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A Decisão” (2022), de Karine Tuil, apresenta uma primeira parte intensa em diálogos e introspeções que poderia facilmente ser transformada numa série de televisão de trocas acesas entre juízes e advogados. A segunda parte diverge, as discussões hipotéticas e potenciais passam aos atos, e tudo se transforma numa larga tragédia grega que nos agarra e impede de parar de virar as páginas. A autora trabalha muito habilmente a trama para nos enredar e suspender, mas não só, trabalha ainda melhor o questionamento interior das personagens, colocando-nos a assistir a tudo o que acontece na primeira fila desse espetáculo interior. Cria uma experiência que se consome sofregamente, com medo de acabar depressa demais, porque não queremos abandonar nenhuma daquelas personagens. A cereja colocada sobre tudo isto não enaltece, antes se desfaz numa subtil perceção de artificialismo, escolhas autorais certeiras para produzir emoção, ainda que possamos sem problema retirar a cereja para o lado, ou seja, suspender a descrença e deliciar com tudo o resto que a autora nos entregou.
O assunto de fundo é a vida de uma juíza que pertence à principal equipa francesa de instrução dos processos antiterroristas, situado temporalmente entre o ataque ao jornal Charlie Hebdo (
12 mortos) e à sala de espétaculos do Bataclan (
90 mortos). Somos colocados dentro da cabeça dessa juíza que todos os dias tem de tomar decisões quanto a manter presos ou soltar potenciais terroristas.