"Kalifat" (2020) é uma série Netflix sueca de ficção sobre o Estado Islâmico, ou Daesh, em particular sobre o modo como as redes de radicalização atuam na Europa, conseguindo atrair e convencer jovens, entre os 13 e os 17 anos, a embarcar para a Síria. A série foi criada por jornalistas com base em fontes escritas variadas, mas completamente revista por especialistas em terrorismo. O resultado é uma obra de grande intensidade dramática, pelo modo como expõe as pressões e jogos mentais a que as pessoas podem ser sujeitas e como tal afeta não só as suas competências racionais, mas em particular as relações familiares e parentais. É não menos impressionante o contraste entre a sociedade sueca e a do estado islâmico, e como tudo aquilo que parece impossível se pode tornar na única coisa que importa, tudo em nome de um ideal de fantasia.
A série padece de pequenos clichés narrativos, em particular coincidências, mas nada que nos afaste porque os atores oferecem enorme excelência aos papéis, parecendo quase impossível aceitar que são os mesmos quando os vemos fora da série, tanta a credibilidade imprimida. Tudo é suportado por um guião belíssimo, que por vezes nos dá o expectável, mas outras vezes não abre mão e nos diz que estamos mesmo perante uma série europeia, sem direito a happy-endings.
A série vive muito da tensão que consegue gerar, e essa depende não só do guião, mas da sua componente técnica bem integrada. Além dos atores, o score funciona enquanto tal, sem floreados, ilustrando a ação, mas nunca roubando a atenção para si, contribuindo sempre para a expressividade completa da série. Interessante como a compositora, Sophia Errson, nem sequer deu nomes às músicas, mantendo-as indiferenciadas, com número apenas. Do mesmo modo, o trabalho de composição visual e fotografia nunca marca pelo deslumbre, mas antes pelo modo como trabalha para a comunicação efetiva, garantindo sempre um reconhecimento imediato do local onde estamos, numa série em que estamos permanentemente a saltar entre a Suécia e a Síria.
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