"Dot's Home" (2021) é um belíssimo videojogo narrativo, criado por uma equipa de criativos multimédia em conjunto com uma ONG focada na resolução de problemas sociais, nomeadamente de habitação e discriminação racial nos EUA. O jogo foi criado no âmbito de uma campanha transmedia, a Rise-Home Stories, que produziu para além deste jogo, mais quatro artefactos digitais narrativos: "Alejandria Fights Back!", um livro para crianças, "But Next Time" um podcast, "MINE", uma web série animada e "Steal-Estate", uma experiência online interativa. O jogo foi apresentado no final de 2021 e está agora disponível gratuitamente na App Store, Google Play e Steam.
"Dot's Home" é um jogo curto, uma hora, mas com uma ilustração perfeita e toda uma jogabildade assente no contar de histórias. Ao longo do jogo ficamos a conhecer os avós de Dot, como vieram a habitar a casa em que o jogo se desenrola, cabendo-nos a nós, no lugar da neta, tomar decisões que podem ditar um de três finais possíveis sobre o destino da casa de família. O modo empático como a história foi desenhada leva-nos a compreender os efeitos da gentrificação e discriminação racial, procurando apelar à criação e manutenção de raízes comunitárias que tornem as sociedades mais resilientes.
A narrativa esteve a cargo de um designer de narrativa Evan Narcisse que tem trabalhado em consultoria de design de histórias na Marvel, desde comics do Pantera Negra, a um DLC também sobre o Pantera para o Marvel Avengers, incluindo uma participação no design de diálogos do film "Marvel's Spider-Man: Miles Morales" (2020). Apesar destes créditos, a equipa, maioritariamente negra, realizou um trabalho completamente independente, sendo constituída por cerca de 20 pessoas (10 na produção e 10 nas relações e comunicação), num investimento que levou dois anos.
No domínio da narrativa interativa, Narcisse aponta as vantagens do meio: “When you’re a game designer, you have to think about ‘If I allow the player to do action A, what are consequences B, C, D, E, and F?’ Because of that core design, you can explore systems of power, policy and decision making in a game like this. We’re building a system to talk about a system.” Mas a responsável da ONG, Christiana Rosales, não deixa de apontar o problema clássico destas narrativas, sem contudo deixar de o ligar à dura realidade: “As a player, you might feel like you have the choice to change the course of the future for this family, but ultimately, you don’t. It’s very much a rigged game. You get what you get.”. Talvez por isso mesmo, quando terminamos, numa das três possibilidades, o jogo abre-se permitindo que exploremos de imediatos as restantes alternativas.
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