou do ambiente dentro de estúdio. Já no segundo momento, a produção ou a criação da impressão de imagem propriamente dita, temos de levar em conta a máquina utilizada, o tipo de sensor, as objetivas, os filtros, os flashs tudo o que é utilizado pelo dispositivo de produção da impressão.
No meio de tudo isto, o terceiro momento, o da pós-produção, parece ser o único do qual se fala quando se quer recriminar a fotografia. Este momento corresponde ao momento no qual a imagem é otimizada, no qual aquilo que não correu bem nas duas etapas anteriores se pode ainda corrigir. Ou mesmo, sendo um terceiro ato, pode desde o início ter sido planeado em pré-produção, que se executaria aquela componente da imagem apenas no momento de pós-produção.

Imagem 3 [fonte]

As duas técnicas mais usadas desde o aparecimento da fotografia, têm sido o simples adicionar e o retirar, o exemplo mais antigo conhecido, data de 1860 e diz respeito a uma imagem de Abraham Lincoln [ver Imagem 3], diga-se que dele parece que apenas a cabeça resta. Mais recentemente estas técnicas evoluíram e passaram a definir-se por processo de retocar. Este processo pode incluir aumento/diminuição de elementos específicos na imagem, assim como o seu tratamento em termos de brilho, luz, sombra, mas muito mais. O site Worth 1000, em homenagem ao ditado, de que uma imagem vale mais do que mil palavras, é o local aonde podemos ir para averiguar o estado de complexidade destas técnicas. O Worth1000 possui várias categorias de concursos em que os utilizadores são chamados a produzir as melhores manipulações fazendo uso das técnicas mais elaboradas e complexas que possamos imaginar.

 I Wont Zip It (2010) trabalho de Bruno Sousa vencedor do concurso Zip It 8 do Worth1000

Em termos de recriminação social face à manipulação fotográfica, os temas mais quentes têm sido: o Corpo-humano, a História, a Política, a Discriminação, a Informação, o Tabaco. Cada uma à sua maneira tem provocado reações fortes de associações, sociedades, políticos, da população.

Imagem 4 [fonte]

A primeira reação às imagens de Kim Kardashian [Imagem 4] acima é de ira para com a moda, as revistas da moda, e principalmente para com a manipulação realizada sobre as imagens. Nessa manipulação podemos identificar algumas áreas fortemente retocadas - a celulite, as ancas, os braços, a barriga, a roupa, o topo da cabeça, e o pescoço. Podemos depois ler o que a próprio modelo tem a dizer sobre o assunto que fez correr muita conversa online. Mas mais importante do que saber o que ela tem a dizer, são as imagens que ela nos revela de toda a sessão, através das quais podemos procurar perceber melhor como se chega até àquela fotografia final. Perceber que a manipulação digital que podemos identificar nestas duas imagens, são apenas a ponta do icebergue. Que toda a imagem é uma construção visual, que não estamos a ver a pessoa real, estamos sim a ver uma imagem que é baseada naquela pessoa.
Mas sobre a componente de manipulação digital podemos dizer que em termos de evolução da arte de pós-produção fotográfica o tema do corpo-humano é dos que mais tem feito evoluir as ferramentas (ex. Photoshop) e as técnicas de manipulação. Uma rápida pesquisa pelo YouTube permite-nos encontrar tutoriais de excelência sobre o retoque do corpo-humano, desde a Dieta Virtual, ao Aumento de Peito, passando pelos Olhos que Brilham e mesmo técnicas Regresso ao Normal, uma espécie de reverse engineering.
Mas se dúvidas ainda houver, quanto ao papel meramente expressivo, em que a realidade que conta é aquela que se fabrica à saída da pós-produção, vejam-se os seguintes dois exemplos que opõem o mesmo tema, de um lado a discriminação negativa [imagem 6], do outro a discriminação positiva [imagem 7]. Na Imagem 6, a Microsoft precisou de realizar a localização de conteúdos do seu site existente nos EUA para a Polónia. Já na imagem 7 a revista Fun canadiana precisava de evidenciar a sua política editorial de diversidade étnica.

 Imagem 6 [fonte]

Imagem 7 [fonte]

Sei bem que este é um assunto delicado e complexo em demasia para tratar apenas num pequeno texto. Apesar de tudo o meu maior interesse na produção deste texto foi tentar perceber até onde podemos ir na tentativa de compreender as diferenças de perceção da comunicação fazendo uso de diferentes media. Em certa medida perceber melhor a essência do fenómeno da manipulação fotográfica. Ou seja não me interessa aqui defender ou criticar a arte da manipulação, apenas e só discuti-la abertamente para a tentar compreender melhor.

Go your own Road (2008) de Erik Johansson

Em termos de discussão mais filosófica sobre os efeitos e impactos deste universo imagético recomendo vivamente a leitura de Simulacres et Simulation (1981) de Jean Baudrillard e "La Société du spectacle" (1967) de Guy Débord.

junho 17, 2011

"The Element" de Ken Robinson

Conheci o trabalho de Ken Robinson através da sua primeira Ted Talk, "Do schools kill creativity?" (2006) que deixou uma impressão profunda só superada pela talk depois ilustrada pela RSA "Changing Education Paradigms" (2010) que vai neste momento com cerca de 4,5 milhões de visualizações. Assistir a estas duas palestras e depois ler, The Element: How Finding Your Passion Changes Everything (2009), é do mais enriquecedor que podemos fazer enquanto tentativa de auto-compreensão.


Deste modo atrevo-me a dizer que The Element é um livro obrigatório para qualquer pessoa, com especial enfâse para os adolescentes que se interrogam sobre quem são, o que fazem aqui, o que devem escolher para o seu futuro. Mas deve ser um livro de cabeceira para todos os professores, os que lidam com estes adolescentes no dia-à-dia, e mesmo os que lidam com eles já na fase adulta (Universidade). E em último lugar, todos os pais, porque saber ajudar não é inato. The Element põe o dedo sobre a questão essencial do ser humano em sociedade, que é, "porque faço aquilo que faço?" Saber a resposta a isto é meio caminho andado para que a vida se possa tornar mais fácil, e simples.


Ken Robinson conta-nos muitas histórias de gente que atingiu o elemento e que à partida nada parecia evidenciar que a isso estariam destinadas, pessoas por vezes incompreendidas pela família, pela escola - Gillian Lynne, Albert Einstein, Matt Groening, Paul McCartney, Nadia Comaneci, Richard Feynman, Ridley Scott, Paulo Coelho, Vidal Sassoon, Richard Branson - mas também muitas pessoas que simplesmente tomaram determinadas decisões na vida e que com isso conseguiram alcançar o desejado elemento. São pessoas que,
"have identified the sweet spot for themselves. They have discovered their Element — the place where the things you love to do and the things that you are good at come together. The Element is a different way of defining our potential. It manifests itself differently in every person, but the components of the Element are universal."
Podemos pensar, pois mas estes são os poucos nascidos para o sucesso, Robinson diz-nos
"Being in our Element depends on finding our own distinctive talents and passions. Why haven’t most people found this? One of the most important reasons is that most people have a very limited conception of their own natural capacities."
O livro pretende dar uma ajuda nesta busca, mas claramente que não é um livro de auto-ajuda, com os passos ou receitas para chegar lá, no essencial Robinson não deixa de dizer,
"Being in your Element often means being connected with other people who share the same passions and have a common sense of commitment. In practice, this means actively seeking opportunities to explore your aptitude in different fields."

Para demonstrar que estar envolvido e engajado é algo sem idade, Robinson fala-nos de uma experiência desenvolvida nos EUA entre uma escola primária e um retiro de idosos. Não resisto a transcrever um grande bocado para aqui, porque foi um dos momentos no livro em que quase me vieram as lágrimas aos olhos. O programa recebeu o nome de Book Buddies e consistia em,
“pair a member of the retirement home with one of the children. The adults listen to the children read, and they read to them... The program has had some remarkable results.
One is that the majority of the children at the Grace Living Center are outperforming other children in the district on the state’s standardized reading tests...
As they sit with their book buddies, the kids have rich conversations with the adults about a wide variety of subjects, and especially about the elders’ memories of their childhoods growing up in Oklahoma. The children ask things about how big iPods were when the adults were growing up, and the adults explain that their lives really weren’t like the lives that kids have now. This leads to stories about how they lived and played seventy, eighty, or even ninety years ago. The children are getting a wonderfully textured social history of their home-towns from people who have seen the town evolve over the decades...
Something else has been going on at the Grace Living Center, though: medication levels there are plummeting. Many of the residents on the program have stopped or cut back on their drugs.
Why is this happening? Because the adult participants in the program have come back to life. Instead of whiling away their days waiting for the inevitable, they have a reason to get up in the morning and a renewed excitement about what the day might bring. Because they are reconnecting with their creative energies, they are literally living longer.
There’s something else the children learn. Every now and then, the teachers have to tell them that one of their book buddies won’t be coming any more; that this person has passed. So the children come to appreciate at a tender age that life has its rhythms and cycles, and that even the people they become close to are part of that cycle.
In a way, the Grace Living Center has restored an ancient, traditional relationship between the generations. The very young and the very old have always had an almost mystical connection.”
Robinson fala-nos muito da educação e do sistema educativo e refere que o futuro da educação não está na estandardização mas sim na personalização. A educação não pode ser vista como um processo ISO de atribuição de qualidade, mas tem antes de ser vista como um processo personalizado, em que cada ser tem um potencial único que precisa de ser descoberto.

Como nota final é importante colocar este livro ao lado de Outliers de Malcolm Gladwell, e perceber quão diferentes são os discursos. De um lado a defesa do trabalho duro e penoso, Gladwell usa os exemplos do trabalho duro nos campos de arroz da Ásia, algo ainda recentemente também defendido por uma professora de Yale num polémico livro lançado nos EUA. A educação rígida, sem espaço para brincar, jogar, ou simplesmente ser. Compare-se isto com o discurso de Ken Robinson, são dois opostos. As pessoas funcionam quando a paixão é tremenda, quando a dedicação é total, quando adoram, quando se apaixonam, quando aquilo que fazem é aquilo que querem fazer em todas as horas do seu dia.


Nota: o livro está já publicado em Portugal pela Porto Editora. 

junho 15, 2011

The Tiny Bang Story (2011)


"The Tiny Bang Story" é um jogo indie criado pela Colibri Games, um estúdio russo composto por duas pessoas, Dmitry Sannikov (programador) e Eduard Arutyunyan (artista). The Tiny Bang Story é o seu primeiro jogo de aventura para PC/Mac e que está a caminho do iPad.


Posso dizer que o jogo emana delicadeza, apresenta um ar de perfeição, de quem foi muito acarinhado até chegar ao público. Os puzzles e os objetos escondidos são apresentados sob um mundo desenhado à mão, acompanhado por uma subtil e calma música de fundo construindo toda uma atmosfera de grande beleza. Tudo o que tocamos e reage, movimenta-se de um modo suave, delicado e belo recompensando o nosso investimento, momento a momento.


O jogo e os seus puzzles retém facilmente a nossa atenção, e o facto de não existir limite de tempo, cria uma sensação de liberdade exploratória muito na onda de Myst (1993). Passear pelo jogo é uma verdadeira delícia.


Existe um outro jogo recente que foi capaz de criar este mesmo conjunto de sensações, e é interessante que a dupla o refira como a sua principal fonte de inspiração. Falo de Machinarium (2010) um outro jogo indie, também belíssimo, de aventura point-and-click criado pela Amanita Design da República Checa. Para além de Machinarium os Colibri Games referem ainda no campo visual uma forte influência da pintura clássica de paisagem Holandesa.

View of Haarlem with Bleaching Grounds (1665) de  Jacob van Ruisdael

A jogar, recomendado vivamente, embora se termine rapidamente e nos faça sentir aquele vazio próprio do brinquedo que nos foi retirado.