Em "Coração tão Branco" descobri uma alma gémea de Proust. Não só pela beleza da escrita, mas também pelo modo como discorre sobre a realidade, nos a dá a ver, e nos enreda com textos que vão criando imaginários completos dentro de nós.
Ainda assim, a meio do livro comecei a sentir algum cansaço, nomeadamente porque quanto mais avançava mais me parecia impossível que Marías nos conseguisse surpreender no desenlace, mas tenho de dar a mão à palmatória e aceitar que o conseguiu.
Ao chegar ao final, ao desvelar da razão que levou Teresa, acabada de regressar de lua-de-mel, na casa de banho da casa dos pais, a desabotoar a blusa e a dar um um tiro no coração, fiquei estacado, boquiaberto, refletindo... viajei até essa casa de banho que abre o livro, pairei por todos os momentos altos e tirei o chapéu a Javier Marías.