abril 12, 2011

o belo e a matemática

Depois de uma pequena conversa via e-mail com o João Martinho a propósito do trabalho gráfico em Tron: Legacy (2010), resolvi deixar aqui um post sobre as questões do belo e da matemática. Porque não é de agora que se discute a questão da matemática como arte, é algo que desde Pitágoras está em cima da mesa. De uma forma algo mais ligada às lógicas musicais, os avanços na computação gráfica mostram que o mundo é um lugar de acaso, mas é também um lugar feito de lógica, mas mais do que isso é um lugar feito de formas que quando combinadas segundo um determinado padrão de gosto subjetivo, ainda que definido por matemática, pode originar-se o belo.
Mas o que é o belo?
“Não pode haver nenhuma regra de gosto objectiva, que determine por meio de conceitos o que seja belo. Pois todo juízo proveniente desta fonte é estético; isto é, o sentimento do sujeito e não o conceito de um objecto é o seu fundamento determinante. Procurar um princípio de gosto, que fornecesse o critério universal do belo através de conceitos determinados, é um esforço infrutífero, porque o que é procurado é impossível e em si mesmo contraditório.” [1]
Assim faz todo o sentido voltar a ouvir Bertrand Russel descrever até onde a Matemática nos pode levar,
"Mathematics, rightly viewed, possesses not only truth, but supreme beauty — a beauty cold and austere, like that of sculpture, without appeal to any part of our weaker nature, without the gorgeous trappings of painting or music, yet sublimely pure, and capable of a stern perfection such as only the greatest art can show. The true spirit of delight, the exaltation, the sense of being more than Man, which is the touchstone of the highest excellence, is to be found in mathematics as surely as poetry." [2]
Mas até Pessoa já nos tinha falado sobre isto,
"O binómio de Newton é tão belo como a Vénus de Milo.
O que há é pouca gente para dar por isso." [3]

O que vemos nestas imagens criadas por Joshua T. Nimoy não é mais do que a matemática ao serviço da criatividade das formas. Nimoy concluiu que usar o Cinema 4d e o After Effects não era suficiente para produzir a beleza necessária a um filme como Tron: Legacy (2010). Por isso decidiu criar novos programas fazendo uso do Processing, do Openframeworks do wxWidgets e claro de muito C++. Mais explicações sobre este processo e imagens finais podem agora ser vistas no site do autor.




[1] I. Kant: Crítica da Faculdade do Juízo (1790, trad. de António Marques e Valério Rohden, Lisboa, s.d.);
[2] Russell, Bertrand (1919). "The Study of Mathematics". Mysticism and Logic: And Other Essays. Longman. p. 60.
[3] Poesias de Álvaro de Campos. Fernando Pessoa. Lisboa: Ática, 1944 (imp. 1993).
- 110.

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